São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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Gravidez é uma das causas das tentativas

do Conselho Editorial e da Reportagem Local No dia 14 passado, G.P.S., 16, estava se sentindo "diferente", foi ao médico e soube que estava no quarto mês de gravidez. O seu primeiro temor foram os pais.
Desesperada, voltou para casa e ingeriu 20 comprimidos de barbitúricos. O caso foi registrado no Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas.
A gravidez é hoje uma das principais causas de tentativas de suicídio. O que é explicado, em parte, pela vida sexual precoce, sem a devida estrutura psicológica.
Os arquivos sobre tentativas de suicídio estão repletos também de pretextos aparentemente fúteis: briga com o namorado, discussão com os pais e até nota baixa.
Por parecerem fúteis ou simples manipulação para obter aceitação do pai, mãe ou namorado, a reação normal é desconsiderar o ato como "bobagem de criança".
"É um erro gravíssimo", aponta a psiquiatra Sônia Friedrich. "A tentativa é também sinal de distúrbio, de dificuldade de lidar com frustração, de desajustamento. Há um risco de que tente de novo e vai ficando cada vez mais sério", afirma Sônia.
Uma das maiores especialistas brasileiras em suicídio infantil, Sônia Friedrich sugere que os pais prestem atenção até mesmo nos desabafos. "Depois de uma briga com os pais, crianças dizem que vão se matar. Os pais desconsideram, achando que é chantagem boba. É um sinal que deve ser levado em consideração."
As psiquiatras e psicólogas têm dificuldades em lidar com as crianças. Primeiro pelo simples motivo de que ainda não sabem se expressar. "Estamos ainda tateando nessa área", diz Isabel Altenfelder Santos, da Escola Paulista de Medicina.
"Nem sempre o relato da mãe ou da professora é confiável. Muitas vezes perturbada é a mãe ou o pai", afirma Isabel.
Os pais são, muitas vezes, parte do problema. "Eles se recusam a ver os sinais, não podem imaginar que seu filho é capaz de se matar. Vão negando até que a doença evolui", diz Haim Gruspun.
Para Gruspun, depressão em adulto é, hoje, "algo resolvido", um distúrbio químico a ser tratado com terapia e remédios; os antidepressivos vêm demonstrando impressionante eficácia.
"Com as crianças, os remédios não têm funcionado, o jeito é a terapia, o que não é fácil", diz.
As causas apontadas são as mais diversas. O estresse da cidade grande, ausência paterna, herança genética, separação dos pais, perda de parente próximo, aliadas à impulsividade típica dos adolescentes.
Acostumada a tratar adolescentes, a psicanalista Cybelle Weinberg, que por muitos anos trabalhou em escolas, aponta como uma das causas a dificuldade de os pais colocarem limites nos filhos.
"A falta de limites produz baixa resistência à frustração. E essa baixa resistência torna o indivíduo mais frágil diante dos conflitos."
Cybelle suspeita do aumento do consumo de álcool entre jovens. "Passa das fronteiras do razoável. Sei de jovens que estão indo bêbados para a sala de aula. Bebem vodca para não ficar o cheiro."
"Excesso de bebida pode ser sinal de depressão, assim como a droga", afirma Wagner Gattaz, chefe do Departamento de Psiquiatria da USP.
Segundo ele, as formas de tentativa de suicídio podem ser mais sutis por meio de comportamentos auto-destrutivos. Exceder-se na velocidade, por exemplo.
De acordo com os arquivos dos prontos-socorros, por trás de várias tentativas de suicídio aparecem a overdose de drogas. (GD e MO)


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