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REVISTA
Traídas dão
a volta
por cima
DEBORAH GIANNINI E
LAVÍNIA FÁVERO
da Revista
No meio de uma discussão, ele
confessa o que, no fundo, ela já sabia: "Eu tive um caso com a sua
melhor amiga". Foram duas vezes
ao motel, é o que ele diz. Ela chora,
arrasada. Apesar de parecer cena
da novela "Por Amor" -que, até
agora, tem cinco mulheres casadas
traídas pelo marido-, a história
aconteceu na "vida real" com a
psicóloga Blanca Leonor Barrial,
43, no quinto ano do seu primeiro
casamento.
"Quase enlouqueci. Senti a perda da confiança, do amor e da
amizade. Eu me perguntava: por
que fizeram isso comigo?". Mesmo assim, ficaram juntos por mais
11 anos, até que houve outra traição e o casamento acabou.
Por mais desanimador que possa
parecer, os casamentos hoje não
são muito diferentes dos que aparecem na tela da Globo. Em uma
pesquisa Datafolha, feita em novembro passado, 22 homens de
cada 100 disseram ter relações sexuais com outras pessoas além da
parceira fixa. Entre as mulheres,
esse número cai para cinco.
A questão do adultério está em
pauta não só por aparecer em horário nobre: uma reformulação no
Código Penal prevista para entrar
em vigor no final de 1999 pode
acabar com os crimes de adultério
e bigamia -quem trair o cônjuge
ou se casar duas vezes não poderá
mais ser preso.
"Quando não existia divórcio e o
casamento era indissolúvel, esses
crimes faziam sentido. Hoje, o Código Penal deve versar sobre coisas mais graves", defende o advogado Ney Moura Teles, um dos
consultores da Comissão da Reforma do Código Penal.
Além da discussão legal, a traição levanta uma questão complicada, para a qual não há resposta
certa: desculpar e tentar salvar o
casamento ou acabar com tudo?
Sem independência
"Muitas mulheres aceitam os casos do marido porque não têm independência econômica, se omitem na relação, pensando que isso
é tudo que podem almejar na vida.
Outras se importam com estabilidade, poder econômico, com o
status que o marido tem. Outras
ainda são acomodadas, não querem mexer na família", avalia a
psicanalista Magdalena Ramos,
coordenadora do Núcleo de Terapia de Casal e Família da PUC-SP.
A auxiliar de serviços gerais Ana
Lúcia, 36, surpreendeu o marido
na sua cama com a empregada há
cinco anos e, mesmo assim, não se
separou. "Nem sei se gosto dele.
Acho que é mais por acomodação.
Tenho medo de ficar sozinha."
Para Blanca, foi o amor que lhe
fez continuar mais 11 anos ao lado
do marido infiel. "Na época, eu
achava que o amava e tinha de investir. Para mim, estava tudo bem,
eu trabalhava, tinha um filho e não
tinha sonhos maiores", lembra.
Nesses casos, o mais difícil é perdoar de fato o parceiro. "Descobri
depois que não tinha conseguido
perdoar. Foi quando senti necessidade de traí-lo também", diz Blanca, que teve um caso com um amigo, contou para o marido e saiu de
casa. Houve uma segunda reconciliação, que durou cinco anos,
mas não deu certo.
Lua-de-mel
Mesmo depois de descobrir que
seu marido sustentava uma garota
de programa, a empresária Heloísa, 32, tentou refazer o casamento:
"Fui viajar para o exterior, fiz uma
segunda lua-de-mel, mas o divórcio veio nove meses depois, inevitável. É como um vidro que se parte: você pode até colá-lo, mas ele
nunca volta a ser a mesma coisa."
Nem todas as mulheres, porém,
têm sangue frio suficiente para
tentar salvar o casamento. Apenas
quatro meses depois de ter subido
ao altar, a professora de inglês Isabelle, 22, descobriu que estava
sendo traída. "Eu desconfiei e ele
confessou que tinha se apaixonado por outra pessoa antes de a
gente se casar", conta.
Isabelle pediu logo o divórcio.
"Não conseguiria ser feliz. Antes
de amá-lo, eu me amo. Acho que
as mulheres se esquecem disso, se
anulam completamente. Quando
você se separa numa situação dessas, é como se libertar de um pesadelo. É começar a viver."
