São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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Ministério Público pede exumação do corpo de preso morto na PF

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Um pedido para a exumação do cadáver do auxiliar de cozinha Antônio Gonçalves de Abreu, 34, foi encaminhado ontem pelo Ministério Público Federal à 2ª Vara Criminal da Justiça Federal no Rio. "O laudo de exame cadavérico é incompleto", diz a petição.
Acusado de participar do assassinato de um agente federal, Abreu foi preso em 8 de setembro e morreu, no Hospital Souza Aguiar, em decorrência de traumatismo craniano, após ter passado a noite na carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Rio. A suposta prática por policiais federais dos crimes de tortura e homicídio está sendo investigada na superintendência e pelo Ministério Público Federal.
O grupo Tortura Nunca Mais anunciou que enviará documento ao Ministério da Justiça, à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e à direção da PF em Brasília pedindo a designação de um delegado de fora do Rio para presidir o inquérito. "Acho que, como [o delegado Lorenzo da Hora" está investigando colegas, isso o tranquilizaria", disse o advogado do grupo, Paulo Henrique Fagundes.
Segundo o delegado, o inquérito está sendo concluído, mas ainda não foram ouvidos os outros acusados pela morte do agente Gustavo Mayer Moreira, presos com Abreu: Samuel Dias de Cerqueira e Márcio Cerqueira Gomes. Sobre a hipótese de ser designado outro delegado para investigar o caso, Hora disse: "Se houve tortura de agentes, pode ter certeza de que eles serão punidos". Dois delegados e 17 agentes já foram afastados pela PF.
O advogado criticou a portaria de abertura de inquérito, que considera que "a luta corporal entre os acautelados Samuel Dias Cerqueira e Antônio Gonçalves de Abreu" teria causado a morte.
"Os dois estavam algemados, em celas separadas e Samuel estava ferido. Como é que ele teria batido no Antônio até morrer? Por que o Antônio não reagiu, se chegou na PF ileso?", perguntou Fagundes. Segundo ele, uma questão a ser respondida com a exumação do corpo é se Abreu apanhou com algum instrumento. Ele disse que foi Cerqueira quem acusou a suposta tortura.
O procurador da República Daniel Sarmento disse que também será apurado o suposto crime de falsidade ideológica. "A PF diz que Antônio se negou a assinar a Nota de Ciência das Garantias Constitucionais e que teria sido ouvido por volta das 15h20. A essa hora, ele já estava em coma no Souza Aguiar", afirmou.


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