São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997.



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DROGAS
Traficantes colombianos evitam vigilância na região amazônica fazendo "desvios" pelo sul do continente
Mercosul vira rota de narcotráfico europeu

SERGIO TORRES
enviado especial a Brasília

A calha do rio da Prata, na Ar gentina, e a região sul do Brasil in tegram a nova rota da cocaína en viada da América do Sul para a Eu ropa. A descoberta da "rota sul" resulta de investigação conjunta de órgãos de segurança dos países -Brasil, Argentina, Uruguai e Pa raguai- do Mercosul.'
Na avaliação dos investigadores, incomodados com o aperto da re pressão na região amazônica, os cartéis da cocaína na Colômbia in verteram o pólo do comércio de parte da droga traficada entre o continente e a Europa.
Desde o início do ano, as polícias do Mercosul têm feito apreensões de cocaína em locais onde antes o tráfico praticamente não atuava.
É o caso do rio da Prata, navega do por embarcações que seguem para a Europa a partir de metrópo les como Buenos Aires e Montevi déu (Uruguai), e dos Estados sulis tas brasileiros (leia texto abaixo).
A polícia da Argentina já apreen deu este ano, em navios e localida des próximas ao rio da Prata, cerca de 3 toneladas de cocaína.
Com informações da PF (Polícia Federal) brasileira e das polícias nacionais do Uruguai e do Para guai, os agentes argentinos desco briram que a cocaína apreendida abasteceria Itália, França e Espa nha, que costumavam receber a droga a partir de uma rota que atravessava a região amazônica brasileira.
Controlada pelos cartéis, a "rota sul" começa na Colômbia, atra vessa um pequeno trecho do terri tório brasileiro (Amazonas e Acre) em sentido vertical, passa pela Bo lívia e chega ao norte da Argentina.
Da Argentina, a droga pode se guir para o rio da Prata ou ser en viada para o Brasil através do Pa raguai.
Quando a segunda opção é a pre ferida dos traficantes, a cocaína entra no Brasil pelo Paraná (região das cidades de Foz do Iguaçu e Guaíra), descendo por terra para Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
No Brasil, a droga tem como des tino prioritário as cidades portuá rias dos Estados da região sul, co mo Itajaí (Santa Catarina), Para naguá (Paraná) e Rio Grande (Rio Grande do Sul). Desses portos, ela é exportada para a Europa.
A transferência do norte para o sul do tráfico internacional de co caína já vinha sendo investigada pelos órgãos de segurança do Mer cosul desde o ano passado, quan do começaram a se intensificar as ações policiais na Amazônia.
As apreensões realizadas na Ar gentina e no sul do Brasil no pri meiro semestre mostraram que as suspeitas policiais tinham funda mento.
O diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, disse à Folha que a troca de informações sobre o tráfico in ternacional de cocaína entre as forças de segurança dos países do Mercosul permitiu as apreensões da droga e a identificação da "rota sul".
"Quando começamos a apertar na Amazônia, avisei ao pessoal da Argentina que iam pipocar casos lá embaixo. Não deu outra."



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