São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Segundo órgão do Ministério da Saúde, envelhecimento da população e aumento da urbanização colaboraram para o fenômeno

Cresce risco de morte por câncer no país

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

No intervalo entre duas décadas, o risco de morte por câncer no Brasil aumentou tanto para homens quanto para mulheres. A mudança é consequência do envelhecimento e da urbanização da população e da maior exposição a fatores de risco, como má alimentação, sedentarismo e tabagismo.
A conclusão é do "Atlas de Mortalidade por Câncer no Brasil", que analisa o período entre 1979 e 1999, divulgado ontem pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Segundo a publicação, em 1979, 60 em cada 100 mil homens morriam por causa da doença. Em 1999, a proporção aumentou para 80. O mesmo aconteceu com as mulheres. No período de 20 anos, o número de vítimas passou de 40 para 60 a cada grupo de 100 mil.
"Isso já era esperado. Uma vez vencidas as mortes por doenças como as infecto-parasitárias, o que aconteceu nos últimos anos, e o consequente envelhecimento da população, a contração de câncer acaba sendo mais comum, assim como as mortes causadas por ele", disse Marceli de Oliveira, do departamento de epidemiologia e vigilância do Inca.
O atlas também mediu os anos perdidos decorrentes das mortes por câncer. O indicador Anos Potenciais de Vida Perdidos mostrou um aumento entre os períodos que vão de 1979 a 1983 e de 1995 a 1999: de 6,7 para 7,4 anos.
No fim dos anos 70, o câncer representava 8% das mortes no país. Em 1999, 13%. Em 20 anos, esse mal foi a terceira maior causa de morte por doença no Brasil. Hoje, já ocupa a segunda posição.
Entre as mulheres, houve aumento das mortes por câncer de mama (de 5, 7 para 9,7 mulheres para cada grupo de 100 mil) e de pulmão (de 2,3 para 5,1 para cada 100 mil mulheres). Mais uma vez, os efeitos da urbanização são responsáveis pelo crescimento, pois deixam a mulher mais exposta a fatores de risco, como tabagismo, menopausa tardia e dieta alimentar rica em gordura.
O câncer de colo do útero também cresceu. Baixas condições socioeconômicas, atividade sexual precoce, grande número de parceiros sexuais e tabagismo são algumas razões para a evolução.
No universo masculino, as mortes causadas pelos cânceres de pulmão e e de próstata foram as que mais aumentaram. Entre 1979 e 1999, as mortes provocadas por câncer de pulmão passaram de 7,7 para 12,09 homens em cada 100 mil. Os óbitos por câncer de próstata passaram de 3,7 para 8,9 homens no mesmo universo.
"Os homens morrem mais do que as mulheres. Isso ocorre porque, além de a doença ser mais agressiva contra eles, as mulheres procuram orientação médica com mais frequência, conseguindo prevenir e tratar o câncer, o que, em muitos casos, exclui o risco de morte", disse Oliveira.
A evolução do câncer de estômago aconteceu de maneira diferente. No período de 20 anos, as mortes causadas pela doença diminuíram tanto entre os homens quando entre as mulheres.
Segundo o Inca, uma explicação possível é a melhoria nos cuidados com a alimentação. O consumo de frutas e vegetais frescos e a diminuição na ingestão de sal e alimentos defumados e enlatados -muito comum no período pós-Segunda Guerra Mundial- seriam algumas das razões.
O atlas distribui a doença por Estados, revelando que as maiores taxas de mortalidade estão nas regiões mais desenvolvidas do Brasil (Sul e Sudeste). Isso acontece porque é nelas em que a expectativa de vida é mais alta e também é onde as pessoas estão mais expostas aos fatores de risco ligados à urbanização.
Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul apresentavam as maiores taxas de mortalidade por câncer do país, tanto entre os homens quanto entre as mulheres, no período entre 1995 e 1999.
Para cada 100 mil homens, os mortos em decorrência da doença eram de 111,3, 104,1 e 139,4, respectivamente. Entre as mulheres as taxas são: 95,4, 81, 3 e 105,11, respectivamente nos Estados.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Sobre rodas: Dança propõe novo olhar sobre deficiente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.