São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000

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SAÚDE
Falta estrutura ao centro de atendimento da Faculdade de Saúde Pública; diretor diz que recursos do SUS são escassos
Posto da USP faz leilão para se manter

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Para contornar a crise financeira, o Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza, em Cerqueira César, na zona sudoeste de São Paulo, promove, na próxima segunda-feira, um leilão beneficente de obras de arte.
O fato seria banal se o centro não fosse o laboratório da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais importantes do país.
Porém o prédio que serve de escola a cerca de 100 estagiários por ano, da USP e de outras instituições universitárias, tem instalações malconservadas e equipamentos como um de raios X da década de 60.
Segundo o diretor técnico do centro, Cláudio Gastão Junqueira de Castro, 50, nos últimos quatro anos, as verbas destinadas à instituição -pela USP e pela Secretaria de Estado da Saúde- foram sendo cortadas aos poucos.
Sem orçamento próprio, o centro está vinculado à diretoria da Faculdade de Saúde Pública.
Até 97, o centro contava com verba da secretaria. A partir daquele ano, a instituição universitária foi incorporada ao SUS (Sistema Único de Saúde), passando a ganhar por produção. Como um centro de saúde executa procedimentos médicos simples, a receita diminuiu drasticamente.
Mesmo assim, de acordo com Castro, o repasse de verbas do SUS é injusto. "Produzimos o suficiente para ganhar R$ 25 mil mensais, mas temos um teto, estipulado pelo Estado, de R$ 13 mil, e é o que recebemos", afirma.
Com esse dinheiro, o centro paga o salário de 17 funcionários terceirizados e compra equipamentos básicos. "Hoje, há um debate na USP sobre se devemos ou não ter esse tipo de serviço na universidade", diz Castro.
A crise levou a situações difíceis de imaginar em um laboratório da USP, como a execução de exames clínicos em microscópios ultrapassados.
A artista plástica e professora universitária aposentada Luise Crishian, 58, precisou usar os serviços do centro em dezembro para fazer uma radiografia e surpreendeu-se com a situação. "Eles estavam revelando as chapas com água. Comprei um galão da solução própria para isso e doei."
A partir de então, Luise envolveu-se com o centro e hoje é uma das organizadoras do leilão.
"A situação do centro é precária demais. Chove dentro do prédio inteiro, inclusive em cima dos remédios da farmácia. As pessoas que querem se consultar não têm sala de espera. Ficam na garoa, de madrugada. Até bem pouco tempo, nem mesa para atender, a assistente social tinha", reclama.
Ontem, a diretoria do centro conseguiu consertar o esgoto, que estava entupido, formando uma poça do lado de fora do prédio -que é vizinho à Faculdade de Saúde Pública.
O número de funcionários é pequeno para atender à demanda reprimida de usuários. Os médicos ficam somente até as 16h. Nos últimos quatro anos, 12 funcionários se aposentaram sem que as vagas fossem repostas.
Para a pediatra Maria de Paiva Vital, 46, há 18 anos trabalhando no centro, o problema de falta de espaço é o pior de todos. "Temos de dividir salas com profissionais de outras especialidades. Se o programa se estende muito, ficamos todos, médicos e pacientes, esperando acabar", declara.
Até o depósito do centro -um espaço de menos de 4 m2- é usado no atendimento. No caso, do programa de saúde mental.
"Como conceber uma faculdade de saúde pública sem um laboratório?", questiona Castro.


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