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CONFRONTO NO RIO
Acuados, traficantes apelam para negociador
Blindados estão prontos para ocupar o Complexo do Alemão
Mediador do conflito diz que criminosos estão divididos, mas afirma que eles não querem ir para o enfrentamento
DO RIO
Com o Complexo do Alemão cercado por 800 soldados do Exército, blindados
da Marinha e centenas de policiais civis e militares, cerca
de 600 traficantes encurralados passaram a tarde de ontem negociando uma saída.
Parte deles quer se entregar, mas muitos não, disse o
mediador de conflitos e coordenador do AfroReggae, José
Júnior, chamado pelos traficantes para negociar. "Ninguém falou que quer ir para o
enfrentamento", afirmou.
O AfroReggae é uma ONG
que emprega ex-traficantes e
ex-presidiários e atua em favelas conflagradas do Rio de
Janeiro para tentar minimizar os efeitos dos confrontos.
Durante todo o dia o clima
foi de muita tensão. Moradores carregando o que podiam
-micro-ondas, fogões, cadeiras, sacos cheios de roupas- deixavam suas casas.
A fuga só cessava quando
começavam os tiroteios, para
recomeçar quando havia trégua. Às 21h30, rajadas de tiros ainda eram ouvidas no
complexo. Balas traçantes,
que deixam um rastro de luz,
cruzavam o céu da região.
O medo dos moradores era
ampliado pela intensa movimentação de veículos militares e carros de polícia, o que
indicava que a ocupação da
área estava sendo preparada.
Apesar da movimentação,
da distribuição de óculos de
visão noturna para alguns
policiais e de declarações do
porta-voz da PM, coronel Lima Castro, de que a invasão
poderia ocorrer a qualquer
momento, o comandante do
Batalhão de Choque, coronel
Valdir Soares, afirmava que
ela só seria feita à luz do dia.
Segundo o general Fernando José Sardenberg, comandante do Exército na
operação, mais 800 homens
irão reforçar o cerco. A ordem, de acordo com o general, "é não atirar a esmo".
RENDIÇÃO
De manhã, o comandante
da PM, coronel Mário Sérgio
Duarte, havia pedido que os
bandidos se entregassem,
com as armas sobre as cabeças. "Não vamos recuar, estamos chegando nos momentos finais para a retomada do
Alemão. Temos toda a superioridade neste momento."
Suspeitos tentaram escapar ao cerco misturando-se
aos moradores -31 foram levados para averiguação, mas
só dois ficaram presos.
Ao longo do dia, houve
apreensões de armas, munição e drogas. Numa delas, na
Vila Cruzeiro, a Polícia Civil
encontrou 132 bananas de dinamite, um circuito de câmeras de segurança que vigiava
as entradas da favela e dez
picapes novas. Em outros locais foram encontrados seis
fuzis, 900 kg de maconha,
munição e fardas semelhantes às do Bope (Batalhão de
Operações Especiais da PM).
No restante da região metropolitana, o dia foi um pouco menos tenso. Quatro carros foram incendiados na
Baixada Fluminense. No Jacarezinho, zona norte, um
menino de 8 anos foi baleado
na perna por um homem
após se recusar, segundo a
polícia, a incendiar uma moto -o menino passa bem.
(CIRILO JUNIOR, PLÍNIO FRAGA, JANAINA LAGE E ROGÉRIO PAGNAN)
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