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OPINIÃO
Saídas para a medicina
GONZALO VECINA NETO
Em 25 de junho, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo
apresentou os resultados do funcionamento das maternidades do
Estado. A corajosa iniciativa do
CRM demonstra no que se está
transformando a prática médica.
Médicos despreparados, hospitais improvisados, falta de materiais e medicamentos, tudo redundando em aumento de mortalidade materna e perinatal, em sofrimento e dor desnecessários.
Sem dúvida, uma causa importante do atual estado das coisas repousa na qualidade das escolas
médicas. Há escolas com autorização oficial, formando 300 médicos
por ano, que nem sequer têm hospital-escola que mereça o nome. O
crime é cometido na esquina e à
luz do dia, e não se faz nada.
Mais escolas são criadas e funcionam sem autorização, ao arrepio da lei, protegidas pelo clientelismo político, aprovadas em ignóbeis negociatas brasilianas. É
preciso reavaliar as condições estruturais de seu funcionamento e
dar um basta a essa imundície.
Outra causa está na formação do
médico. A esmagadora maioria
das escolas forma médicos para
tratar de doenças, não de homens.
Há muito discute-se que os médicos precisam ser humanizados,
mas não se sabe como. Certamente, não é dando cursos de filosofia
no primeiro ano ou com campanhas do tipo "trate bem seu paciente, ele é um ser humano".
Um exemplo: as faculdades de
medicina de Botucatu, Londrina,
Marília, Brasília e das federais do
Rio Grande do Norte e da Bahia,
com apoio da Fundação Kelloggs,
desenvolvem o projeto "Uma Nova Iniciativa na Formação de Recursos Humanos em Saúde", com
metodologias que buscam fazer o
graduando pensar nas causas dos
problemas que enfrenta.
Finalmente, há as organizações
em que os médicos trabalham. A
rede hospitalar brasileira está totalmente desaparelhada; não existe uma política tendente a garantir
que, se os hospitais não podem curar, que pelo menos não matem.
Boa parte da rede hospitalar interna pacientes que não precisam
e não tem condições de tratar os
que precisam devido à incompetência regulatória do Estado. O
sistema de financiamento do SUS,
em particular, tem de sofrer radical transformação, visando a diferenciação da rede hospitalar -ou
seja, não se pode remunerar de
forma igual instituições desiguais.
Rever as condições de funcionamento das escolas, incentivar o
uso de novas metodologias na formação médica e rever a estrutura e
o funcionamento das instituições
são caminhos que, no médio e
longo prazo, sem imediatismos
ingênuos, poderão melhorar a
prestação das ações de Saúde no
Brasil.
Gonzalo Vecina Neto, 45, médico, é diretor-executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Assume
no dia 3 de agosto o cargo de secretário nacional da Vigilância Sanitária
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