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VIOLÊNCIA
Chefe da Polícia Civil do Rio diz que havia evidências, no caso Tim Lopes, para indiciar dois homens ligados a Elias Maluco
Delegado acusa chefia de impor acusação
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O delegado Sérgio Falante, responsável pelas apurações sobre o
assassinato do jornalista da TV
Globo Tim Lopes, disse que, "por
recomendação da chefia de polícia", indiciou como responsáveis
pelo crime dois homens que, para
ele, não participaram do crime.
"O governo já tinha declarado
que eles eram participantes, então
a recomendação é "deixa para lá,
vai como está, e a Justiça é que vai
se pronunciar a respeito'", afirmou Falante à Folha.
Lopes fazia uma reportagem na
favela Vila Cruzeiro (zona norte)
quando, na noite de 2 de junho,
foi capturado, torturado e morto,
segundo a polícia, por traficantes
comandados por Elias Pereira da
Silva, o Elias Maluco.
Titular da 22ª DP (Delegacia de
Polícia) à época das investigações,
Falante foi afastado das funções
por causa do relatório final do inspetor Daniel Gomes, que afirmava que Lopes se colocara "muito
perto do perigo, não vislumbrando a diferença da emoção para a
razão". Gomes também foi afastado da função que exercia na 22ª.
Para Falante -até hoje afastado
do trabalho policial-, Reinaldo
Amaral de Jesus, conhecido como
Cabê ou Kadê, e Fernando Satyro
da Silva, o Frei, não participaram
do crime. Após o indiciamento,
eles foram denunciados pelo Ministério Público e estão sendo
processados, junto com Elias Maluco e mais quatro homens. Dois
acusados morreram.
Depoimento
Presos no dia 9 de junho, Cabê e
Frei disseram que souberam do
crime por um traficante. Descreveram o funcionamento do tráfico na região e detalharam como
Lopes fora torturado e morto pelo
grupo de Maluco.
"Eles não estavam presentes, sabem por ouvir dizer. Eles não
confessam. Eu acho que eles não
têm a ver com a execução", afirmou o delegado.
O chefe de Polícia Civil, Zaqueu
Teixeira, disse que, de fato, deu
orientação para que fossem indiciados todos contra os quais houvesse provas e que, por acompanhar o caso de perto, considerou
haver, no contexto das investigações, evidências da participação
de Cabê e Frei.
"A meu juízo, havia provas de
que eles participaram. Tanto é
que o Ministério Público denunciou e a Justiça recebeu a denúncia", afirmou Teixeira.
Segundo ele, Falante não se
opôs aos dois indiciamentos. O
chefe de polícia disse que, quando
um delegado não concorda com
uma orientação, pode se desligar
do caso. Para Teixeira, Falante está reagindo ao afastamento.
A promotora Patrícia Glioche,
uma das autoras da denúncia, ficou surpresa com as declarações
de Falante. Segundo ela, a Promotoria denunciou Silva e Jesus por
entender que há indícios da participação deles no assassinato.
Novas versões
Em juízo, Cabê, Frei e a testemunha de acusação Eduardo
Gonçalves negaram declarações
feitas durante o inquérito e disseram que foram obrigados a falar
sob tortura. Outro acusado, Elizeu Felício de Souza, o Zeu, também negou em juízo a confissão
feita durante o inquérito, mas não
relatou tortura.
O delegado e o chefe de polícia
estão de acordo num ponto: negar
versões em juízo é uma estratégia
de defesa. Zaqueu Teixeira afirmou que, se for informado pela
Justiça de que houve tortura,
mandará investigar.
"Quando esses vagabundos
prestam depoimento, estão desprotegidos, porque não conversaram com advogado. O que eles falam na delegacia é a verdade.
Quando vão depor em juízo estão
instruídos por advogados e falam
o que o advogado ensinou a falar", afirmou Falante.
A promotora declarou não se
surpreender com o fato de acusados mudarem versões. Disse que
o júri saberá avaliar a verdade de
cada afirmação.
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