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JUSTIÇA SOB AMEAÇA
Preso disse à polícia que os envolvidos comemoraram a ação fumando maconha em São Paulo
Assassinos do juiz teriam festejado o crime
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os traficantes envolvidos no assassinato do juiz-corregedor de
Presidente Prudente (SP), Antonio José Machado Dias, ocorrido
no último dia 14, comemoraram o
êxito do atentado fumando maconha em um barraco na periferia
de São Paulo, na madrugada seguinte, enquanto assistiam pela
televisão às primeiras informações sobre o crime.
Era o desfecho da ação realizada
por volta das 18h30, perto do fórum da cidade. Dois homens em
um Uno fecharam o carro do magistrado e o mataram com três tiros. Um terceiro envolvido dava
cobertura com outro veículo, usado por eles para voltar à capital.
Detalhes da ação, que envolve
traficantes ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), começam a ser conhecidos agora,
com a prisão de um dos acusados,
o traficante João Carlos Rangel
Luisi, o Jonny.
Segundo depoimento de Jonny
ao DHPP (departamento de homicídios), ele, o traficante Adilson
Daghia, 34, o Di, um terceiro homem, conhecido como Funchal, e
outro, o Chocolate, viajaram para
Presidente Prudente (565 km da
capital) no dia do assassinato.
Jonny afirmou ter ficado em Itu
(103 km de SP) enquanto os outros seguiram viagem e cometeram o crime. Os detalhes da preparação da emboscada e o motivo
ainda estão sendo investigados.
Naquela dia, uma sexta-feira, o
magistrado havia liberado os policiais que o escoltavam. Como
juiz-corregedor, ele era responsável por sete presídios da região,
incluindo o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, onde estão confinados líderes do PCC.
"Tudo indica que a ordem partiu do PCC", afirmou ontem o delegado Domingos Paulo Neto, diretor do DHPP, ao divulgar a foto
de Daghia, que está foragido, e de
Jairo César da Silva, procurado
pela Justiça, acusado de ter arrumado as placas de Presidente Prudente colocadas no Uno.
Anteontem, a polícia prendeu
Liliane Dias Nunes, namorada de
Funchal. Segundo o DHPP, ela recebeu duas ligações no dia do crime, antes e depois da ação, do celular dela que estava com o namorado em Presidente Prudente e seria a pessoa responsável por guardar as armas usadas pelo grupo.
O assaltante de banco Marcos
Willians Herbas Camacho, o
Marcola, preso na Penitenciária 1
de Avaré, é o principal suspeito de
ser o mandante e é tido pela polícia como principal líder do PCC.
Por meio de sua advogada, na semana passada, ele negou envolvimento com o atentado e disse que
não fazia parte do PCC.
Em outra frente de investigação,
o Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) investiga se Marcola ou outros integrantes da facção criminosa participaram do plano. Uma
mulher que atuaria como mensageira está presa. Ela teria enviado
um bilhete a Marcola, por meio de
outro detento, avisando da morte
do magistrado.
Para a polícia, as decisões do
juiz, consideradas rígidas pela
facção, podem tê-lo transformado em alvo. Integrantes do PCC
não gostaram de medida do corregedor, que decidiu arquivar
uma sindicância que investigava a
morte de dois presos no CRP de
Bernardes. Para a perícia, eles
morreram em suicídios. A facção
diz que eles eram torturados.
A polícia tenta agora prender os
três homens da emboscada. Um
deles, Daghia, está no organograma da quadrilha do traficante
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, feito pela
polícia do Rio. A participação do
traficante carioca no crime, porém, é descartada por policiais e
pelo Ministério Público.
Daghia foi preso em São Bernardo do Campo (ABC), em fevereiro de 2000, com 43 kg de crack,
2 kg de cocaína, uma pistola e
uma identidade de policial civil
falsa. Ficou na prisão até março de
2001, quando escapou de forma
misteriosa, pela segunda vez: sumiu do hospital penitenciário da
capital. Na ficha criminal dele
constam três condenações por
homicídio e três por roubo.
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