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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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RETRATOS DO BRASIL

Apesar de a expectativa de vida no país ser de 68,6 anos, maioria passa só 54 anos sem ter algum tipo de incapacidade

Brasileiro vive 1/5 de sua vida sem qualidade

ANTÔNIO GOIS
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Mais de um quinto do tempo de vida do brasileiro será vivido com menos qualidade, por causa de limitações físicas, funcionais ou doenças crônicas. É o que mostram novos dados do Censo 2000 divulgados ontem pelo IBGE.
Apesar de ter uma expectativa média ao nascer de chegar aos 68,6 anos de idade, a esperança de vida com qualidade do brasileiro é de 54 anos. Isso significa que, em 21,3% de sua vida, irá conviver com alguma incapacidade.
Em 1991, a esperança de vida do brasileiro era de 66 anos. Hoje, apesar de estar vivendo mais, ele não necessariamente vive melhor quando chega perto dos 60 anos. Como foi a primeira vez que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fez o cálculo da expectativa de vida livre de incapacidade, não é possível comparar o dado com anos anteriores.
O caso da aposentada Arlete Bitar, 72, exemplifica o indicador divulgado pelo IBGE. Ela foi vítima de um tumor na medula e há dois anos precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Antes, era recepcionista de um hotel de luxo em Copacabana (zona sul). Também trabalhava em congressos e como costureira.
"Agora, só faço trabalhos manuais em casa. Mas não me deixo abalar, não. Na época em que tudo aconteceu, fiquei meio para baixo, mas já estou aprendendo a lidar com isso, mesmo a vida tendo ficado um pouco mais chata."
Em países desenvolvidos, a proporção do tempo vivido com alguma incapacidade é menor do que no Brasil. No Japão, por exemplo, a expectativa de vida é de 79 anos, sendo que apenas 2,8% desse tempo deverá ser vivido com alguma incapacidade. Na Polônia, essa proporção é de 12,3%, numa população com expectativa de vida de 71,4 anos.
A única exceção entre os países mais ricos são os Estados Unidos. Lá, as mulheres, apesar de terem alta expectativa de vida (78,2 anos), têm a esperança de viver sem incapacidades até os 57,9 anos, ou seja, 26% do tempo de vida deve ser vivido com alguma limitação. Entre os homens americanos, essa proporção é de 27%.
Para a demógrafa Ana Amélia Camarano, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), apesar de estarem abaixo dos índices de alguns países desenvolvidos, os brasileiros estão acima da expectativa de vida sem incapacidades nos países mais pobres.
Para Camarano, o resultado tem mais a ver com os hábitos de vida de cada um do que com políticas públicas. Não fumar, não beber, comer bem e praticar exercícios são os principais deles.
"A melhoria de taxas como a de mortalidade infantil e o avanço da tecnologia médica, que ajuda na prevenção e no tratamento de doenças, também são responsáveis por esses resultados."
Em todos os países, incluindo o Brasil, a expectativa de vida das mulheres é maior do que a dos homens. No caso brasileiro, a proporção de tempo vivido pela mulher com incapacidade, no entanto, também é maior. "Essa porcentagem é maior porque elas vivem mais tempo do que os homens", explica a pesquisadora do IBGE Alicia Bercovich.
O advogado aposentado Ruy Lima, 77, vive com qualidade. Mesmo após ter colocado uma ponte de safena, caminha todos os dias na praia antes de se encontrar com os amigos para uma água de coco "e duas latinhas de cerveja, porque isso também faz bem".


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