São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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10 anos depois, Pantanal não tem mais "gato"

Rede elétrica foi principal avanço do bairro, na zona leste, que conta ainda com água e esgoto e asfalto em algumas ruas

Além de padaria, Jardim Pantanal tem lan houses, mercados, pet shop e açougues; violência caiu, dizem moradores

DA REPORTAGEM LOCAL

Sob o sol de quase 40 graus, o desempregado Benedito de Souza joga água no chão batido de terra para evitar a poeira que incomoda quem passa por ali. Ele está fazendo seu "bico" do dia e espera ganhar R$ 20.
Souza tinha outra função até o começo dos anos 2000. Especializou-se em fazer gatos na rede elétrica. "Eu sabia fazer e o pessoal me pedia. Tinha muita gente que fazia tudo errado, tinha estouro de gerador, casa pegando fogo. O pessoal usava bambu para achar seu fio no meio daquela confusão", diz.
A chegada da rede elétrica oficial foi o fato mais marcante no Jardim Pantanal, em São Miguel Paulista (extremo leste da cidade). Segundo os moradores, em dez anos, a única mudança real são os serviços básicos, como água, esgoto, luz e asfalto em algumas ruas.
Souza oferece seu serviço "antipoeira" para Zilda da Silva. Dona de bar ("algo que nunca faltou"), ela diz que os próprios moradores criaram alternativas desde 1998. Destaca ainda que não precisa mais acordar às 4h para comprar pão e leite do único padeiro do bairro.
Os serviços que mais chegaram não têm relação com o poder público. Além de padaria, lan houses, mercados, pet shop e açougues foram sendo abertos com o crescimento do bairro. "Há dez anos, como a padaria mais próxima ficava a muitos quilômetros de distância, a gente tinha que acordar de madrugada para pegar o que era trazido no balaio. Ainda falta muita coisa. Do jeito que vai, teremos asfalto em tudo lá por 2020", aposta Zilda.
A rua que marca a entrada do Jardim Pantanal está entre a minoria que recebeu asfalto. O morador Cesar Pereira diz que a "parte da frente" foi a que mais mudou. Na rua Papiro do Egito, 12 casas foram pintadas pelo governo do Estado com tonalidades alegres de azul, laranja e amarelo. A promessa é que, em dois anos, todas as 5.000 casas ganhem nova cara.
"Até hoje, as maiores mudanças foram mesmo a iluminação e a água encanada", diz Pereira, para quem a luz ajudou a diminuir o número de assassinatos na região. Segundo dados oficiais, em 2000, foram 56,4 homicídios por 100 mil habitantes na região, contra 13,7 em 2007.
Em 1994, Pereira encontrou o corpo do irmão, morto a tiros, enrolado nas mangueiras com quilômetros de extensão que desviavam, ilegalmente, água dos canos da Sabesp para as casas. Hoje, água e esgoto foram instalados na maioria das casas.
Em 1998, a Folha esteve tanto no Pantanal de São Miguel quanto na favela de mesmo nome no Itaim Paulista. Os dois Pantanais ficam às margens do rio Tietê e receberam o nome por causa das áreas alagadas.
Segundo os moradores do Itaim, em dez anos o cheiro do rio piorou e um aterro diminuiu as enchentes. "Quando chove, é lama nas ruas. Quando faz sol, é poeira na cara", diz o morador Balbino Bispo. (FBM)


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