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SAÚDE
Segundo órgão do Ministério da Saúde, envelhecimento da população e aumento da urbanização colaboraram para o fenômeno
Cresce risco de morte por câncer no país
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
No intervalo entre duas décadas, o risco de morte por câncer
no Brasil aumentou tanto para
homens quanto para mulheres. A
mudança é consequência do envelhecimento e da urbanização da
população e da maior exposição a
fatores de risco, como má alimentação, sedentarismo e tabagismo.
A conclusão é do "Atlas de Mortalidade por Câncer no Brasil",
que analisa o período entre 1979 e
1999, divulgado ontem pelo Inca
(Instituto Nacional de Câncer).
Segundo a publicação, em 1979,
60 em cada 100 mil homens morriam por causa da doença. Em
1999, a proporção aumentou para
80. O mesmo aconteceu com as
mulheres. No período de 20 anos,
o número de vítimas passou de 40
para 60 a cada grupo de 100 mil.
"Isso já era esperado. Uma vez
vencidas as mortes por doenças
como as infecto-parasitárias, o
que aconteceu nos últimos anos, e
o consequente envelhecimento da
população, a contração de câncer
acaba sendo mais comum, assim
como as mortes causadas por
ele", disse Marceli de Oliveira, do
departamento de epidemiologia e
vigilância do Inca.
O atlas também mediu os anos
perdidos decorrentes das mortes
por câncer. O indicador Anos Potenciais de Vida Perdidos mostrou um aumento entre os períodos que vão de 1979 a 1983 e de
1995 a 1999: de 6,7 para 7,4 anos.
No fim dos anos 70, o câncer representava 8% das mortes no
país. Em 1999, 13%. Em 20 anos,
esse mal foi a terceira maior causa
de morte por doença no Brasil.
Hoje, já ocupa a segunda posição.
Entre as mulheres, houve aumento das mortes por câncer de
mama (de 5, 7 para 9,7 mulheres
para cada grupo de 100 mil) e de
pulmão (de 2,3 para 5,1 para cada
100 mil mulheres). Mais uma vez,
os efeitos da urbanização são responsáveis pelo crescimento, pois
deixam a mulher mais exposta a
fatores de risco, como tabagismo,
menopausa tardia e dieta alimentar rica em gordura.
O câncer de colo do útero também cresceu. Baixas condições
socioeconômicas, atividade sexual precoce, grande número de
parceiros sexuais e tabagismo são
algumas razões para a evolução.
No universo masculino, as mortes causadas pelos cânceres de
pulmão e e de próstata foram as
que mais aumentaram. Entre
1979 e 1999, as mortes provocadas
por câncer de pulmão passaram
de 7,7 para 12,09 homens em cada
100 mil. Os óbitos por câncer de
próstata passaram de 3,7 para 8,9
homens no mesmo universo.
"Os homens morrem mais do
que as mulheres. Isso ocorre porque, além de a doença ser mais
agressiva contra eles, as mulheres
procuram orientação médica
com mais frequência, conseguindo prevenir e tratar o câncer, o
que, em muitos casos, exclui o risco de morte", disse Oliveira.
A evolução do câncer de estômago aconteceu de maneira diferente. No período de 20 anos, as
mortes causadas pela doença diminuíram tanto entre os homens
quando entre as mulheres.
Segundo o Inca, uma explicação
possível é a melhoria nos cuidados com a alimentação. O consumo de frutas e vegetais frescos e a
diminuição na ingestão de sal e
alimentos defumados e enlatados
-muito comum no período pós-Segunda Guerra Mundial- seriam algumas das razões.
O atlas distribui a doença por
Estados, revelando que as maiores taxas de mortalidade estão nas
regiões mais desenvolvidas do
Brasil (Sul e Sudeste). Isso acontece porque é nelas em que a expectativa de vida é mais alta e também é onde as pessoas estão mais
expostas aos fatores de risco ligados à urbanização.
Rio de Janeiro, São Paulo e Rio
Grande do Sul apresentavam as
maiores taxas de mortalidade por
câncer do país, tanto entre os homens quanto entre as mulheres,
no período entre 1995 e 1999.
Para cada 100 mil homens, os
mortos em decorrência da doença
eram de 111,3, 104,1 e 139,4, respectivamente. Entre as mulheres
as taxas são: 95,4, 81, 3 e 105,11,
respectivamente nos Estados.
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