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Paciente enfrenta fila e informações erradas
Algumas pessoas só tiveram ajuda no Hospital das Clínicas após pedir a intervenção de jornalistas ou burlar a segurança
Dos 1.520 pacientes com atendimento agendado, 853 foram ao hospital; 250 ficaram na fila para reagendar consultas e 90 para a farmácia
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Três dias após o incêndio que
suspendeu parcialmente o
atendimento no Hospital das
Clínicas, os pacientes enfrentaram filas durante a manhã, informações desencontradas e
problemas para conseguir
atendimento ou remédios.
Às 7h30, havia 250 pessoas
na fila para reagendar consultas e 90 para a farmácia. Dos
1.520 pacientes com horários
agendados, 853 foram ao HC. O
órgão não informou se todos
remarcaram as consultas.
Às 10h, as voluntárias que ficavam no cordão de isolamento
começaram a dizer aos pacientes que quatro áreas -reumatologia, hematologia, geriatria e
pneumologia- haviam voltado
a funcionar. A informação, porém, foi desmentida depois pela assessoria do hospital.
Alguns pacientes conseguiam remarcar as consultas
após atendimento no andar
térreo do prédio. Outros, após
horas de espera, eram orientados a subir para remarcaram os
horários diretamente nos consultórios. Mas muitos estavam
fechados e os pacientes eram
orientados a voltar outro dia.
O aposentado Erminio Alexandrino de Souza, 65, foi uma
das vítimas da desinformação.
Ele tentava em vão realizar os
exames de sangue marcados
para aquela mesma tarde.
"Mandaram-me subir aqui [no
5º andar], mas o ambulatório
está fechado há horas. Posso
sofrer outro derrame por falta
desses exames", dizia.
Algumas pessoas só tiveram
ajuda após pedir intervenção
da imprensa. A professora Maria Telma Soares, 49, foi pela
manhã para remarcar a consulta da mãe no oftalmologista.
Por volta das 14h, ela saiu do
ambulatório dizendo ter sido
informada que os técnicos da
área não tinham ido trabalhar
e, por isso, não seria possível
marcar consultas. Ao ver os jornalistas no HC, Maria Telma
resolveu pedir ajuda.
"Saí da zona leste, não posso
ficar voltando todo dia. Falaram que teria que voltar para
remarcar a consulta", disse. Em
seguida, foi levada por uma assessora do hospital. Dez minutos depois, voltou com a consulta agendada para o dia 7.
"Uma voluntária disse que estava me aproveitando da situação", disse ela, sobre o fato de
ter apelado aos jornalistas.
Já a dona-de-casa Maria Joana da Silva, 33, teve que burlar a
segurança para conseguir a injeção de hormônios do crescimento do filho de 16 anos -que
tem idade óssea de 9.
Ela, que mora perto de Cananéia (litoral sul), viajou mais de
cinco horas e chegou às 5h30
no HC. Por volta das 10h, na
farmácia do lado de fora do ambulatório, foi informada que de
que não havia remédios -e que
só poderia pegá-los no dia 2,
mesmo sendo uma urgência.
Maria Joana, então, resolveu
dizer à segurança que entraria
para remarcar uma consulta.
Ao subir, pediu, e conseguiu, as
injeções a funcionários de um
dos laboratórios do HC.
Menos sorte teve Maria Imaculada Fonseca, 50. Ela fez há
15 dias uma cirurgia de aneurisma cerebral no HC e tinha consulta marcada para ontem,
quando pegaria mais medicamentos. A dona-de-casa havia
saído de Itu (a 103 km de SP)
por volta das 5h. Enquanto esperava em uma ambulância,
parentes entraram na fila.
A consulta foi remarcada,
mas ela não conseguiu os medicamentos. Segundo Tatiane
Fonseca, 22, sobrinha de Maria
Imaculada, os funcionários disseram que não havia remédios
nem para os casos graves.
À noite, a assessoria do HC
disse que ela vai receber o remédio em casa, e que não o havia recebido ontem porque não
se sabia se ele continuaria o
mesmo após a consulta.
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