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Vila da Barca espera mudar
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM
No bairro da Vila da Barca, em
Belém, não há ruas. As 539 casas
são construídas sobre pontes de
madeira maciça, que, no Pará, são
chamadas de estivas. Em vez de
asfalto ou terra batida o "chão" do
bairro é a baía do Guajará, onde o
rio é tão largo que não é possível
enxergar sua outra margem.
Rio, estivas e casebres formam
um dos mais típicos cenários da
Amazônia, mas, no caso da Vila
da Barca, ilustram, além disso, os
problemas de moradia enfrentados pela população pobre de Belém. As 539 casas do bairro abrigam cerca de 2.000 famílias, uma
média de 3,7 famílias (ou 15 pessoas) por moradia.
Manoel de Jesus Silva, 29, mora
na casa mais populosa do bairro.
"Aqui cada um tem um pedacinho", diz ele ao explicar como cabem 28 pessoas, 12 das quais são
crianças, em um único casebre de
dois pavimentos.
Maurício, 7, um dos moradores
da casa, distraiu-se com a presença da reportagem e caiu de uma
escada localizada na parte externa. A perna dele prendeu no vão
de uma das ripas de madeira da
estiva. "Quem não cuida dos filhos pode ter problema", diz Silva.
"Problema", em muitos casos, é
sinônimo de afogamento.
O bairro chamou a atenção de
organizações não-governamentais e de igrejas, que há 20 anos
trabalham para melhorar as condições de vida da população. Juntas, oferecem de reforço escolar a
oficina de informática para adolescentes. ONGs e igrejas afirmam
ter contribuído para reduzir as estatísticas de violência do bairro.
"Aqui já teve de tudo", diz o
coordenador-geral da Associação
de Moradores da Vila da Barca, o
cabeleireiro Edson Almeida, 34,
ao se referir aos programas sociais
do governo federal, especialmente ao Bolsa-Escola. Agora, os moradores da vila estão se cadastrando no Fome Zero.
"Os programas melhoram a vida da população só no momento
em que estão funcionando. Quando são interrompidos, percebemos que eles não foram capazes
de mudar a vida das famílias", diz
a assistente social Flaviana Barroso, 38, que mora perto das estivas
e é uma das lideranças locais.
O ministro Olívio Dutra (Cidades) visitou o bairro no dia 12 de
janeiro passado. Comprometeu-se, dizem os moradores, a liberar
recursos para um projeto de urbanização, que será executado em
parceria com a Prefeitura de Belém, que, assim como a pasta das
Cidades, é tocada por um petista
-Edmilson Rodrigues.
O projeto prevê o aterramento
de parte do rio -onde hoje estão
as estivas- e a construção de
uma orla com praças e um calçadão. Flaviana Barroso e Edson Almeida afirmam que Dutra assumiu o compromisso de terminar
a urbanização ainda neste ano.
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