São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2001

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SAÚDE

Vida saudável previne diabetes tipo 2

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Está provado. Dieta e exercício físico previnem o diabetes tipo 2 naqueles pacientes que conseguem reduzir o peso.
De acordo com estudo norte-americano divulgado em agosto -o DDP (Diabetes Prevention Program, Programa de Prevenção do Diabetes)-, o índice de sucesso foi de 58% entre pessoas com grandes chances de desenvolver a doença que se exercitaram, em média, 30 minutos por dia e perderam até 7% do peso.
Os resultados podem ser ainda melhores se um remédio já utilizado para combater a doença, a acarbose (Glucobay), for administrado preventivamente em conjunto com ginástica e regime, mostrou levantamento da multinacional canadense Stop Diabetes apresentado em setembro no Congresso Europeu de Diabetes.
Exercício, dieta e acarbose juntos foram 33% mais eficientes na prevenção do que a combinação de ginástica e regime, segundo o estudo coordenado por Jean-Louis Chiasson, professor da Universidade de Montréal, que deve ser publicado em breve na revista científica "Diabetes Care" (Cuidando do Diabetes).
"Somando resultados, podemos dizer que é possível prevenir a doença na maioria dos casos", afirma o chefe do departamento de Endocrinologia do Hospital Heliópolis de São Paulo, Freddy Goldberg Eliaschewitz.
Outra droga, a metformina (Dimefor, Gliformin e Glucophage), também utilizada no controle da doença, reduziu o risco de evolução para diabetes em 31% dos casos estudados no levantamento norte-americano. Essas pessoas receberam apenas orientação alimentar e de exercício, mas não seguiram um programa específico.
"Os resultados com os remédios abrem perspectivas para as pessoas que não conseguem resultados com atividade física e dieta", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, José Egídio Paulo de Oliveira. "Com certa frequência, a mudança de hábito em pessoas adultas não é fácil", diz.
De acordo com Oliveira, muitas vezes, problemas físicos impedem a realização de exercícios.
As pessoas que mais correm risco de desenvolver a doença são aquelas que têm índices de glicose (açúcar) no sangue acima do normal, mas que ainda não podem ser consideradas diabéticas. São os intolerantes à glicose.
Elas costumam estar acima do peso e têm histórico familiar da doença. Raramente apresentam sintomas, mas algumas podem ter triglicérides (tipo de gordura que pode favorecer o entupimento de vasos) aumentados, pressão alta e taxas baixas do HDL, conhecido como colesterol "bom".
Nos EUA, 10 milhões de pessoas são intolerantes à glicose. Segundo Oliveira, estima-se que no Brasil o número seja semelhante.
De acordo com dados do governo norte-americano, até 10% dos intolerantes à glicose desenvolvem diabetes a cada ano.

"Vilã"
A gordura é a principal "vilã" do diabetes tipo 2, principalmente quando está localizada na barriga. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Amélio de Godoy Matos, essa gordura é metabolizada em ácidos graxos livres, que afetam as células do pâncreas produtoras de insulina (hormônio que regula o metabolismo da glicose).
Enquanto dieta e exercício agem diretamente sobre a gordura, os remédios, administrados em comprimidos, facilitam o trabalho das células produtoras de insulina (veja quadro). Outras drogas, como o orlistat (Xenical), que impede a absorção de gordura, também estão sendo estudadas para prevenir o diabetes.
De acordo com Matos, apesar de os resultados com remédios serem estimulantes, ainda não se sabe por quanto tempo eles podem prevenir a doença. No estudo com a acarbose, ficou provado que, quando os pacientes paravam de tomar a droga, as taxas de glicose voltavam a crescer.
Para o presidente da Associação Latino-Americana de Diabetes, Antônio Roberto Chacra, se o paciente se esforçar, previne a doença sem remédios. "Dieta e exercício devem ser o pilar da prevenção", diz. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, há 10 milhões de diabéticos no país e 90% têm o tipo 2 da doença.


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