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SOBRE RODAS
No Campeonato Brasileiro de Dança em Cadeira de Rodas, em Campinas, participantes mostraram manobras
Dança propõe novo olhar sobre deficiente
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
Na elegância do negro de seus
trajes, a dupla Anete Cruz e Luis
Antonio Cabral entra no salão sob
aplausos e a provocação do samba "Aquarela do Brasil". Olho no
olho, gestos sincronizados, movimentos ágeis e surpreendentes, os
dois percorrem o salão sob a admiração do público e do olhar
"pontuador" dos jurados.
O ritual segue as regras de um
concurso de dança de salão, como
tantos outros. A diferença é que
além dos dois pares há uma cadeira de rodas, e que o item mais valorizado são os movimentos de
quem perdeu boa parte dos movimentos. Cabral, 37, ficou paraplégico dez anos atrás num acidente
de carro. Anete, hoje sua mulher,
conheceu-o nos carnavais de Salvador, onde os dois costumam
"sambar" por cinco dias e cinco
noites.
O cadeirante Cabral e a andante
Anete formam uma das 13 duplas
que na noite da terça-feira participaram do 1º Campeonato Brasileiro de Esporte Dança em Cadeira de Rodas. A apresentação
aconteceu na Sociedade Hípica de
Campinas e o evento -histórico
no país e na América Latina- faz
parte do 2º Simpósio Internacional de Dança em Cadeira de Rodas promovido pela Unicamp, a
Universidade de Campinas.
Num país de tantos ritmos e
musicalidades, criatividade e dança não surpreendem ninguém.
Mas num país onde parte dos cadeirantes nem cadeira de rodas
tem, o simpósio internacional e o
primeiro campeonato da "categoria" significam um novo olhar sobre um universo ainda excluído e
discriminado.
O esporte dança em cadeira de
rodas, ou dança de salão, segue as
regras estabelecidas pela Federação Internacional de Dança em
Cadeiras de Rodas que, por sua
vez, está ligada ao Comitê Paraolímpico Internacional. Diante de
regras preestabelecidas, jurados
internacionais estabelecem quem
são os melhores. O primeiro campeonato internacional aconteceu
em 1992. O campeonato de ontem
foi vencido pela dupla santista Célia Regina Diniz e Alexandre Siqueira.
Esse é o lado esportivo e competitivo desse tipo de dança. O outro
tipo é a dança artística, onde os
grupos agem com toda liberdade,
misturando cadeirantes e andantes e elaborando coreografias variadas. Dois numa cadeira de rodas, três empurrando uma cadeira de rodas, vale tudo.
Uma apresentação desse tipo de
dança acontece hoje à noite, no
Sesc Campinas, na 2ª Mostra de
Dança em Cadeira de Rodas, também dentro do simpósio internacional. São cerca de 30 grupos do
país inteiro que mostram suas coreografias. "Esse tipo de dança envolve todos os ritmos, pode ser individual, combinada, em grupo",
diz Maria Beatriz Rocha Ferreira,
coordenadora geral do simpósio,
antropóloga e professora de educação física da Unicamp. Maria
Beatriz já dirigiu o Departamento
de Estudos da Atividade Física
Adaptada, uma área de pesquisa
sobre todos os tipos de deficiência. A iniciativa de promover o
simpósio internacional de dança
em cadeira de rodas nasceu desse
grupo de pesquisadores.
Eliana Lúcia Ferreira, outra
coordenadora do simpósio, é presidente da Confederação Brasileira de Dança em Cadeira de Rodas
e está preparando o primeiro
doutorado no Brasil sobre o assunto. "No Brasil, não há academias nem universidades que se
dedicam a essa questão", ela diz.
Para assistir à apresentação da Mostra
de Dança em Cadeira de Rodas hoje à
noite, no Sesc Campinas, é preciso retirar ingressos antes; endereço: rua Dom
José I, Bonfim
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