São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2000

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EDUCAÇÃO
Cai a nota média obtida pelos alunos das escolas pagas na última avaliação do ensino básico feita pelo MEC
Piora qualidade do ensino nas particulares

Marcos Peron/Folha Imagem
Alunos observam sala de aula queimada, sábado à tarde, por vândulos na Escola Municipal Leonor Savi Chaib, no Jardim Nova York, em Campinas (99 km de SP); o conselho de pais de alunos suspendeu as aulas dos cerca de 600 estudantes por tempo indeterminado


ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda na qualidade do ensino, verificada pelos resultados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica do MEC), também atingiu as escolas particulares em todo o Brasil.
Os estabelecimentos privados ainda apresentam médias melhores do que as escolas públicas. Mas, de 1997 a 1999, a queda nas notas dos alunos das instituições pagas foi mais acentuada em algumas provas quando comparadas com as da rede pública.
Os exames do Saeb são de português e de matemática. O MEC os aplica aos alunos das 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio.
Na comparação com o ciclo fundamental da rede municipal de ensino, a taxa de redução das médias da rede particular, em todo o Brasil, foi maior em matemática na 4ª série e na 8ª série e em português na 8ª.
Quando se compara com a média dos colégios estaduais, também no ensino fundamental, a queda foi mais acentuada em matemática nas 4ª e 8ª séries.
Na 3ª série do ciclo médio, no teste de matemática, os estudantes das públicas tiveram uma queda menor no desempenho do que a verificada entre aqueles que estudam em colégios pagos.
A maior variação negativa na nota dos alunos de escolas particulares em todo o Brasil aconteceu na prova de português da 4ª série (de 224, em 97, para 208, em 99, uma redução de 7,1%).
Nesse teste do Saeb, o MEC distinguiu, de acordo com a nota, cinco faixas de desempenho. Uma nota 224 inclui o aluno no segundo pior nível (de 200 a 250).
Isso significa capacidade de ter a compreensão global de textos pequenos, com frases curtas em ordem e temática próxima a sua realidade. São aptidões de alguém que deveria estar nas primeiras séries do ciclo fundamental.
Os resultados do Saeb serão anunciados oficialmente hoje, mas já se sabe que, em todo o Brasil, houve redução de 1997 para 1999 em todas as médias das provas de português e matemática.
O objetivo do exame, criado em 1990, é acompanhar a qualidade de ensino das escolas públicas e particulares de todo o país. Ele é realizado a cada dois anos nas disciplinas língua portuguesa e matemática. No ano passado, as disciplinas de ciências, história e geografia foram incluídas pela primeira vez na avaliação.
A queda da rede particular de ensino foi mais significativa no Nordeste, onde foi verificada uma redução de 20 pontos ou mais na média de 1997 para 1999 em 5 das 6 provas aplicadas aos alunos que se submeteram a elas.
Nas demais regiões do país, o Saeb também mostrou redução nas notas dos estudantes da rede privada de ensino.
O Ministério da Educação e alguns secretários da Educação dos Estados sustentam que essa queda, no caso das escolas públicas, aconteceu principalmente por causa da expansão da matrícula, que trouxe um perfil de aluno mais carente e menos preparado para o sistema de ensino.
Esse mesmo argumento não pode ser usado para explicar o desempenho de alunos da rede particular ensino. Segundo o Censo Escolar do MEC, da 1ª à 8ª série do ensino fundamental, a rede de ensino particular perdeu 465 mil alunos de 1996 para 1999. No ano passado, o número de alunos da rede privada nesse nível de ensino era de 2,728 milhões. O mesmo fenômeno de queda nas matrículas aconteceu no ensino médio.
A presidente do Inep (órgão do MEC que organizou a avaliação), Maria Helena Guimarães de Castro, diz não saber ao certo o motivo da queda na rede particular. Para ela, no entanto, a resposta pode estar em uma crise que a escola enfrenta em todo o mundo.
"Tenho participado de vários seminários internacionais onde representantes de países desenvolvidos, como França, Inglaterra e Japão, estão discutindo a reforma do currículo. Os educadores têm se perguntado se a escola, pública ou particular, está atendendo as expectativas da criança e do jovem de hoje", diz Maria Helena. Ela afirma que, na França e na Inglaterra, há um problema preocupante de evasão escolar.
Para o presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Francisco Aparecido Cordão, o aluno de hoje é muito diferente do de dez anos atrás e as escolas, públicas e particulares, têm dificuldades de enfrentar essa mudança.
"A escola tem que ser outra. Ela hoje compete com outros meios de informação mais interativos e interessantes aos jovens e crianças do que uma aula expositiva de um professor, por exemplo", diz.


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