São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Igreja evangélica chegou antes da luz e do esgoto

DA REPORTAGEM LOCAL

Além de montanhas, a fé moveu também pedras de até três metros da região da serra da Cantareira. "Foi uma "doidura" inacreditável do meu pai", conta Sandro Mendonça Oliveira, 23, filho do pastor Gentil Mendonça Oliveira, 55, que ergueu a primeira igreja evangélica do Jardim Paraná, área ocupada ilegalmente na Brasilândia, na região noroeste.
Foi em 1995 que o templo começou a ser construído, época em que os primeiros moradores se estabeleceram no local. A igreja que costumavam ir, no Imirim, havia ficado longe demais -mais pela dificuldade de chegar do que pelos quilômetros de distância.
Os ônibus não subiam o morro do bairro, que não tinha nenhuma rua asfaltada. Também não havia luz, água nem esgoto. No início, era preciso buscar água da serra com baldes; depois, foram feitos encanamentos clandestinos. Como não havia luz, a família esquentava a água com lenha e, sem esgoto, usava fossas como banheiro.
Nem os "gatos" deram conta do abastecimento. Segundo Antônio Calisto de Souza, presidente da associação dos moradores do Jardim Paraná, os habitantes foram percebendo que era preciso primeiro regularizar as terras para então conseguir alguma infra-estrutura.
Souza foi uma das lideranças que coordenaram a compra dos terrenos e que depois brigaram pela rede elétrica, instalada em 2001, e por água encanada, que passou a funcionar em 2002. Dois anos depois, o campo de futebol onde aconteciam as reuniões e as peladas de final de semana deu lugar ao CEU Paz, com piscinas, biblioteca, telecentro e escola.
Com a obra, o asfalto chegou às ruas que, há poucos meses, também ganharam CEP -o primeiro passo para que os moradores pudessem receber correspondência em casa. Mas, por falta de funcionários dos Correios que façam o serviço, as cartas continuam sendo entregues nas caixas postais coletivas da associação.

Inacabado
Mais de dez anos depois, pai e filho não consideram a igreja terminada, sintoma do que ocorre no resto da região, que não tem creche nem atendimento médico.
Em 2002, o pastor Gentil sofreu um derrame dentro de casa e teve de ser levado às pressas ao hospital de Cachoeirinha, onde seu filho afirma que ele recebeu medicação errada. Mesmo com os movimentos e a fala comprometidos, ele prosseguiu a obra. (MB)


Texto Anterior: 10 anos depois, Pantanal não tem mais "gato"
Próximo Texto: Para estudar, criança de Marsilac ainda anda na linha do trem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.