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Chuva volta, e moradores se desesperam em Blumenau
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BLUMENAU
MOACYR LOPES JÚNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
O desmoronamento de parte
de um cemitério em Blumenau
fez com que a equipe da Folha
fosse ao bairro Progresso, um
dos mais atingidos pela tragédia na cidade, e constatasse de
perto o medo que toma conta
dos moradores quando começa
a chover forte no local.
Antes da chuva, em uma das
ruas, Sinésio Formento, 52, dá
informações a motoristas de
veículos que buscam seguir caminho em meio a vias cobertas
por terra e lama. Na casa de Sinésio, a menos de 20 metros de
um ribeirão que transbordou
no final de semana, vivem com
ele outros cinco familiares.
No local, ontem, havia outras
nove pessoas que tiveram que
deixar seus imóveis, a maior
parte parentes de Sinésio.
Durante a conversa, começa
a chover forte na rua e a reportagem busca abrigo na casa da
família. Atrás do imóvel há um
morro que já afetou mais casas
da região. Com a chuva forte, a
energia cai. Um vizinho diz: "Se
ouvirem estalos deixem a casa". A família Formento só troca olhares apreensivos.
"Quando isso vai acabar?",
questiona Sinésio. Ele mora na
área desde 1978. Na enchente
de 1983, diz não ter sido atingido. "Só havia enxurrada, mas
logo tudo se normalizou."
Enquanto a chuva que durou
cerca de 20 minutos não dá trégua, eles observam as águas do
temido ribeirão Garcia.
"De um lado é água, do outro
é terra. Tenho medo de que o
morro caia", diz a mulher de Sinésio, Marlene Formento, 52.
A chuva cessa. Ao sair de lá e
seguir em frente, parte da pista
foi engolida pelo transbordamento do ribeirão. Pontes
rompidas só possibilitavam a
passagem de motos. Militares
tentavam reconstruí-las.
No cemitério do bairro, caixões foram levados por um
desmoronamento na segunda.
"Nunca vimos nada igual. Havia caixões abertos enfiados no
morro. Estamos em meio a um
campo de guerra", diz a comerciante Iara Zimmermann, 39.
Ao subir o morro e entrar no
cemitério, a reportagem encontra o consultor técnico
Marcos Fernandes, 38. Ao saber do desmoronamento, ele
foi tentar localizar os túmulos
da mãe e da avó. Só havia conseguido encontrar o da mãe.
Em todo o bairro, pessoas
passam carregando o que é
possível de suas casas condenadas. Enquanto isso, volta a chover em Blumenau.
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