A dona-de-casa Maria, 35, também foi inflexível e não se arrepende. Ela descobriu que o marido, além de ter duas amantes, era
dono da empresa em que trabalhava. "Ele me dava R$ 400 por
mês para manter a casa e os nossos
dois filhos. Se não tivesse contratado um detetive, jamais teria ficado sabendo que ele tinha uma frota de 40 ônibus", conta.
Ela entrou com um pedido de separação sem que ele soubesse e
hoje só fala com o ex por meio do
advogado.
Mesmo quando a separação
acontece, é difícil desligar-se do ex
e mudar de vida. A comerciante
Nanci Fiori da Silva, 52, monitorou durante três anos a vida do seu
ex-marido com a "garota de 32
anos que ele arranjou". "Eu ligava
para a casa dela e dizia para a empregada que era uma amiga", conta Nanci, que ficou casada durante
30 anos. Mas ele não voltou para
casa e, até hoje, ela espera uma reconciliação.
A gerente de promoções Maria
Helena Fittipaldi, 49, ex-mulher
do bicampeão de F-1 Emerson Fittipaldi, diz: "É muito dolorido e
decepcionante saber que seu marido está interessado por outra
pessoa". Ela descobriu, por uma
nota de jornal, que o piloto estava
saindo com Teresa -que, 15 anos
depois, virou sua mulher. "Nosso
relacionamento já estava desgastado, mas, mesmo assim, fiquei
magoada, porque ele podia ter me
contado. Quando ele viu o jornal,
desmentiu, disse que tinha sido
coincidência. Só assumiu quando
realmente percebeu que a separação era inevitável."
Negar até a morte é praxe dos
maridos. "Descobri por um detetive que meu marido me traía havia
dois anos com uma grande amiga.
Entrei com pedido de divórcio e
apresentei as fotos como prova.
No dia da audiência, ele ainda tentou desmentir. Só parou quando o
próprio juiz disse: "Mas não é o senhor aqui nesta foto, abraçado
com essa moça?'", conta a advogada Flávia, 29.
As maneiras de descobrir variam: telefonemas estranhos, um
marido distante, o expediente
sempre esticado no trabalho, reuniões inesperadas, viagens sem
justificativa e, principalmente,
"intuição".
"A mulher sabe, porque instinto
feminino é fogo", garante Maria
Helena. O detetive particular Eloy
de Lacerda, confirma: "Os homens são mais paranóicos. Já a
mulher raramente se engana. Na
maioria dos casos, sempre acabamos chegando às provas. Infelizmente", diz .
Nanci descobriu as escapadas do
marido rastreando as ligações do
seu celular. Pegou a conta e foi ligando para cada número, mas,
depois, não teve coragem de enfrentar o marido. "Aguentei durante muito tempo, até que um dia
estourei", diz.
A atriz Vera Holtz, a Sirléia de
"Por Amor", conta que sua primeira reação em uma situação como essa é tentar parecer "superior". "Uma vez fui viajar e quando voltei ele disse que estava apaixonado por outra pessoa. Na mesma hora, eu inventei que também
tinha alguém. Sempre fui assim,
de mascarar a situação, fingir que
não me importo", diz.
A atriz acredita que "não dá para
impedir uma pessoa de se apaixonar". "Faz parte da natureza humana. Querer brecar isso é como
tentar segurar um vulcão. Quando
acontece, logo questiono o meu
comportamento na relação."
Blanca não concorda. "Ele dizia
que a traição foi inevitável, e eu
acreditei na época. Hoje acho que
atração não é incontrolável, você
deixa acontecer. Uma pessoa é ótima companhia, outra tem lindos
olhos verdes, aquela é superinteligente. Se eu for dar vazão a todos
os meus encantamentos, não paro
mais", diz.
Para a psicanalista Magdalena, a
traição não acontece por acaso: "A
infidelidade não é causa, é consequência. Quando um casal está
funcionando mal, insatisfeito, essa é uma via frequente para querer
ter outro relacionamento, onde
você procura o que não está encontrando dentro do casamento."
Não foi o que aconteceu no caso
de Blanca: "Você pode ser uma excelente esposa, mas isso não garante nada. Se tiver de acontecer,
vai acontecer", diz.
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