São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vila da Barca espera mudar

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM

No bairro da Vila da Barca, em Belém, não há ruas. As 539 casas são construídas sobre pontes de madeira maciça, que, no Pará, são chamadas de estivas. Em vez de asfalto ou terra batida o "chão" do bairro é a baía do Guajará, onde o rio é tão largo que não é possível enxergar sua outra margem.
Rio, estivas e casebres formam um dos mais típicos cenários da Amazônia, mas, no caso da Vila da Barca, ilustram, além disso, os problemas de moradia enfrentados pela população pobre de Belém. As 539 casas do bairro abrigam cerca de 2.000 famílias, uma média de 3,7 famílias (ou 15 pessoas) por moradia.
Manoel de Jesus Silva, 29, mora na casa mais populosa do bairro. "Aqui cada um tem um pedacinho", diz ele ao explicar como cabem 28 pessoas, 12 das quais são crianças, em um único casebre de dois pavimentos.
Maurício, 7, um dos moradores da casa, distraiu-se com a presença da reportagem e caiu de uma escada localizada na parte externa. A perna dele prendeu no vão de uma das ripas de madeira da estiva. "Quem não cuida dos filhos pode ter problema", diz Silva. "Problema", em muitos casos, é sinônimo de afogamento.
O bairro chamou a atenção de organizações não-governamentais e de igrejas, que há 20 anos trabalham para melhorar as condições de vida da população. Juntas, oferecem de reforço escolar a oficina de informática para adolescentes. ONGs e igrejas afirmam ter contribuído para reduzir as estatísticas de violência do bairro.
"Aqui já teve de tudo", diz o coordenador-geral da Associação de Moradores da Vila da Barca, o cabeleireiro Edson Almeida, 34, ao se referir aos programas sociais do governo federal, especialmente ao Bolsa-Escola. Agora, os moradores da vila estão se cadastrando no Fome Zero.
"Os programas melhoram a vida da população só no momento em que estão funcionando. Quando são interrompidos, percebemos que eles não foram capazes de mudar a vida das famílias", diz a assistente social Flaviana Barroso, 38, que mora perto das estivas e é uma das lideranças locais.
O ministro Olívio Dutra (Cidades) visitou o bairro no dia 12 de janeiro passado. Comprometeu-se, dizem os moradores, a liberar recursos para um projeto de urbanização, que será executado em parceria com a Prefeitura de Belém, que, assim como a pasta das Cidades, é tocada por um petista -Edmilson Rodrigues.
O projeto prevê o aterramento de parte do rio -onde hoje estão as estivas- e a construção de uma orla com praças e um calçadão. Flaviana Barroso e Edson Almeida afirmam que Dutra assumiu o compromisso de terminar a urbanização ainda neste ano.



Texto Anterior: Metodologia difere para cada área estudada
Próximo Texto: Leblon abriga condomínio popular
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.