São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

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Avatar na Amazônia

Autor de filme inspirado na preservação ambiental, James Cameron sobrevoa floresta e se maravilha com o rio Negro

Marlene Bergamo/Folha Imagem
O cineasta James Cameron e sua mulher Suzy Amis durante voo sobre a Amazônia; visita à região deverá incluir pernoite em tribo

LAURA CAPRIGLIONE
MARLENE BERGAMO

ENVIADAS ESPECIAIS A MANAUS

KATIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

James Cameron, 55, diretor do blockbuster "Avatar", ficou louco com o "piracucu". Tradução: adorou o sabor do peixe de água doce pirarucu, que ele pronuncia com "cucu" no fim. Em seu primeiro mergulho na Amazônia brasileira, Cameron dançou com os bois da festa de Parintins, sobrevoou a floresta a bordo de um hidroavião, maravilhou-se com o arquipélago de Anavilhanas, o maior conjunto fluvial de ilhas do mundo.
Ontem, o diretor foi ao Pará ver de perto onde será construída a usina hidrelétrica de Belo Monte, no coração das terras dos índios caiapós -a previsão é que ele pernoite em uma tribo. (No sábado, o diretor "implorou" ao presidente Lula que suspenda a construção.)
Que a inspiração de "Avatar" seja a luta pela preservação ambiental, e que a Amazônia seja, dentre os cenários dessa luta, o mais vistoso do planeta, Cameron nunca fez segredo. Mas ele aproveitou o convite para dar uma palestra no Fórum Internacional de Sustentabilidade, encerrado neste sábado em Manaus, para conhecer aquilo de que só ouvira dizer.
Com exclusividade, a Folha acompanhou o diretor e a mulher dele, a atriz Suzy Amis, 48, em um passeio aéreo sobre a floresta. Cameron se disse impressionado com a largura do rio Negro -na altura do arquipélago, há 20 quilômetros entre uma margem e a outra. "É quase um oceano", disse.
Físico por formação universitária, o diretor quis saber a profundidade do rio Negro, a composição química que escurece as águas, o mecanismo de sobrevivência das árvores durante os seis meses de cheia dos rios, quando só as copas das espécimes mais altas ficam fora da água. Não fez anotações, mas com uma pequena câmera registrou imagens.
Bem antes de "Avatar", Cameron já se tinha tornado um entusiasta da questão ambiental. Ele mora em uma comunidade em Santa Mônica, na Califórnia, que recicla todo o lixo que produz. Em sua casa, a água é filtrada e é proibido entrar garrafas PET. A energia elétrica vem de geradores movidos pela força dos ventos e de painéis fotovoltaicos. Ah, o carro é o "ambientalmente correto" Volt, veículo elétrico da Chevrolet, que faz 230 milhas com um galão de gasolina.
Suzy Amis, 48, magérrima, altíssima, cabelão comprido e grisalho, é onipresente na agenda de Cameron. Óbvia inspiração para o layout dos Na'vis, a turma do bem do planeta Pandora, Amis é dona de uma escola em que as crianças fazem a faxina. Frutas e legumes da merenda provêm de horta e pomar que os alunos cuidam. "O objetivo é que, ao voltar para casa, as crianças ensinem seus pais a ser mais respeitosos com o planeta", disse Amis.
Mergulhador nas horas vagas, Cameron disse que "Avatar 2" se desenvolverá em florestas e em um mundo marinho. "Terá novas criaturas, inspiradas no fundo do mar." Para isso, tem mantido contatos com Jean Michel Cousteau, filho do lendário mergulhador francês Jacques Cousteau e dirigente da ONG Ocean Future Society, dedicada à preservação da biodiversidade dos oceanos.
O diretor quer que "Avatar", que ele chama de "experiência Avatar", transforme-se em um portal para a questão ambiental. "Eu fiz "Avatar" porque queria dizer alguma coisa, não porque precisasse ganhar mais dinheiro", disse, antes de se despedir como um Na'vi: "Que a grande mãe sorria para todos nós".


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