São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Chuva volta, e moradores se desesperam em Blumenau

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BLUMENAU
MOACYR LOPES JÚNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

O desmoronamento de parte de um cemitério em Blumenau fez com que a equipe da Folha fosse ao bairro Progresso, um dos mais atingidos pela tragédia na cidade, e constatasse de perto o medo que toma conta dos moradores quando começa a chover forte no local.
Antes da chuva, em uma das ruas, Sinésio Formento, 52, dá informações a motoristas de veículos que buscam seguir caminho em meio a vias cobertas por terra e lama. Na casa de Sinésio, a menos de 20 metros de um ribeirão que transbordou no final de semana, vivem com ele outros cinco familiares.
No local, ontem, havia outras nove pessoas que tiveram que deixar seus imóveis, a maior parte parentes de Sinésio.
Durante a conversa, começa a chover forte na rua e a reportagem busca abrigo na casa da família. Atrás do imóvel há um morro que já afetou mais casas da região. Com a chuva forte, a energia cai. Um vizinho diz: "Se ouvirem estalos deixem a casa". A família Formento só troca olhares apreensivos.
"Quando isso vai acabar?", questiona Sinésio. Ele mora na área desde 1978. Na enchente de 1983, diz não ter sido atingido. "Só havia enxurrada, mas logo tudo se normalizou."
Enquanto a chuva que durou cerca de 20 minutos não dá trégua, eles observam as águas do temido ribeirão Garcia.
"De um lado é água, do outro é terra. Tenho medo de que o morro caia", diz a mulher de Sinésio, Marlene Formento, 52.
A chuva cessa. Ao sair de lá e seguir em frente, parte da pista foi engolida pelo transbordamento do ribeirão. Pontes rompidas só possibilitavam a passagem de motos. Militares tentavam reconstruí-las.
No cemitério do bairro, caixões foram levados por um desmoronamento na segunda. "Nunca vimos nada igual. Havia caixões abertos enfiados no morro. Estamos em meio a um campo de guerra", diz a comerciante Iara Zimmermann, 39.
Ao subir o morro e entrar no cemitério, a reportagem encontra o consultor técnico Marcos Fernandes, 38. Ao saber do desmoronamento, ele foi tentar localizar os túmulos da mãe e da avó. Só havia conseguido encontrar o da mãe.
Em todo o bairro, pessoas passam carregando o que é possível de suas casas condenadas. Enquanto isso, volta a chover em Blumenau.


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