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ÁLCOOL
Segmentos menos favorecidos sofrem mais com dependência
Jovens devem ser ensinados a beber, afirmam especialistas
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como as pessoas aprendem a dirigir antes de pegar a estrada, o jovem deveria ser ensinado a beber antes de ter acesso ao
álcool. E o local para esse aprendizado deveria ser a escola.
A tese é defendida por Alan
Marlatt, da Universidade de Washington (Seattle, EUA), que ontem à noite participou da abertura da 1ª Conferência Internacional de Álcool e Redução de Danos, que acontece no Recife.
Marlatt, titular de psicologia clínica e diretor do Centro de Estudos do Comportamento Aditivo
da Universidade de Washington,
ressalva que o ideal para o jovem é
que não beba. Mas, como muitos
deles vão beber, a melhor opção é
ensiná-los, de preferência dentro
dos currículos escolares.
A brasileira Beatriz Carlini Marlatt, da mesma universidade e
partidária da tese, diz que "não
significa que os estudantes vão
beber na colégios, assim como
não fazem sexo nas aulas de sexualidade e saúde".
Beatriz falará no congresso sobre "festas virtuais", espécie de jogos desenvolvidos nos EUA e na
Nova Zelândia onde o jovem, pela
internet, participa de uma festa,
escolhe a música, a bebida, e vai
sendo informado do nível de álcool e dos riscos a que está sujeito,
dirigindo ou namorando.
O Hospital Albert Einstein, de
São Paulo, criou há dois anos uma
"festa virtual", que começou com
60 jovens e hoje "tem cerca de 900
acessos diários", diz Beatriz, que
participou da criação do site
(www.einstein.br/alcooledrogas
-clicar em "nossa festa").
O encontro do Recife é o primeiro a aplicar o conceito de redução de danos no consumo de
álcool. A idéia vem sendo empregada com sucesso entre usuários
de drogas injetáveis. Para evitar
que se infectem com o vírus da
Aids, os programas oferecem seringas e informação.
Dentro do mesmo princípio,
acredita-se que o melhor a fazer é
ensinar a beber e a reduzir os riscos da bebida -como a violência
urbana e doméstica- em lugar
de tentar banir completamente o
seu consumo. Na conferência
participam cerca de 20 convidados estrangeiros e 80 nacionais.
"Para a medicina tradicional, o
contrário da dependência é a abstinência. Dentro dos princípios da
redução de danos, o contrário da
dependência é, inclusive, a liberdade de escolha", diz Ana Glória
Melcop, do Centro de Prevenção
às Dependências, do Recife, e presidente nacional da conferência.
"Beber é uma opção que não retira da pessoa o direito ao respeito, à saúde e a uma vida digna",
afirmou.
Para ela, "num país de desemprego e de falta de oportunidades,
o álcool vem mais para amenizar
o sofrimento do que como forma
de obtenção de prazer".
Vários trabalhos nacionais e internacionais vão mostrar que a
dependência do álcool ocorre em
todas as classes sociais e em todas
as idades.
"Mas são os segmentos menos
favorecidos, os desempregados,
as populações discriminadas, como as indígenas, os afrodescendentes, que mais sofrem o impacto da dependência e do abuso do
álcool", diz Ana Glória.
A conferência tem apoio da Organização Mundial da Saúde, dos
ministérios da Saúde e da Justiça e de instituições nacionais e internacionais que trabalham com políticas de redução de danos.
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