São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2001

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Polícia devia ter agido logo, diz mãe

DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

Welson Frazão Serra, 13, como quase todas as vítimas dos crimes do Maranhão, fazia pequenos serviços para auxiliar a família.
Ele ajudava na limpeza dos túmulos e covas do cemitério de Paço do Lumiar, cidade dos arredores de São Luís, de onde o seu corpo foi exumado, para novos exames, na última quarta-feira.
Evangélica, a mãe do garoto, a dona-de-casa Ana Lúcia Frazão Serra, 37, acredita em justiça. "Mas na justiça de Jesus", completa. Resignada, afirma: "As pessoas que sonharam com Welson disseram que ele está num lugar lindo, orando por nós".
Para ela, a polícia devia "ter agido desde o começo, para evitar que outras famílias sofressem".
Um dia depois da exumação do corpo do filho, na manhã de quarta-feira, a Folha conversou com Ana Lúcia. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - Como o corpo do seu filho foi encontrado?
Ana Lúcia Frazão Serra
- A gente começou a procurar, eu, meu marido e os quatro meninos nossos, na noite do dia 7 (deste mês). Eu tinha esperança de encontrar o nosso filho vivo. Ah, deve ter caído de um pé de fruta, pensava, e não conseguiu chegar em casa. Até que vimos a desgraça que fizeram com ele. Meu filho gritou: "Papai, achei!". Eu caí na hora. Tiraram pedaços dos dedos dele na dentada. Ele estava com o rostinho enterrado na areia, todo arrebentado.

Folha - A senhora acredita, como tem divulgado parte da polícia, que possa haver ligação com "magia negra"?
Ana Lúcia
- Às vezes penso que isso possa ser um despiste para encobertar a maldade mesmo, coisa de quem, tomado pelo diabo, quer apenas fazer ruindade e pronto. Só sei que quero olhar para a cara dos monstros que fizeram isso. Nem quero vingança, eles vão cair em desgraça e se arrepender do que fizeram.

Folha - A senhora acredita que o crime tenha sido cometido pelas duas pessoas que estão presas? (A polícia prendeu provisoriamente Mauro Flexa e Washington Luis Xavier, que trabalhavam em um sítio vizinho ao local do assassinato).
Ana Lúcia -
Certeza absoluta a gente não tem, mas tudo indica que sim. Meu filho não era besta de cair na conversa de ninguém, mas os monstros devem ter conquistado a confiança dele, aos poucos. Aproveitaram que ele brincava lá por perto, saía para caçar passarinhos, e fizeram isso.

Folha - Como a senhora avalia o trabalho da polícia nesses casos todos?
Ana Lúcia -
Deviam ter agido desde o começo, para evitar que outras famílias sofressem. Nunca imaginei que pudesse acontecer isso com a gente. Entrego a Jesus, só ele julgará. Todo dia vou até a porta para esperar meu filho e acho que ele vai chegar a qualquer momento.


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