São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Tragédia era imprevisível, diz Defesa Civil

Para coordenador estadual da Defesa Civil de SC, levantamento é importante, mas "mapear por mapear" não adianta

Márcio Luiz Alves diz que, nos anos 1980, a população de Blumenau ocupou morros por conta do medo das enchentes

DA REPORTAGEM LOCAL

Coordenador da Defesa Civil de Santa Catarina, o major Márcio Luiz Alves admite a falta do mapeamento nas áreas de risco do Estado, mas minimiza o problema. "Área de risco existe em qualquer lugar do Brasil e do mundo. Mapear só por mapear, não vejo motivo."
Para ele, era impossível de se prever essa tragédia. Leia abaixo trechos da entrevista, concedida anteontem.

PREVISÃO DO TEMPO
Nós temos um sistema de meteorologia que funciona maravilhosamente bem. É o mesmo sistema de meteorologia que, em 2004, detectou o furacão [Catarina], foi acompanhando, definiu a área de trajetória e o impacto, contrariando inclusive a análise do Inpe, que dizia que nada ia acontecer.

PREVENÇÃO
Nós pegamos a previsão climatológica para três meses e fazemos um comparativo do que tem de previsão climatológica e o que tem de desastres registrados nos últimos 20 anos para ver a freqüência. Esse cruzamento nos dá uma probabilidade de ocorrências.
Na entrada da primavera nós fizemos essa análise. E fizemos um comunicado pela televisão dizendo o seguinte: a primavera será muito chuvosa, com riscos de inundações, vendavais, tornados e deslizamentos. Isso foi feito no programa do SBT e está gravado. Depois, nós fizemos os alertas de desastres.

ALERTA
Nós fizemos alerta. Temos programa na TV. Eu sou o comentarista desse programa. Eu vou para a TV e explico o que é um deslizamento, como deve se comportar. Você tem que sair à noite com a lanterna, dar a volta em casa e olhar se há deslocamento de terra, se há movimento de pedras, se há inclinação dos postes. Reveze com a mulher, com os filhos, faça isso várias vezes na madrugada.

BLUMENAU
Blumenau tem característica diferente. Em 1984, o povo foi pego pelas enchentes [ele se refere a 1983, com 49 mortos]. O que o povo de Blumenau pensou? O rio é nosso inimigo, eu não posso morar perto do rio. Então, para onde vou? Onde o rio não pega, no morro. E não foi pobre que foi morar no morro. O lugar em que morreu mais gente é uma reserva natural, preservada. Choveu mais de mil milímetros. É para chover 170 milímetros num mês.

SEM PREVISÃO
O maior adivinhador, o maior pessimista deste Brasil, ninguém imaginava que isso podia acontecer.

ALIMENTOS
Como é que eu vou fazer chegar 100 toneladas de alimentos a um local em que nem um tanque de guerra passa? Nós compramos tudo o que tem de água. Não falta dinheiro.

ÁREAS DE RISCO
Se aquela área que deslizou, Morro do Baú, aquilo eu deveria considerar área de risco? Você colocaria uma área de preservação permanente, totalmente coberta de vegetação, como área de risco? Ali, meu amigo, morreram nada mais nada menos que 17 pessoas. Todos os questionamentos vão levar a uma única resposta: morreu gente e poderia ser evitado. Agora, eu não acredito que poderia ser evitado esse desastre. (EVANDRO SPINELLI)


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