São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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Paciente enfrenta fila e informações erradas

Algumas pessoas só tiveram ajuda no Hospital das Clínicas após pedir a intervenção de jornalistas ou burlar a segurança

Dos 1.520 pacientes com atendimento agendado, 853 foram ao hospital; 250 ficaram na fila para reagendar consultas e 90 para a farmácia

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Três dias após o incêndio que suspendeu parcialmente o atendimento no Hospital das Clínicas, os pacientes enfrentaram filas durante a manhã, informações desencontradas e problemas para conseguir atendimento ou remédios.
Às 7h30, havia 250 pessoas na fila para reagendar consultas e 90 para a farmácia. Dos 1.520 pacientes com horários agendados, 853 foram ao HC. O órgão não informou se todos remarcaram as consultas.
Às 10h, as voluntárias que ficavam no cordão de isolamento começaram a dizer aos pacientes que quatro áreas -reumatologia, hematologia, geriatria e pneumologia- haviam voltado a funcionar. A informação, porém, foi desmentida depois pela assessoria do hospital.
Alguns pacientes conseguiam remarcar as consultas após atendimento no andar térreo do prédio. Outros, após horas de espera, eram orientados a subir para remarcaram os horários diretamente nos consultórios. Mas muitos estavam fechados e os pacientes eram orientados a voltar outro dia.
O aposentado Erminio Alexandrino de Souza, 65, foi uma das vítimas da desinformação. Ele tentava em vão realizar os exames de sangue marcados para aquela mesma tarde. "Mandaram-me subir aqui [no 5º andar], mas o ambulatório está fechado há horas. Posso sofrer outro derrame por falta desses exames", dizia.
Algumas pessoas só tiveram ajuda após pedir intervenção da imprensa. A professora Maria Telma Soares, 49, foi pela manhã para remarcar a consulta da mãe no oftalmologista.
Por volta das 14h, ela saiu do ambulatório dizendo ter sido informada que os técnicos da área não tinham ido trabalhar e, por isso, não seria possível marcar consultas. Ao ver os jornalistas no HC, Maria Telma resolveu pedir ajuda.
"Saí da zona leste, não posso ficar voltando todo dia. Falaram que teria que voltar para remarcar a consulta", disse. Em seguida, foi levada por uma assessora do hospital. Dez minutos depois, voltou com a consulta agendada para o dia 7. "Uma voluntária disse que estava me aproveitando da situação", disse ela, sobre o fato de ter apelado aos jornalistas.
Já a dona-de-casa Maria Joana da Silva, 33, teve que burlar a segurança para conseguir a injeção de hormônios do crescimento do filho de 16 anos -que tem idade óssea de 9.
Ela, que mora perto de Cananéia (litoral sul), viajou mais de cinco horas e chegou às 5h30 no HC. Por volta das 10h, na farmácia do lado de fora do ambulatório, foi informada que de que não havia remédios -e que só poderia pegá-los no dia 2, mesmo sendo uma urgência.
Maria Joana, então, resolveu dizer à segurança que entraria para remarcar uma consulta. Ao subir, pediu, e conseguiu, as injeções a funcionários de um dos laboratórios do HC.
Menos sorte teve Maria Imaculada Fonseca, 50. Ela fez há 15 dias uma cirurgia de aneurisma cerebral no HC e tinha consulta marcada para ontem, quando pegaria mais medicamentos. A dona-de-casa havia saído de Itu (a 103 km de SP) por volta das 5h. Enquanto esperava em uma ambulância, parentes entraram na fila.
A consulta foi remarcada, mas ela não conseguiu os medicamentos. Segundo Tatiane Fonseca, 22, sobrinha de Maria Imaculada, os funcionários disseram que não havia remédios nem para os casos graves.
À noite, a assessoria do HC disse que ela vai receber o remédio em casa, e que não o havia recebido ontem porque não se sabia se ele continuaria o mesmo após a consulta.


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