|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gravidez é uma das causas das tentativas
do Conselho Editorial e
da Reportagem Local
No dia 14 passado, G.P.S., 16, estava se sentindo "diferente", foi ao
médico e soube que estava no
quarto mês de gravidez. O seu primeiro temor foram os pais.
Desesperada, voltou para casa e
ingeriu 20 comprimidos de barbitúricos. O caso foi registrado no
Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas.
A gravidez é hoje uma das principais causas de tentativas de suicídio. O que é explicado, em parte,
pela vida sexual precoce, sem a devida estrutura psicológica.
Os arquivos sobre tentativas de
suicídio estão repletos também de
pretextos aparentemente fúteis:
briga com o namorado, discussão
com os pais e até nota baixa.
Por parecerem fúteis ou simples
manipulação para obter aceitação
do pai, mãe ou namorado, a reação normal é desconsiderar o ato
como "bobagem de criança".
"É um erro gravíssimo", aponta
a psiquiatra Sônia Friedrich. "A
tentativa é também sinal de distúrbio, de dificuldade de lidar com
frustração, de desajustamento. Há
um risco de que tente de novo e vai
ficando cada vez mais sério", afirma Sônia.
Uma das maiores especialistas
brasileiras em suicídio infantil,
Sônia Friedrich sugere que os pais
prestem atenção até mesmo nos
desabafos. "Depois de uma briga
com os pais, crianças dizem que
vão se matar. Os pais desconsideram, achando que é chantagem
boba. É um sinal que deve ser levado em consideração."
As psiquiatras e psicólogas têm
dificuldades em lidar com as
crianças. Primeiro pelo simples
motivo de que ainda não sabem se
expressar. "Estamos ainda tateando nessa área", diz Isabel Altenfelder Santos, da Escola Paulista de
Medicina.
"Nem sempre o relato da mãe ou
da professora é confiável. Muitas
vezes perturbada é a mãe ou o
pai", afirma Isabel.
Os pais são, muitas vezes, parte
do problema. "Eles se recusam a
ver os sinais, não podem imaginar
que seu filho é capaz de se matar.
Vão negando até que a doença
evolui", diz Haim Gruspun.
Para Gruspun, depressão em
adulto é, hoje, "algo resolvido",
um distúrbio químico a ser tratado com terapia e remédios; os antidepressivos vêm demonstrando
impressionante eficácia.
"Com as crianças, os remédios
não têm funcionado, o jeito é a terapia, o que não é fácil", diz.
As causas apontadas são as mais
diversas. O estresse da cidade
grande, ausência paterna, herança
genética, separação dos pais, perda de parente próximo, aliadas à
impulsividade típica dos adolescentes.
Acostumada a tratar adolescentes, a psicanalista Cybelle Weinberg, que por muitos anos trabalhou em escolas, aponta como
uma das causas a dificuldade de os
pais colocarem limites nos filhos.
"A falta de limites produz baixa
resistência à frustração. E essa baixa resistência torna o indivíduo
mais frágil diante dos conflitos."
Cybelle suspeita do aumento do
consumo de álcool entre jovens.
"Passa das fronteiras do razoável.
Sei de jovens que estão indo bêbados para a sala de aula. Bebem
vodca para não ficar o cheiro."
"Excesso de bebida pode ser sinal de depressão, assim como a
droga", afirma Wagner Gattaz,
chefe do Departamento de Psiquiatria da USP.
Segundo ele, as formas de tentativa de suicídio podem ser mais
sutis por meio de comportamentos auto-destrutivos. Exceder-se
na velocidade, por exemplo.
De acordo com os arquivos dos
prontos-socorros, por trás de várias tentativas de suicídio aparecem a overdose de drogas.
(GD e
MO)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|