São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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CONFRONTO NO RIO

Acuados, traficantes apelam para negociador

Blindados estão prontos para ocupar o Complexo do Alemão

Mediador do conflito diz que criminosos estão divididos, mas afirma que eles não querem ir para o enfrentamento

DO RIO

Com o Complexo do Alemão cercado por 800 soldados do Exército, blindados da Marinha e centenas de policiais civis e militares, cerca de 600 traficantes encurralados passaram a tarde de ontem negociando uma saída.
Parte deles quer se entregar, mas muitos não, disse o mediador de conflitos e coordenador do AfroReggae, José Júnior, chamado pelos traficantes para negociar. "Ninguém falou que quer ir para o enfrentamento", afirmou.
O AfroReggae é uma ONG que emprega ex-traficantes e ex-presidiários e atua em favelas conflagradas do Rio de Janeiro para tentar minimizar os efeitos dos confrontos.
Durante todo o dia o clima foi de muita tensão. Moradores carregando o que podiam -micro-ondas, fogões, cadeiras, sacos cheios de roupas- deixavam suas casas.
A fuga só cessava quando começavam os tiroteios, para recomeçar quando havia trégua. Às 21h30, rajadas de tiros ainda eram ouvidas no complexo. Balas traçantes, que deixam um rastro de luz, cruzavam o céu da região.
O medo dos moradores era ampliado pela intensa movimentação de veículos militares e carros de polícia, o que indicava que a ocupação da área estava sendo preparada.
Apesar da movimentação, da distribuição de óculos de visão noturna para alguns policiais e de declarações do porta-voz da PM, coronel Lima Castro, de que a invasão poderia ocorrer a qualquer momento, o comandante do Batalhão de Choque, coronel Valdir Soares, afirmava que ela só seria feita à luz do dia.
Segundo o general Fernando José Sardenberg, comandante do Exército na operação, mais 800 homens irão reforçar o cerco. A ordem, de acordo com o general, "é não atirar a esmo".

RENDIÇÃO
De manhã, o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, havia pedido que os bandidos se entregassem, com as armas sobre as cabeças. "Não vamos recuar, estamos chegando nos momentos finais para a retomada do Alemão. Temos toda a superioridade neste momento."
Suspeitos tentaram escapar ao cerco misturando-se aos moradores -31 foram levados para averiguação, mas só dois ficaram presos.
Ao longo do dia, houve apreensões de armas, munição e drogas. Numa delas, na Vila Cruzeiro, a Polícia Civil encontrou 132 bananas de dinamite, um circuito de câmeras de segurança que vigiava as entradas da favela e dez picapes novas. Em outros locais foram encontrados seis fuzis, 900 kg de maconha, munição e fardas semelhantes às do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM).
No restante da região metropolitana, o dia foi um pouco menos tenso. Quatro carros foram incendiados na Baixada Fluminense. No Jacarezinho, zona norte, um menino de 8 anos foi baleado na perna por um homem após se recusar, segundo a polícia, a incendiar uma moto -o menino passa bem.
(CIRILO JUNIOR, PLÍNIO FRAGA, JANAINA LAGE E ROGÉRIO PAGNAN)


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