São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Em segundos, avalanche destrói uma casa

Reportagem foi a Ilhota, onde 11 pessoas morreram, e presenciou deslizamento de terra que destruiu imóvel na tarde de ontem

Partes do bairro tinham cheiro de carniça, devido à morte de animais; em uma casa abandonada, prato exibia restos de arroz

ALENCAR IZIDORO
FERNANDO DONASCI
ENVIADOS A ILHOTA

O morro parecia distante, a praticamente 500 metros, quando as árvores começaram a despencar de uma altura de um prédio de 15 andares. Um mar de lama ganhou velocidade e destruiu a casa onde, havia menos de dez minutos, passaram por lá moradores e quatro jornalistas, acompanhados do vice-prefeito de Ilhota e de um bombeiro.
A cena ocorreu no final da tarde de ontem no Braço do Baú, uma das regiões mais afetadas pela chuva em Santa Catarina, e levou equipes do Exército a preparar um plano emergencial para a saída dos moradores devido ao temor de que a avalanche de água e terra atingisse inclusive a igreja onde estavam os desabrigados.
Moradores falavam na existência de mais de uma dezena de novas vítimas e ônibus seriam deslocados no final da noite para buscar adultos e crianças desesperados com a possibilidade de novos deslizamentos.

Isolamento
Após ficar isolada por via terrestre durante cinco dias, a área teve ontem os primeiros acessos por alguns automóveis, caminhões e tratores.
A reportagem foi ao local acompanhada do bombeiro Joel Maciel, 28, e, em seguida, do vice-prefeito Antônio Schmitz, 49, morador da região onde as autoridades contavam ao menos 11 mortos e três desaparecidos nos últimos dias.
Em algumas partes do bairro, onde vivem cerca de 1.200 habitantes, cheiravam a carniça, principalmente devido à morte de animais como bois, porcos e cachorros.

Abandono
As casas de alto padrão que não foram abaixo estavam abandonadas e tinham suas piscinas invadidas pela lama.
Num dos imóveis, a mesa da cozinha ainda exibia um prato com restos de arroz -indício de que seus moradores saíram às pressas do local.
Em outro, um Palio parecia inutilizado pela lama que encobria seus pneus. Em menos de dez minutos também estava debaixo da terra, assim como a casa vizinha ao veículo.
O barulho da avalanche indicava que aquele movimento repentino de terra, após uma chuva leve, mas insistente, poderia prosseguir. Depois de atravessar ruas com lama até a altura da barriga, os jornalistas e seus acompanhantes seguiram até a igreja, onde estavam mais de cem desalojados nos últimos dias.
O clima era de medo e preocupação com a possibilidade de a avalanche ganhar força e chegar até lá. Crianças e mulheres choravam.


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