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Polícia indicia namorada; mãe fala em perseguição
Caio Guatelli/Folha Imagem
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A acusada Carla Cepollina, ao lado da mãe, Liliana Prinzivalli, chega para prestar novo depoimento na sede do DHPP, no centro de SP |
Laudo preliminar apontou a presença de chumbo na calça usada pela acusada
O promotor Luis Fernando
Vaggione denunciará Carla
Cepollina à Justiça pelo
assassinato do coronel
Ubiratan Guimarães
KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A advogada Carla Prinzivalli
Cepollina, 40, foi oficialmente
indiciada pela Polícia Civil pelo
assassinato do seu namorado, o
coronel da reserva e deputado
estadual Ubiratan Guimarães,
63. A decisão ocorre 19 dias
após o crime, cometido no
apartamento dele, nos Jardins
(zona oeste de São Paulo).
Após o fim do inquérito em
que Carla figura agora como
acusada, por homicídio doloso
duplamente qualificado -motivo fútil (ciúmes) e recurso que
impossibilitou a defesa da vítima-, o caso será entregue ao
Ministério Público e ao Poder
Judiciário. O promotor Luis
Fernando Vaggione irá denunciar Carla à Justiça e cogita
uma pena, em caso de condenação, que varia de 12 a 30, pois o
homicídio também é agravado
porque Ubiratan tinha mais de
60 anos de idade.
Para indiciá-la, a polícia se
baseou principalmente no horário em que a advogada esteve
no apartamento de Ubiratan,
assassinado entre 19h30 e
20h30 do dia 9, quando vizinhos ouviram um barulho forte
no prédio. Segundo Carla, tratou-se da batida forte de uma
porta. No cruzamento de telefonemas recebidos no apartamento, descobriu-se que Carla
falou, às 20h26, com a delegada
da Polícia Federal Renata Madi, 26, com quem Ubiratan
mantinha um relacionamento.
A própria advogada afirmou
que chegara ao local por volta
das 18h, acompanhado de Ubiratan, e saiu de lá por volta das
20h30, quando o namorado estaria dormindo no quarto.
A polícia também desconfia,
mas ainda não provou, que Carla tenha entregue roupas trocadas para a realização da perícia.
No dia da morte de Ubiratan,
ela vestia uma camiseta clara,
por baixo de uma blusa escura.
Imagens da câmera do elevador
do prédio onde ela vive com a
mãe apontam isso. Ontem, a
perícia foi ao edifício para simular e gravar novamente a entrada de uma pessoa no elevador. Uma comparação será feita com as imagens de Carla.
No interrogatório de ontem,
iniciado por volta das 14h30 e
encerrado às 20h40, Carla, segundo o advogado Vicente Cascione, nomeado pelos três filhos de Ubiratan para acompanhar o caso, respondeu várias
das cerca de 120 perguntas feitas pelos delegados do caso com
a seguinte resposta: "Ratifico o
que declarei anteriormente." A
advogada já havia sido ouvida
outras quatro vezes oficialmente pela polícia.
"Foi ela"
"Ela é a assassina do coronel.
Estou convencido disso", afirmou ontem o promotor Vaggione. "Há uma avalanche de
indícios contra ela [Carla]. Ela
já deveria ter confessado o crime. Só não temos mais porque
ela ocultou provas. Ela não entregou à polícia a roupa branca
que usou no dia crime e também escondeu a arma utilizada
para matar o coronel", acusou.
No início da tarde, algumas
horas antes de Carla ter suas
impressões digitais colhidas e
ser fotografada para a inclusão
no inquérito, a advogada Liliana Prinzivalli acusou os integrantes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) de "perseguição".
Para Liliana, presa anteontem por porte ilegal de arma e
liberada após pagamento de
uma fiança de R$ 800, Carla foi
acusada pelos investigadores
do DHPP de ter dado um tiro de
revólver calibre 38 no abdômen
de Ubiratan porque ela, Liliana,
sempre foi combativa e dedicou
parte de sua vida profissional "a
denunciar policiais civis supostamente envolvidos em corrupção" e outros tipos de crime.
A perseguição contra Carla,
segundo Liliana, é motivada
pela sua atuação no processo
em que o delegado Wagner
Giudice, hoje diretor da DAS
(Divisão Anti-Seqüestro), foi
acusado de receber dinheiro do
professor de direito civil da
USP Alcides Tomasetti Júnior
para não indiciá-lo no inquérito que investigou a morte da
mulher dele, a procuradora do
Estado Denise Piovani, em
1996. Giudice nega a acusação.
Liliana também afirmou que
irá denunciar o processo de indiciamento da filha à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização
dos Estados Americanos).
O secretário da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho, não se manifestou sobre
as acusações contra a polícia
feita pela mãe da acusada.
O advogado de Carla, Antonio Carlos Carvalho Pinto, voltou a contestar ontem o indiciamento. Para ele, ela foi indiciada por dois motivos: ser namorada de Ubiratan e ter estado no prédio dele no dia do crime. "Prova concreta mesmo
não há", disse ele, que não acredita no acolhimento da denúncia contra Carla.
Sobre a acusação de Vaggione de que Carla escondeu o revólver calibre 38 usado no crime, Carvalho Pinto disse: "Como ela esconderia uma arma se
a polícia não tem prova de que
ela usou uma?"
Na interpretação do advogado, Carla não poderia ter sido
apontada como a única suspeita da morte de Ubiratan. "Há
informações de que o coronel
tinha relações amorosas com
pessoas que moravam no mesmo prédio dele. No plano das
possibilidades, alguém pode ter
entrado no apartamento, atirado nele e saído de lá", disse.
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