São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOBRE RODAS

No Campeonato Brasileiro de Dança em Cadeira de Rodas, em Campinas, participantes mostraram manobras

Dança propõe novo olhar sobre deficiente

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

Na elegância do negro de seus trajes, a dupla Anete Cruz e Luis Antonio Cabral entra no salão sob aplausos e a provocação do samba "Aquarela do Brasil". Olho no olho, gestos sincronizados, movimentos ágeis e surpreendentes, os dois percorrem o salão sob a admiração do público e do olhar "pontuador" dos jurados.
O ritual segue as regras de um concurso de dança de salão, como tantos outros. A diferença é que além dos dois pares há uma cadeira de rodas, e que o item mais valorizado são os movimentos de quem perdeu boa parte dos movimentos. Cabral, 37, ficou paraplégico dez anos atrás num acidente de carro. Anete, hoje sua mulher, conheceu-o nos carnavais de Salvador, onde os dois costumam "sambar" por cinco dias e cinco noites.
O cadeirante Cabral e a andante Anete formam uma das 13 duplas que na noite da terça-feira participaram do 1º Campeonato Brasileiro de Esporte Dança em Cadeira de Rodas. A apresentação aconteceu na Sociedade Hípica de Campinas e o evento -histórico no país e na América Latina- faz parte do 2º Simpósio Internacional de Dança em Cadeira de Rodas promovido pela Unicamp, a Universidade de Campinas.
Num país de tantos ritmos e musicalidades, criatividade e dança não surpreendem ninguém. Mas num país onde parte dos cadeirantes nem cadeira de rodas tem, o simpósio internacional e o primeiro campeonato da "categoria" significam um novo olhar sobre um universo ainda excluído e discriminado.
O esporte dança em cadeira de rodas, ou dança de salão, segue as regras estabelecidas pela Federação Internacional de Dança em Cadeiras de Rodas que, por sua vez, está ligada ao Comitê Paraolímpico Internacional. Diante de regras preestabelecidas, jurados internacionais estabelecem quem são os melhores. O primeiro campeonato internacional aconteceu em 1992. O campeonato de ontem foi vencido pela dupla santista Célia Regina Diniz e Alexandre Siqueira.
Esse é o lado esportivo e competitivo desse tipo de dança. O outro tipo é a dança artística, onde os grupos agem com toda liberdade, misturando cadeirantes e andantes e elaborando coreografias variadas. Dois numa cadeira de rodas, três empurrando uma cadeira de rodas, vale tudo.
Uma apresentação desse tipo de dança acontece hoje à noite, no Sesc Campinas, na 2ª Mostra de Dança em Cadeira de Rodas, também dentro do simpósio internacional. São cerca de 30 grupos do país inteiro que mostram suas coreografias. "Esse tipo de dança envolve todos os ritmos, pode ser individual, combinada, em grupo", diz Maria Beatriz Rocha Ferreira, coordenadora geral do simpósio, antropóloga e professora de educação física da Unicamp. Maria Beatriz já dirigiu o Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada, uma área de pesquisa sobre todos os tipos de deficiência. A iniciativa de promover o simpósio internacional de dança em cadeira de rodas nasceu desse grupo de pesquisadores.
Eliana Lúcia Ferreira, outra coordenadora do simpósio, é presidente da Confederação Brasileira de Dança em Cadeira de Rodas e está preparando o primeiro doutorado no Brasil sobre o assunto. "No Brasil, não há academias nem universidades que se dedicam a essa questão", ela diz.


Para assistir à apresentação da Mostra de Dança em Cadeira de Rodas hoje à noite, no Sesc Campinas, é preciso retirar ingressos antes; endereço: rua Dom José I, Bonfim


Texto Anterior: Saúde: Cresce risco de morte por câncer no país
Próximo Texto: Disputa tem "Aquarela do Brasil"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.