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Leblon abriga condomínio popular
DA AGÊNCIA FOLHA, NO RIO
O condomínio popular Cruzada São Sebastião, encravado no
bairro nobre do Leblon, na zona
sul do Rio, é um dos raros exemplos de convivência entre as classes baixa e alta numa mesma área.
Com todo o acesso a rede de infra-estrutura característica de regiões de alto poder aquisitivo,
mas poucas políticas de integração, o condomínio sofre com a
"falta de identidade coletiva".
Construída em 1955 pela arquidiocese da cidade para abrigar os
moradores da favela da Praia do
Pinto, destruída por um incêndio,
a Cruzada abriga hoje cerca de
5.000 moradores, distribuídos
por 906 apartamentos em dez blocos de sete andares cada um.
Sua população é majoritariamente negra, jovem e de baixas
renda e escolaridade. A desocupação atinge 60% do total de moradores, especialmente na faixa entre 17 a 24 anos. Apesar disso, a
comunidade local se diferencia do
perfil das favelas próximas.
A renda média na Cruzada é de
R$ 900, contra R$ 4.692 dos moradores tradicionais do Leblon e R$
573 da favela do Vidigal, que fica
nas proximidades do bairro. Em
média, os moradores do condomínio têm 6,5 anos de estudo. No
bairro e no Vidigal, são 13 e 5,9
anos, respectivamente.
Para o pastor Joel Luiz Nonato,
que coordena trabalhos sociais no
local, "a falta de um trabalho de
conscientização e organização social faz com que os moradores da
Cruzada não se reconheçam nem
como favelados nem como pertencentes ao bairro".
Um dos moradores mais antigos do condomínio, o técnico de
segurança aposentado René da
Silva Moreira, 56, disse que "o relacionamento com os moradores
do Leblon se dá de forma pontilhada". "É uma relação de empregado para patrão, porque a maioria trabalha por aqui, ou em ocasiões como o encontro na praia,
no supermercado ou na igreja.
Eles nos toleram e nós os toleramos", disse Moreira.
Para o aposentado, "a promessa
de que a Cruzada promoveria a
ascensão social dos moradores
não existe". "Diziam que em nenhum lugar do mundo o pobre ia
se comunicar como o rico, mas o
aspecto econômico nos separa.
Nós moramos num lugar privilegiado e pagamos um preço por isso. O custo de vida é altíssimo."
Para ele, apesar do sistema de
saúde e educação de qualidade na
região, seria mais fácil ter criado
os seis filhos, com idades entre 22
e 31 anos, em um bairro popular.
"Em outro lugar, daria para eles
estudarem em escola particular.
Aqui não tem jeito."
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