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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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MEDICAMENTOS

A Anvisa suspendeu ontem o uso e a comercialização do remédio produzido pelo laboratório Ophthalmos

Outro produto é suspeito de causar cegueira

DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA CAMPINAS

Um terceiro produto oftalmológico a base de metilcelulose é suspeito de causar inflamação intra-ocular e perda de visão em pacientes. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou ontem a suspensão do uso e comercialização em todo o país da metilcelulose produzida pelo laboratório Ophthalmos, de São Paulo. A empresa tem registro na agência -ou seja, é regular.
Segundo a Anvisa, um paciente operado de catarata na cidade de Irati (PR) apresentou infecção após o uso do produto, que facilita a colocação da lente na cirurgia. A Folha não conseguiu localizar responsáveis pela empresa ontem em razão do horário em que a suspensão foi divulgada pela Anvisa, às 19h30.
O Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo informou que se tratavam de duas notificações de cegueira no Paraná.
Outros dois produtos semelhantes, dos laboratórios OftVision, de São Paulo, e do clandestino Lens Surgical, de Campinas (SP), também foram relacionados a casos de cegueira nos últimos 15 dias. Ontem, a Anvisa informou que investiga 27 casos de infecção em pacientes de hospitais do Rio. Os técnicos encontraram em todas as unidades de saúde falhas no controle de estoque dos medicamentos, o que dificulta apontar qual droga foi usada nos pacientes afetados.
A vigilância sanitária de São Paulo trabalha com a hipótese de ligação entre as ocorrências. Recebeu ontem da multinacional Baxter, que fornecia água estéril ao OftVision, amostras para análise laboratorial.

Rede clandestina
A Procuradoria da República em Campinas investiga a existência de uma rede de laboratórios clandestinos na região que fabricava e comercializava medicamentos de uso oftalmológico sem registro. Os laboratórios podem ter ligação com a Lens Surgical.
Duas ações conjuntas, realizadas ontem e anteontem, pela Polícia Federal, Vigilância Sanitária e Procuradoria, resultaram na apreensão de 16 tipos de medicamentos, entre eles a metilcelulose 2%, e documentos que indicavam a venda desses produtos para pelo menos oito Estados, além de São Paulo.
Segundo a Procuradoria, os documentos traziam indicações de venda dos produtos irregulares para o Amazonas, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A Anvisa havia detectado que o Lens Surgical distribuiu a metilcelulose para outros onze Estados.
Nenhuma pessoa foi presa durante a ação. Os locais também não foram lacrados, pois já estavam fechados.
A ligação entre o Lens Surgical e pelo menos outros três laboratórios de Campinas e Hortolândia -M.C. Mura, For Eyes Oftalmologia e Oftálmica Campinas- se dá, em princípio, pelo tipo de medicamento produzido e o modo como essas empresas atuavam, sem licença. A Folha procurou os responsáveis pelos laboratórios nos endereços indicados, mas não conseguiu contato. "Nós [procuradores] também instauramos hoje [ontem] um inquérito civil público para apurar as responsabilidades da Anvisa no processo de investigação", disse a procuradora Letícia Pohl. Os procuradores conseguiram um mandado de busca e apreensão em cerca de 20 endereços na região. Apenas o M.C. Mura estava aberto, como farmácia de manipulação.
(FABIANE LEITE E ANA PAULA MARGARIDO)


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