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Governo agora ameaça punir overbooking
Ministro Waldir Pires (Defesa) promete pena rigorosa a quem vender mais passagens que a capacidade, mas não deu detalhes
União também veta novos
vôos fretados para pacotes
turísticos, mas, para
presidente da associação,
medida "não muda nada"
IURI DANTAS
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Temendo um novo caos nos
aeroportos no Réveillon, o governo federal anunciou ontem
que não permitirá mais a prática de overbooking (vender
mais bilhetes do que assentos
disponíveis) e proibiu novos
fretamentos de aviões.
Mas nem o ministro Waldir
Pires (Defesa) nem representantes da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que participaram de uma reunião de
emergência ontem, detalharam
o alcance das medidas e, muito
menos, a eficácia delas para o
feriado. Para as operadoras de
turismo, a decisão é inócua.
Em relação ao caos que vitimou principalmente passageiros da TAM no Natal e que teria
sido provocado pela venda excessiva de bilhetes, Pires prometeu punições "sérias" e "rigorosas". Mas, mais uma vez,
evitou dar mais informações.
Na reunião, além do ministro, participaram representantes da Casa Civil, da Infraero,
da Anac, da Aeronáutica e dos
ministérios das Relações Exteriores e Turismo. Mas o governo não informou o objetivo da
reunião, convocada às pressas.
O problema é que, desde o
início da crise, no final de outubro, o governo ainda não conseguiu evitar novos atrasos e problemas, apesar das promessas
categóricas de melhora.
Ontem, Pires não chegou sequer a explicar como e se companhias aéreas seriam punidas
pela prática de overbooking.
Disse que "não é possível, absolutamente, haver hipótese de se
tolerar qualquer overbooking
de empresa nenhuma".
Mas não há legislação específica que proíba explicitamente
a prática. Além de ser comumente aceita pela Anac, segundo apurou a Folha, desde que
dentro de limites aceitáveis.
Em nota, a agência informou
que levará o assunto em caráter de urgência ao Conselho
Nacional de Aviação Civil, responsável por definir as políticas para o setor.
Enquanto não há norma legal específica, a Anac informou
que pretende se basear em direitos assegurados aos passageiros para conseguir multar as
companhias. Neste caso, o
overbooking seria enquadrado
como "deixar de transportar
passageiro com bilhete marcado, ou com reserva confirmada,
ou de qualquer forma descumprindo o contrato de transporte". A multa seria de até R$
4.000 por passageiro.
A Anac não informou ontem
quantas multas foram aplicadas neste ano por overbooking.
Na entrevista, Pires não citou a TAM, mas em vários momentos fez referência à auditoria da Anac na empresa. Anunciou punições. "Houve faltas
graves, não somente em relação a fretamentos, como em relação a overbooking. Vai haver
sanções sérias. As sanções que
a lei autoriza."
Ontem os atrasos continuaram. Até as 10h30, chegou a
15,4% o total de vôos com demora superior a 60 minutos.
Até as 19h05 de ontem, houve
265 atrasos e 71 cancelamentos, mas a Anac não divulgou o
número total de vôos nem um
balanço completo por causa de
"problemas técnicos".
Em Guarulhos, 19% dos vôos
foram afetados pela manhã e
houve até casos de passageiros
que, irritados com o overbooking, invadiram a pista.
Fretamentos
Sem apresentar detalhes mínimos, o ministro da Defesa
afirmou que estão proibidos
novos fretamentos voltados para a realização de vôos charter.
"Nós queremos também que fique determinado que nenhum
novo fretamento de avião para
vôo charter seja admitido em
hipótese nenhuma."
Técnicos da Anac ouvidos
pela Folha disseram que a medida vigoraria apenas para o
Ano Novo, mas não há certeza.
Para o presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo, José Zuquim, a
medida "não muda nada" na
prática. "Quem vai pedir um
avião para fretar hoje para o
Ano Novo? Não daria nem
tempo para anunciar o pacote."
Embora acusando as empresas pelos transtornos nos últimos dias, Pires admitiu que o
governo possui alguma parcela
de culpa. "É preciso pedir desculpas ao povo brasileiro."
E previu tranqüilidade para
os próximos dias. "O Natal foi
um pouco difícil para todos os
que viajaram, eu vi pessoalmente. Mas o Ano Novo será
um Ano Novo que nós esperamos tranqüilo", disse.
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