São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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Polícia indicia namorada; mãe fala em perseguição

Caio Guatelli/Folha Imagem
A acusada Carla Cepollina, ao lado da mãe, Liliana Prinzivalli, chega para prestar novo depoimento na sede do DHPP, no centro de SP


Laudo preliminar apontou a presença de chumbo na calça usada pela acusada

O promotor Luis Fernando Vaggione denunciará Carla Cepollina à Justiça pelo assassinato do coronel Ubiratan Guimarães

KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A advogada Carla Prinzivalli Cepollina, 40, foi oficialmente indiciada pela Polícia Civil pelo assassinato do seu namorado, o coronel da reserva e deputado estadual Ubiratan Guimarães, 63. A decisão ocorre 19 dias após o crime, cometido no apartamento dele, nos Jardins (zona oeste de São Paulo).
Após o fim do inquérito em que Carla figura agora como acusada, por homicídio doloso duplamente qualificado -motivo fútil (ciúmes) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima-, o caso será entregue ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. O promotor Luis Fernando Vaggione irá denunciar Carla à Justiça e cogita uma pena, em caso de condenação, que varia de 12 a 30, pois o homicídio também é agravado porque Ubiratan tinha mais de 60 anos de idade.
Para indiciá-la, a polícia se baseou principalmente no horário em que a advogada esteve no apartamento de Ubiratan, assassinado entre 19h30 e 20h30 do dia 9, quando vizinhos ouviram um barulho forte no prédio. Segundo Carla, tratou-se da batida forte de uma porta. No cruzamento de telefonemas recebidos no apartamento, descobriu-se que Carla falou, às 20h26, com a delegada da Polícia Federal Renata Madi, 26, com quem Ubiratan mantinha um relacionamento.
A própria advogada afirmou que chegara ao local por volta das 18h, acompanhado de Ubiratan, e saiu de lá por volta das 20h30, quando o namorado estaria dormindo no quarto.
A polícia também desconfia, mas ainda não provou, que Carla tenha entregue roupas trocadas para a realização da perícia. No dia da morte de Ubiratan, ela vestia uma camiseta clara, por baixo de uma blusa escura. Imagens da câmera do elevador do prédio onde ela vive com a mãe apontam isso. Ontem, a perícia foi ao edifício para simular e gravar novamente a entrada de uma pessoa no elevador. Uma comparação será feita com as imagens de Carla.
No interrogatório de ontem, iniciado por volta das 14h30 e encerrado às 20h40, Carla, segundo o advogado Vicente Cascione, nomeado pelos três filhos de Ubiratan para acompanhar o caso, respondeu várias das cerca de 120 perguntas feitas pelos delegados do caso com a seguinte resposta: "Ratifico o que declarei anteriormente." A advogada já havia sido ouvida outras quatro vezes oficialmente pela polícia.

"Foi ela"
"Ela é a assassina do coronel. Estou convencido disso", afirmou ontem o promotor Vaggione. "Há uma avalanche de indícios contra ela [Carla]. Ela já deveria ter confessado o crime. Só não temos mais porque ela ocultou provas. Ela não entregou à polícia a roupa branca que usou no dia crime e também escondeu a arma utilizada para matar o coronel", acusou.
No início da tarde, algumas horas antes de Carla ter suas impressões digitais colhidas e ser fotografada para a inclusão no inquérito, a advogada Liliana Prinzivalli acusou os integrantes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) de "perseguição".
Para Liliana, presa anteontem por porte ilegal de arma e liberada após pagamento de uma fiança de R$ 800, Carla foi acusada pelos investigadores do DHPP de ter dado um tiro de revólver calibre 38 no abdômen de Ubiratan porque ela, Liliana, sempre foi combativa e dedicou parte de sua vida profissional "a denunciar policiais civis supostamente envolvidos em corrupção" e outros tipos de crime.
A perseguição contra Carla, segundo Liliana, é motivada pela sua atuação no processo em que o delegado Wagner Giudice, hoje diretor da DAS (Divisão Anti-Seqüestro), foi acusado de receber dinheiro do professor de direito civil da USP Alcides Tomasetti Júnior para não indiciá-lo no inquérito que investigou a morte da mulher dele, a procuradora do Estado Denise Piovani, em 1996. Giudice nega a acusação.
Liliana também afirmou que irá denunciar o processo de indiciamento da filha à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos).
O secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, não se manifestou sobre as acusações contra a polícia feita pela mãe da acusada.
O advogado de Carla, Antonio Carlos Carvalho Pinto, voltou a contestar ontem o indiciamento. Para ele, ela foi indiciada por dois motivos: ser namorada de Ubiratan e ter estado no prédio dele no dia do crime. "Prova concreta mesmo não há", disse ele, que não acredita no acolhimento da denúncia contra Carla.
Sobre a acusação de Vaggione de que Carla escondeu o revólver calibre 38 usado no crime, Carvalho Pinto disse: "Como ela esconderia uma arma se a polícia não tem prova de que ela usou uma?"
Na interpretação do advogado, Carla não poderia ter sido apontada como a única suspeita da morte de Ubiratan. "Há informações de que o coronel tinha relações amorosas com pessoas que moravam no mesmo prédio dele. No plano das possibilidades, alguém pode ter entrado no apartamento, atirado nele e saído de lá", disse.


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