São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Ex-interno afirma que fazia sexo com padre Júlio

Anderson Batista, preso na sexta-feira, disse que recebia dinheiro do padre em troca do relacionamento sexual

O ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do religioso, negou a acusação e disse que padre é uma vítima

KLEBER TOMAZ
ROGÉRIO PAGNAN

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-interno da Febem Anderson Marcos Batista, 25, acusado de extorsão pelo padre Júlio Lancelotti, 58, disse à polícia que manteve um relacionamento homossexual com o religioso por cerca de oito anos em troca de dinheiro e negou ter praticado extorsão.
"Era tudo presente", disse o advogado de Batista, Nelson Bernardo da Costa, 49, que deu detalhes do depoimento. A reportagem não teve acesso aos documentos, mas a polícia confirmou que as declarações do ex-interno foram nessa linha. Procurado ontem, padre Júlio não quis comentar o assunto. Seu advogado, o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh -ligado à Igreja-, disse que o religioso é uma vítima.
Batista foi detido na noite de sexta no centro de São Paulo, com a sua mulher, Conceição Eletério, 44, e Evandro dos Santos Guimarães, 28 -irmão de Everson dos Santos Guimarães, 26, preso em flagrante em 6 de setembro, sob a mesma acusação. O trio estava foragido desde 9 de outubro.
Em agosto, o padre procurou a polícia para denunciar Batista. Disse que o ex-interno o chantageava e fazia ameaças, entre elas que iria denunciá-lo falsamente por pedofilia.
Na ocasião, padre Júlio disse ter pago R$ 50 mil a Batista, em três anos. Na última terça, ele corrigiu o valor para R$ 80 mil.
Ontem, o advogado do religioso disse estimar em R$ 140 mil a R$ 150 mil a quantia repassada. Lancelotti afirma ter entregue o dinheiro por medo de ser agredido pelo grupo e, ainda, por crer que "poderia mudar as pessoas que o extorquiam". Costa disse que a quantia repassada pelo padre a seu cliente foi de R$ 600 mil a R$ 700 mil em oito anos. Com esse dinheiro, segundo o advogado, o ex-interno comprou carros de luxo e uma casa.
O delegado André Luiz Pimentel disse que todos os detalhes narrados serão investigados, inclusive com o pedido de quebra do sigilo de uma conta bancária citada por Batista e atribuída a Lancelotti.
Batista, segundo o advogado, não tem provas documentais do suposto relacionamento sexual com o padre, mas teria descrito detalhes do corpo do religioso que poderiam ser comprovados.
De acordo com Costa, seu cliente disse que as relações sexuais passaram de um abuso, durante a adolescência, para um consentimento, no início da fase adulta. Por essa versão, Lancelotti teria ficado com ciúmes do casamento do ex-interno, há cerca de um ano. "[Batista] Tinha uma amizade que se tornou um relacionamento sexual [com o padre].
Ele [o ex-interno] disse que aos 16, 17 anos foi abusado sexualmente pelo padre. Ele disse isso taxativamente", relatou Costa. Ainda segundo o advogado, Batista declarou que as relações ocorriam após as missas celebradas pelo padre Júlio.
"Ele afirmou que, muitas vezes, [mantinha relações] nos fundos da igreja, num quartinho. Ele até citou os móveis que lá existem", disse ele. Segundo Costa, seu cliente relatou ter conhecimento de que o padre tinha relações sexuais com outros adolescentes, também da antiga Febem.
O advogado afirmou que o dinheiro que Batista recebia do padre era "de bom grado". "No começo, ele [padre] fornecia roupas, algumas coisas", disse Costa. O ex-interno, segundo seu advogado, disse no depoimento não saber informar de onde vinha o dinheiro que recebia do religioso -que ganha cerca de R$ 3.000 por mês. Costa afirmou que, em 2001, teve os honorários (no valor de R$ 6.000) pagos pelo padre Júlio para defender Anderson em um processo por homicídio -ainda em andamento.


Colaborou VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO , da Reportagem Local

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