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CONVÊNIOS
Após ameaçar empresas de intervenção e tentar acordo, ministro e ANS propõem ação judicial para limitar aumento
Governo recorre à Justiça contra seguradoras
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de uma tentativa de negociação frustrada com as empresas, o governo e a ANS (Agência
Nacional de Saúde Suplementar)
entraram ontem na Justiça Federal com uma ação para que três
operadoras de seguros de saúde
limitem em 11,75% o reajuste
anual dos contratos assinados antes de 2 de janeiro de 1999.
O percentual é o mesmo determinado pela ANS para ser aplicado a planos assinados após essa
data, quando começou a vigorar a
lei 9.656/98, que regula o setor.
Já existem no Brasil, segundo o
governo, pelo menos oito decisões liminares (provisórias) que
beneficiam usuários de planos de
saúde de dez Estados.
A União quer garantir que esse
limite seja estendido a consumidores de todo o país com planos
antigos de três empresas -Itauseg Saúde, Sul América Seguro
Saúde e Bradesco Seguros.
No entendimento das entidades
de defesa do consumidor, no entanto, as liminares dos Estados já
tinham abrangência nacional.
Caso a Justiça conceda a liminar, o Ministério da Saúde estima
que serão beneficiados cerca de
500 mil consumidores. No total
são 22,3 milhões de usuários de
planos antigos, sendo 8,2 milhões
em contratos individuais e familiares e 14,1 milhões em coletivos.
Se o governo obtiver decisão favorável, as empresas podem recorrer, levando o caso até ao STJ
(Superior Tribunal de Justiça).
Recentemente, o tribunal reviu
uma decisão liminar concedida
pelo próprio STJ sobre o reajuste
das tarifas de telefonia: mudou o
índice utilizado no cálculo do reajuste de 2003 de telefonia, utilizando o previsto em contrato, o
que aumentou o percentual.
Pelo menos quatro reuniões foram realizadas com as operadoras, em Brasília, com a presença
do alto escalão da Fenaseg (entidade que reúne seguradoras de
setor de saúde), da ANS e da SDE
(Secretaria de Direito Econômico), do Ministério da Justiça.
No último encontro, a negociação ainda estava em aberto. Para
setores do governo, o acordo deve
ser o objetivo por ser a única solução definitiva -as liminares podem cair a qualquer momento.
O ministro da Saúde, Humberto
Costa, que teve a imagem abalada
por problemas em sua pasta
-entre elas a Operação Vampiro, sobre suposto esquema de corrupção no órgão-, tem se empenhado em mostrar ação contra os
aumentos, mesmo com ameaças
questionáveis do ponto de vista
técnico.
Costa já falou em intervenção e
até em fechamento das empresas,
mas isso só é possível diante de
grave desequilíbrio econômico
-não é o caso das envolvidas.
A Fenaseg informou que, se for
notificada de medidas cautelares
sobre os reajustes dos planos antigos, irá cumpri-las e apresentará
defesa em juízo.
Argumentos
Desde o início deste mês, os
usuários de planos antigos têm recebido boletos de cobrança com
até 82% de reajuste anual.
As operadoras estão utilizando
uma liminar concedida pelo STF
(Supremo Tribunal Federal), em
agosto de 2003, para aplicar os aumentos de acordo com o previsto
em cada contrato. Alegam, entre
outros pontos, que houve reajustes altos de custos hospitalares.
Na ação protocolada ontem pela Advocacia Geral da União, o
governo argumenta que as operadoras não estão limitando o aumento ao período 2003-2004, mas
retroagindo cálculos até a 1994.
A ANS começou a autuar as empresas que estariam aplicando
reajustes abusivos.
De acordo com o ministro, as
ações administrativas da ANS
(que levam à autuação) podem
demorar, por isso o governo decidiu entrar com a ação.
"Estamos entrando com a ação
para preservar não só o direito
dos usuários, mas para garantir o
poder de regulação da ANS", afirmou Costa.
Para o diretor-presidente da
ANS, Fausto Pereira dos Santos, o
reajuste aplicado pelas empresas
tem sido "desmedido e ilegal".
Santos disse que, mesmo após a
decisão da Justiça, as negociações
com as operadoras vão continuar.
"Continuaremos discutindo o
equilíbrio do sistema."
Segundo o ministro, a solução
para os reajustes dos planos anteriores a 1999 está no processo de
adequação para contratos novos,
suspenso por decisão judicial.
"Já que as empresas lançaram
mão de uma ação no Supremo
para questionar pontos da lei
9.656, nos sentimos na condição
legítima de recorrer à Justiça",
disse Costa, que considera o problema um "clamor nacional".
A Justiça de Minas Gerais concedeu liminar ontem contra reajustes da SulAmérica acima de
11,75%. Os reajustes da Bradesco
Saúde já estavam limitados.
Colaboraram FABIANE LEITE, da Reportagem Local, e a Agência Folha, em Belo
Horizonte
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