São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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TRANSPORTE

Para obter juros menores, empresas de ônibus querem que prefeita repasse arrecadação das tarifas aos bancos

Viações negociam aval para empréstimo

ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários de ônibus querem envolver a prefeitura nas negociações com os bancos para a obtenção de empréstimos que seriam destinados ao 13º salário de motoristas, cujo pagamento tem que ser feito no final desta semana.
A intenção das viações é que a prefeita Marta Suplicy avalize um acordo com a seguinte regra: em vez de dar a arrecadação da tarifa aos empresários, ela faria os repasses diretamente aos bancos para pagar a quantia financiada.
A estratégia facilitaria a conquista de empréstimos com juros menores, já que os pagamentos seriam responsabilidade do governo. As viações de ônibus não têm crédito no mercado por causa da situação financeira e de dívidas não quitadas em outros anos.
O presidente do Transurb (sindicato patronal), Sérgio Pavani, se reuniu ontem à tarde com Jilmar Tatto, secretário dos Transportes, para apresentar a proposta.
Após se encontrar com Marta no final da tarde, Tatto deu declarações contraditórias sobre a possível ajuda. Primeiro disse que não via problemas na operação: "Se não tiver prejuízo de dinheiro público e for algo para facilitar a situação que a empresa está tendo, não tem por que não fazer".
Depois, ressalvou que a possibilidade ainda não havia sido cogitada pela administração e que não é função do governo interferir em um problema empresarial. "Em nenhum momento a prefeitura vai ser avalista e em nenhum momento vamos interferir na relação empregado-patrão."
O pedido empresarial se assemelha à anuência da SPTrans (São Paulo Transporte, órgão municipal que cuida do setor) a um acordo feito na madrugada de ontem para acabar com a greve na Expresso Paulistano. Se a empresa não pagar a dívida, cabe à prefeitura retirar a quantia dos créditos que ela tem da arrecadação do sistema de ônibus.
Dois técnicos de gestões anteriores ouvidos pela Folha avaliam que os riscos de uma operação dessas depende das cláusulas contratuais. O receio é que prefeitura tenha prejuízo caso as viações entrem em falência ou deixem de operar, por exemplo.
Embora Tatto tenha dado sinais contraditórios sobre essa possibilidade, trabalhadores e donos de viações se mostraram otimistas após reuniões com técnicos do governo. Durante a madrugada, grandes empresários, como Belarmino Marta e José Ruas Vaz, foram representados em uma reunião com a SPTrans para resolver a greve na Expresso Paulistano, que já durava seis dias.

Tarifa
Francisco Xavier da Silva Filho, da diretoria do sindicato dos motoristas, diz ter sentido disposição de Tatto para negociar mudanças na remuneração das empresas de ônibus -por exemplo, sobre uma forma de as gratuidades de quem faz baldeações e dos carteiros não serem, no futuro, bancadas pelas empresas.
"Existe um custo que precisa ser pago pelo poder público", afirmou o sindicalista.
O novo secretário, segundo ele, disse que os motoristas terão participação para discutir possíveis mudanças na licitação da prefeitura para selecionar novos operadores em 2003. Sobre a tarifa, Silva Filho, após dois dias de proximidade da categoria com Tatto, disse estar convencido de que "ela não ficará abaixo de R$ 1,70".
Depois de Marta ter dado "razão" às reivindicações empresarias pela elevação da tarifa de ônibus, Tatto sinalizou ontem que a decisão pode demorar. Embora admita que há estudos, disse que esse tema "não está na pauta do dia-a-dia da prefeitura" e chegou a falar em uma definição apenas em 2003. "Se vai ser neste ano ou no ano que vem, é outra história."
Segundo ele, "não existe debate" para um reajuste tarifário até a semana que vem.


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