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"Eu me achava
um monstro"
do Conselho Editorial
A primeira vez foi um corte no
pulso esquerdo, com um canivete,
desses tipo suíço. Estava sozinho
no quarto, foi socorrido pela mãe
e levado ao pronto-socorro. Causa
oficial do corte: acidente no vidro
de uma janela.
Quando chegou ao pronto-socorro, estava apático. "Lembro
que gaguejava, as idéias pulavam
de um canto para a outro, tudo
parecia sem sentido", recorda-se,
mostrando a marca no pulso.
Pouco antes da tentativa de suicídio, teve uma crise de remorso.
"Eu me achava um monstro, só
causava problema, era um estorvo. Os problemas pareciam uma
bola de neve, não via perspectiva
de sair daquilo", recorda T.Z.
Os pais cobravam que o filho levasse uma vida "normal". E repetiam frases comuns nessas situações -"a gente fez tudo por você", "eu me sacrifico tanto", "você
está fazendo sua mãe sofrer".
"Nada me satisfazia, nada me
acalmava. Eu me trancava no
quarto, ligava a televisão e sequer
conseguia me fixar na tela."
Acabou saindo da faculdade.
"Sentia como se não tivesse controle sobre a vida. É como carros
que, nos filmes, alguém quebra o
breque e o sujeito vai descendo
desgovernado pela estrada."
Sozinho, sempre analisava as
vantagens da morte: "A única coisa que poderia acabar com tanta
aflição é a morte, era o que eu
sempre pensava".
Poucos dias depois do corte no
pulso, foi mais longe. Tomou produtos de limpeza, misturou com
os remédios que encontrou pela
frente e, mais uma vez, acabou no
pronto-socorro.
Os pais acharam que deveria ir
ao psiquiatra. Os antidepressivos
começaram a fazer efeito. A terapia ajudou-o a desfazer fantasmas.
Viu na natação um jeito de cuidar do corpo e sentir-se melhor.
Descobriu um novo prazer e, hoje,
nada religiosamente todas as semanas. "Aprendi a sorrir."
Saiu da faculdade que o irritava,
escolheu um curso em que pudesse mexer com a natureza.
"Sei que não estou curado, mas
ao menos não me sinto fora de
controle. Já consigo estudar. As
notas ainda não estão ótimas, mas
acima de "regular'."
(GD)
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