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RETRATOS DO BRASIL
Apesar de a expectativa de vida no país ser de 68,6 anos, maioria passa só 54 anos sem ter algum tipo de incapacidade
Brasileiro vive 1/5 de sua vida sem qualidade
ANTÔNIO GOIS
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Mais de um quinto do tempo de
vida do brasileiro será vivido com
menos qualidade, por causa de limitações físicas, funcionais ou
doenças crônicas. É o que mostram novos dados do Censo 2000
divulgados ontem pelo IBGE.
Apesar de ter uma expectativa
média ao nascer de chegar aos
68,6 anos de idade, a esperança de
vida com qualidade do brasileiro
é de 54 anos. Isso significa que, em
21,3% de sua vida, irá conviver
com alguma incapacidade.
Em 1991, a esperança de vida do
brasileiro era de 66 anos. Hoje,
apesar de estar vivendo mais, ele
não necessariamente vive melhor
quando chega perto dos 60 anos.
Como foi a primeira vez que o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fez o cálculo
da expectativa de vida livre de incapacidade, não é possível comparar o dado com anos anteriores.
O caso da aposentada Arlete Bitar, 72, exemplifica o indicador divulgado pelo IBGE. Ela foi vítima
de um tumor na medula e há dois
anos precisa de uma cadeira de
rodas para se locomover. Antes,
era recepcionista de um hotel de
luxo em Copacabana (zona sul).
Também trabalhava em congressos e como costureira.
"Agora, só faço trabalhos manuais em casa. Mas não me deixo
abalar, não. Na época em que tudo aconteceu, fiquei meio para
baixo, mas já estou aprendendo a
lidar com isso, mesmo a vida tendo ficado um pouco mais chata."
Em países desenvolvidos, a proporção do tempo vivido com alguma incapacidade é menor do
que no Brasil. No Japão, por
exemplo, a expectativa de vida é
de 79 anos, sendo que apenas
2,8% desse tempo deverá ser vivido com alguma incapacidade. Na
Polônia, essa proporção é de
12,3%, numa população com expectativa de vida de 71,4 anos.
A única exceção entre os países
mais ricos são os Estados Unidos.
Lá, as mulheres, apesar de terem
alta expectativa de vida (78,2
anos), têm a esperança de viver
sem incapacidades até os 57,9
anos, ou seja, 26% do tempo de vida deve ser vivido com alguma limitação. Entre os homens americanos, essa proporção é de 27%.
Para a demógrafa Ana Amélia
Camarano, do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
apesar de estarem abaixo dos índices de alguns países desenvolvidos, os brasileiros estão acima da
expectativa de vida sem incapacidades nos países mais pobres.
Para Camarano, o resultado
tem mais a ver com os hábitos de
vida de cada um do que com políticas públicas. Não fumar, não beber, comer bem e praticar exercícios são os principais deles.
"A melhoria de taxas como a de
mortalidade infantil e o avanço da
tecnologia médica, que ajuda na
prevenção e no tratamento de
doenças, também são responsáveis por esses resultados."
Em todos os países, incluindo o
Brasil, a expectativa de vida das
mulheres é maior do que a dos
homens. No caso brasileiro, a
proporção de tempo vivido pela
mulher com incapacidade, no entanto, também é maior. "Essa
porcentagem é maior porque elas
vivem mais tempo do que os homens", explica a pesquisadora do
IBGE Alicia Bercovich.
O advogado aposentado Ruy Lima, 77, vive com qualidade. Mesmo após ter colocado uma ponte
de safena, caminha todos os dias
na praia antes de se encontrar
com os amigos para uma água de
coco "e duas latinhas de cerveja,
porque isso também faz bem".
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