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EPIDEMIA INVISÍVEL
Pesquisas inéditas mostram que 20% dos alunos de escolas públicas apresentam sintomas depressivos
Depressão leva crianças ao suicídio
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local
Arquivos dos prontos-socorros,
hospitais psiquiátricos e centros
de intoxicação brasileiros revelam
o crescimento das tentativas de
suicídio entre crianças e jovens.
Há registros de crianças de apenas 4 anos que apelaram para facas, enforcamento, medicamentos
ou produtos de limpeza para tentar se matar.
Drama desconhecido pelos pais,
professores e até médicos, fora da
agenda de saúde do Brasil, as tentativas de suicídio são uma das indicações do aumento dos sintomas da depressão- uma das responsáveis pelo abuso do consumo
de drogas e bebidas.
Ninguém consegue calcular ao
certo o tamanho do problema. São
poucos os centros oficiais que registram o fenômeno, pais mentem
para os hospitais, envergonhados
com a drama familiar ou para garantir o pagamento dos gastos
hospitalares pelo seguro.
Consequência direta do preconceito e da desinformação, não são
conhecidos os mais elementares
sinais capazes de indicar distúrbios. As vítimas são apontadas por
pais e professores como indisciplinadas, preguiçosas ou apáticas.
São punidas pelos pais e pela escola, agravando a sensação de isolamento e desamparo. A tentativa
de suicídio é, na maioria das vezes,
um pedido extremo de socorro.
"A sociedade fecha os olhos", diz
Sônia Friedrich, uma das primeiras psiquiatras a estudar o suicídio
infantil no Brasil.
As tentativas de suicídio são a
porta para o suicídio. A literatura
psiquiátrica aponta seis tentativas
de suicídio para cada caso fatal.
Pesquisas inéditas, obtidas pela
Folha, mostram que foram encontradas em escolas públicas 20%
dos estudantes com sintomas depressivos. Sintomas que, se não forem tratados, tendem a danificar o
rendimento escolar, impedir a entrada no mercado de trabalho,
condenando o individuo à marginalização.
Psiquiatras da USP (Universidade de São Paulo) detectaram uma
escola, onde, nos 30 dias anteriores à investigação, 50% dos alunos
haviam consumido álcool e 30%,
drogas.
No Rio, pesquisa coordenada
pelo professor Antonio Egidio
Nardi, do Instituto de Psiquiatria
da UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), mostra que cresceu 50% nos últimos dois anos a
procura de crianças e adolescentes
em busca de tratamento para a depressão.
O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, da
Fundação Instituto Osvaldo Cruz,
no Rio, registra desde 1993 um aumento de tentativas de suicídio
por uso de medicamentos e produtos tóxicos. Foram 7.965 casos
em 93, contra 12.923 em 96.
As vítimas de depressão são estigmatizadas e não encaradas como doentes a serem cuidados, presas do desespero levado ao limite.
O tabu apenas facilita que a doença
se agrave, retardando o tratamento ou permitindo o seu início
quando já é tarde demais.
Está provado, como mostram os
testemunhos colhidos pela Folha
para esta reportagem, que o tratamento funciona e as pessoas voltam a trabalhar e a estudar.
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