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SAÚDE
Falta estrutura ao centro de atendimento da Faculdade de Saúde Pública; diretor diz que recursos do SUS são escassos
Posto da USP faz leilão para se manter
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Para contornar a crise financeira, o Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza, em Cerqueira César, na zona sudoeste de
São Paulo, promove, na próxima
segunda-feira, um leilão beneficente de obras de arte.
O fato seria banal se o centro
não fosse o laboratório da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), uma
das mais importantes do país.
Porém o prédio que serve de escola a cerca de 100 estagiários por
ano, da USP e de outras instituições universitárias, tem instalações malconservadas e equipamentos como um de raios X da
década de 60.
Segundo o diretor técnico do
centro, Cláudio Gastão Junqueira
de Castro, 50, nos últimos quatro
anos, as verbas destinadas à instituição -pela USP e pela Secretaria de Estado da Saúde- foram
sendo cortadas aos poucos.
Sem orçamento próprio, o centro está vinculado à diretoria da
Faculdade de Saúde Pública.
Até 97, o centro contava com
verba da secretaria. A partir daquele ano, a instituição universitária foi incorporada ao SUS (Sistema Único de Saúde), passando
a ganhar por produção. Como
um centro de saúde executa procedimentos médicos simples, a
receita diminuiu drasticamente.
Mesmo assim, de acordo com
Castro, o repasse de verbas do
SUS é injusto. "Produzimos o suficiente para ganhar R$ 25 mil
mensais, mas temos um teto, estipulado pelo Estado, de R$ 13 mil,
e é o que recebemos", afirma.
Com esse dinheiro, o centro paga o salário de 17 funcionários terceirizados e compra equipamentos básicos. "Hoje, há um debate
na USP sobre se devemos ou não
ter esse tipo de serviço na universidade", diz Castro.
A crise levou a situações difíceis
de imaginar em um laboratório
da USP, como a execução de exames clínicos em microscópios ultrapassados.
A artista plástica e professora
universitária aposentada Luise
Crishian, 58, precisou usar os serviços do centro em dezembro para fazer uma radiografia e surpreendeu-se com a situação. "Eles
estavam revelando as chapas com
água. Comprei um galão da solução própria para isso e doei."
A partir de então, Luise envolveu-se com o centro e hoje é uma
das organizadoras do leilão.
"A situação do centro é precária
demais. Chove dentro do prédio
inteiro, inclusive em cima dos remédios da farmácia. As pessoas
que querem se consultar não têm
sala de espera. Ficam na garoa, de
madrugada. Até bem pouco tempo, nem mesa para atender, a assistente social tinha", reclama.
Ontem, a diretoria do centro
conseguiu consertar o esgoto, que
estava entupido, formando uma
poça do lado de fora do prédio
-que é vizinho à Faculdade de
Saúde Pública.
O número de funcionários é pequeno para atender à demanda
reprimida de usuários. Os médicos ficam somente até as 16h. Nos
últimos quatro anos, 12 funcionários se aposentaram sem que as
vagas fossem repostas.
Para a pediatra Maria de Paiva
Vital, 46, há 18 anos trabalhando
no centro, o problema de falta de
espaço é o pior de todos. "Temos
de dividir salas com profissionais
de outras especialidades. Se o programa se estende muito, ficamos
todos, médicos e pacientes, esperando acabar", declara.
Até o depósito do centro -um
espaço de menos de 4 m2- é usado no atendimento. No caso, do
programa de saúde mental.
"Como conceber uma faculdade de saúde pública sem um laboratório?", questiona Castro.
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