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10 anos depois, Pantanal não tem mais "gato"
Rede elétrica foi principal avanço do bairro, na zona leste, que conta ainda com água e esgoto e asfalto em algumas ruas
Além de padaria, Jardim
Pantanal tem lan houses,
mercados, pet shop e
açougues; violência caiu,
dizem moradores
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob o sol de quase 40 graus, o
desempregado Benedito de
Souza joga água no chão batido
de terra para evitar a poeira que
incomoda quem passa por ali.
Ele está fazendo seu "bico" do
dia e espera ganhar R$ 20.
Souza tinha outra função até
o começo dos anos 2000. Especializou-se em fazer gatos na
rede elétrica. "Eu sabia fazer e o
pessoal me pedia. Tinha muita
gente que fazia tudo errado, tinha estouro de gerador, casa
pegando fogo. O pessoal usava
bambu para achar seu fio no
meio daquela confusão", diz.
A chegada da rede elétrica
oficial foi o fato mais marcante
no Jardim Pantanal, em São
Miguel Paulista (extremo leste
da cidade). Segundo os moradores, em dez anos, a única mudança real são os serviços básicos, como água, esgoto, luz e asfalto em algumas ruas.
Souza oferece seu serviço
"antipoeira" para Zilda da Silva.
Dona de bar ("algo que nunca
faltou"), ela diz que os próprios
moradores criaram alternativas desde 1998. Destaca ainda
que não precisa mais acordar às
4h para comprar pão e leite do
único padeiro do bairro.
Os serviços que mais chegaram não têm relação com o poder público. Além de padaria,
lan houses, mercados, pet shop
e açougues foram sendo abertos com o crescimento do bairro. "Há dez anos, como a padaria mais próxima ficava a muitos quilômetros de distância, a
gente tinha que acordar de madrugada para pegar o que era
trazido no balaio. Ainda falta
muita coisa. Do jeito que vai, teremos asfalto em tudo lá por
2020", aposta Zilda.
A rua que marca a entrada do
Jardim Pantanal está entre a
minoria que recebeu asfalto. O
morador Cesar Pereira diz que
a "parte da frente" foi a que
mais mudou. Na rua Papiro do
Egito, 12 casas foram pintadas
pelo governo do Estado com tonalidades alegres de azul, laranja e amarelo. A promessa é
que, em dois anos, todas as
5.000 casas ganhem nova cara.
"Até hoje, as maiores mudanças foram mesmo a iluminação
e a água encanada", diz Pereira,
para quem a luz ajudou a diminuir o número de assassinatos
na região. Segundo dados oficiais, em 2000, foram 56,4 homicídios por 100 mil habitantes
na região, contra 13,7 em 2007.
Em 1994, Pereira encontrou
o corpo do irmão, morto a tiros,
enrolado nas mangueiras com
quilômetros de extensão que
desviavam, ilegalmente, água
dos canos da Sabesp para as casas. Hoje, água e esgoto foram
instalados na maioria das casas.
Em 1998, a Folha esteve tanto no Pantanal de São Miguel
quanto na favela de mesmo nome no Itaim Paulista. Os dois
Pantanais ficam às margens do
rio Tietê e receberam o nome
por causa das áreas alagadas.
Segundo os moradores do
Itaim, em dez anos o cheiro do
rio piorou e um aterro diminuiu as enchentes. "Quando
chove, é lama nas ruas. Quando
faz sol, é poeira na cara", diz o
morador Balbino Bispo.
(FBM)
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