São Paulo, terça, 28 de julho de 1998

Próximo Texto | Índice

CÁRCERE
São 1.055 detentas para 600 vagas; 56,5% têm entre 18 e 30 anos e 76% não completaram o ensino fundamental
Governo ignora presas em São Paulo

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

ADRIANA SOUZA SILVA
free-lance para a Folha

As presas do Estado de São Paulo estão enfrentado dois problemas sem perspectiva de solução a curto prazo: a superlotação dos presídios femininos, com previsão incerta de construção de novas unidades, e a situação precária de saúde que enfrentam, que tende a se agravar com a falta de vagas.
No primeiro caso, levantamento deste mês da Secretaria da Administração Penitenciária mostra que 1.055 presas superlotam 75,8% o total de vagas (600) disponíveis nos quatro presídios femininos de regime fechado do Estado.
De acordo com o secretário-adjunto da Administração Penitenciária, Cláudio Tucci, esta situação só pode ser resolvida com a construção de duas novas unidades prisionais femininas, avaliadas, cada uma, em R$ 11 milhões.
No entanto, esse investimento, ao contrário das 21 prisões masculinas que serão entregues até o final do ano no interior do Estado, depende de investimentos não previstos para este ano nessa área. Mesmo assim, caso os recursos fossem liberados, as novas unidades levariam entre 12 e 15 meses para ser entregues.

Pesquisa
Levantamento inédito do Grupo Cidadania nos Presídios, realizado entre maio e julho de 1997 na Casa de Detenção Feminina do Tatuapé (zona sudeste de SP), revela que 50,6% das detentas entrevistadas (246 de um total de mais de 300 presas) consideravam ruim o atendimento médico na unidade.
O grupo recebe apoio da Pastoral Carcerária e das comissões de direitos humanos da Câmara dos Deputados e da Assembléia Legislativa de São Paulo. Ele conta com a participação de voluntários: advogados, psicólogos, pesquisadores sociais e estudantes de direito.
De acordo com a pesquisa, que será divulgada integralmente no final do próximo mês, provavelmente na sede da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), 53% das presas afirmaram que realizavam tratamento médico antes de ser presas. No entanto, apenas 9% delas disseram ter continuado esses tratamentos na prisão.
Um grande número de detentas (42,7%) afirmou ter adquirido alguma doença na prisão. Ainda segundo as detentas, 55% das gestantes presas afirmaram que não receberam acompanhamento médico regular (leia texto abaixo).

Perfil
A pesquisa do Grupo Cidadania nos Presídios mostra que a maioria da presas (56,5%) têm entre 18 e 30 anos. Já a grande maioria delas (76,4%) não completaram o ensino fundamental. Do total das detentas entrevistadas, 75% trabalhavam antes de ser presas.
"A maioria estava trabalhando antes de ser presa. Isso demonstra que é enganosa a idéia de que o presidiário é um eterno desocupado a espreita de cometer um crime", diz o relatório da pesquisa.



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.