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PASQUALE CIPRO NETO
O segredo das secretárias
A etimologia estuda as
palavras, sua história e as
possíveis mudanças de seu significado. Em suma, estuda a origem e
a evolução histórica de uma palavra. E o que não falta é história.
Uma dessas histórias diz respeito a "forró". Durante muito tempo, acreditou-se que "forró" viesse
de "for all". Dizia a lenda que determinada empresa inglesa construía uma obra no Nordeste. Nos
dias de folga, organizavam-se
duas festas. Uma para os executivos e outra para o povão, isto é,
"for all" ("para todos"). De "for
all" se teria evoluído para "forró".
Os estudiosos do assunto garantem que "forró" nada mais é do
que a redução de "forrobodó" (de
origem incerta), que, entre outros
significados, tem o de "arrasta-pé", ou seja, "baile popular".
O caso de "salário" é bastante
interessante. O sal já foi moeda
corrente. "Salário" vem do latim
"salariu" ("ração de sal").
Como se vê, muitas vezes o significado das palavras está atrelado a um fato histórico, social. O
"músculo sartório" (longo e estreito, localizado na região anterior e externa de cada coxa) adquiriu o nome do latim "sartor",
"sartoris" ("que conserta").
Em italiano, "sarto" nada mais
é do que "alfaiate", "costureiro",
profissional que faz e conserta
roupas. O "sarto" costuma colocar a roupa sobre a coxa, sobre o
músculo ao qual deu o nome. O
nosso "alfaiate" vem do árabe,
língua da qual provêm muitas de
nossas palavras.
No próximo sábado, comemora-se o Dia das Secretárias. Parafraseando Bandeira ("O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!"), o meu pelas secretárias! Factótuns, não medem esforços para que tudo vá bem.
Nobre função a delas: manter
segredo. Sim, pois a raiz de "secretária" é a mesma de "segredo",
"secreto", "segredar", "segregar"
etc. Ao pé da letra, "segredo" (que
vem do latim "secretu") significa
"separado". O que é secreto é posto de lado, escondido, ocultado.
Pois vou contar-lhes um segredo: tal qual Bandeira ("Se me perguntassem: Queres ser estrela?
queres ser rei? queres uma ilha no
Pacífico? um bangalô em Copacabana?/ Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete
Araxá:/ O meu reino pelas três
mulheres do sabonete Araxá!"),
só quero as secretárias. Mas com
uma condição: que aposentem
definitivamente o gerúndio. Já
pensou? "O que você vai estar
querendo beber, amo?"; "Posso
estar marcando uma reunião,
chefe?". Nem em Pasárgada!
A atleta Cathy Freeman, vencedora dos 400 m nos Jogos Olímpicos, fez a imprensa empregar uma
palavra pouco comum no dia-a-dia: "aborígine" (ou será "aborígene"?). Trata-se daquele que habita a região de que é originário.
É o indígena, nativo, autóctone.
Talvez você tenha visto nos jornais as duas grafias. Não se assuste. As duas são corretas. Em alguns dicionários (o de Caldas Aulete, por exemplo), só se dá "aborígine". O "Aurélio" só dava
"aborígine". Na última edição
("Novo Aurélio Século XXI"), encontram-se as duas formas. O velho "Morais" já registrava as
duas. E o "Vocabulário Ortográfico" (da Academia), que tem força
de lei, registra as duas. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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