|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em segundos, avalanche destrói uma casa
Reportagem foi a Ilhota, onde 11 pessoas morreram, e presenciou deslizamento de terra que destruiu imóvel na tarde de ontem
Partes do bairro tinham cheiro de carniça, devido à morte de animais; em uma casa abandonada, prato exibia restos de arroz
ALENCAR IZIDORO
FERNANDO DONASCI
ENVIADOS A ILHOTA
O morro parecia distante, a
praticamente 500 metros,
quando as árvores começaram
a despencar de uma altura de
um prédio de 15 andares. Um
mar de lama ganhou velocidade
e destruiu a casa onde, havia
menos de dez minutos, passaram por lá moradores e quatro
jornalistas, acompanhados do
vice-prefeito de Ilhota e de um
bombeiro.
A cena ocorreu no final da
tarde de ontem no Braço do
Baú, uma das regiões mais afetadas pela chuva em Santa Catarina, e levou equipes do Exército a preparar um plano emergencial para a saída dos moradores devido ao temor de que a
avalanche de água e terra atingisse inclusive a igreja onde estavam os desabrigados.
Moradores falavam na existência de mais de uma dezena
de novas vítimas e ônibus
seriam deslocados no final
da noite para buscar adultos
e crianças desesperados com
a possibilidade de novos deslizamentos.
Isolamento
Após ficar isolada por via terrestre durante cinco dias, a área
teve ontem os primeiros acessos por alguns automóveis, caminhões e tratores.
A reportagem foi ao local
acompanhada do bombeiro
Joel Maciel, 28, e, em seguida,
do vice-prefeito Antônio
Schmitz, 49, morador da região
onde as autoridades contavam
ao menos 11 mortos e três desaparecidos nos últimos dias.
Em algumas partes do bairro,
onde vivem cerca de 1.200 habitantes, cheiravam a carniça,
principalmente devido à morte
de animais como bois, porcos e
cachorros.
Abandono
As casas de alto padrão que
não foram abaixo estavam
abandonadas e tinham suas
piscinas invadidas pela lama.
Num dos imóveis, a mesa da
cozinha ainda exibia um prato
com restos de arroz -indício
de que seus moradores saíram
às pressas do local.
Em outro, um Palio parecia
inutilizado pela lama que encobria seus pneus. Em menos de
dez minutos também estava
debaixo da terra, assim como a
casa vizinha ao veículo.
O barulho da avalanche indicava que aquele movimento repentino de terra, após uma
chuva leve, mas insistente, poderia prosseguir. Depois de
atravessar ruas com lama até a
altura da barriga, os jornalistas
e seus acompanhantes seguiram até a igreja, onde estavam
mais de cem desalojados nos
últimos dias.
O clima era de medo e preocupação com a possibilidade de
a avalanche ganhar força e chegar até lá. Crianças e mulheres
choravam.
Texto Anterior: Artigo: No século 19, enchentes já faziam parte do cotidiano Próximo Texto: Volta à rotina é dificultada pela falta de recursos Índice
|