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MENINAS DE ALUGUEL
Um dos entraves às investigações é o suposto envolvimento de autoridades com garotas de até 14 anos
Rota indica que exploração é profissional
ENVIADA ESPECIAL A PATOS (PB)
A Folha acompanhou a negociação de um funcionário público
que se fingiu de cliente para comprovar o esquema de prostituição. Ele agiu a pedido da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, que estava
em Patos investigando a rota.
Um moto-taxista da cidade ofereceu o serviço de meninas ao
funcionário. Eles marcaram um
encontro às 22h30 na praça da
Alimentação, quando o moto-taxista traria três garotas "bem novinhas" para a escolha.
O moto-taxista compareceu ao
encontro sozinho e explicou que
havia gente estranha na cidade,
investigando o "babado" com
menores. Por isso as meninas estariam receosas.
"Os policiais aqui de Patos não
enxergam direito", disse Vanusa,
que começou a fazer programa
aos 13, comentando o fato de meninas tão novas fazerem ponto
em ruas movimentadas.
A prostituição infantil é considerada uma das piores formas de
exploração pelas organizações internacionais de direitos humanos.
O governo federal tem programas de combate ao turismo sexual, que envolve crianças e adolescentes em Recife (PE) e Fortaleza (CE). A recém-descoberta
"rota de Patos" comprova suspeitas levantadas em 1997, quando
foram feitas as primeiras denúncias de prostituição infantil no Estado da Paraíba.
A diferença é que, há cinco anos,
os casos de exploração sexual de
menores -que foram alvo de
uma CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) estadual- ocorriam de forma isolada em Patos,
Campina Grande, Boqueirão,
João Pessoa e cidades próximas.
Em agosto, começaram a surgir
os primeiros indícios de que, nos
últimos anos, a exploração sexual
de menores se profissionalizou na
Paraíba, especialmente no eixo
Patos-Campina Grande.
A menor Ane, 16, aliciada aos 11
anos em Campina Grande (a 139
km de João Pessoa), cansou do esquema a que era submetida e resolveu denunciá-lo ao promotor
local, em julho passado.
Relatou que havia uma rede de
aliciadores encarregada de arrumar meninas entre 12 e 15 anos
para o que chamou de "figurões":
políticos, empresários e juízes.
Ane revelou o esquema de uma
mulher, citada como Joseísa, que
agenciava menores para trabalhar
em um bar em Recife.
As meninas eram levadas em
vans, que tinham como ponto de
partida o centro da cidade de
Campina Grande. Ane contou
que, de Recife, meninas foram enviadas para a Europa para trabalhar como prostitutas.
Após as denúncias, Joseísa foi
presa. Na cadeia, ela foi visitada
por seis advogados dos maiores
escritórios de Campina Grande.
A prisão de Joseísa foi revogada.
Ane e até mesmo a mãe do promotor sofreram ameaças de morte. A menina foi incluída no programa de proteção a testemunhas
do governo federal em agosto.
A conexão Paraíba começou a
ficar clara em janeiro, quando as
menores de Patos começaram a
prestar depoimento na polícia e
algumas foram ameaçadas.
Até a semana passada, a polícia
ainda não havia feito buscas na
Granja do Gaúcho, apontada como ponto importante da rota. O
promotor de Justiça João Manoel
de Carvalho Filho, que denunciou
os aliciadores de Patos, diz que
não há um combate efetivo à
prostituição infantil no Estado.
Barreiras
Um dos entraves às investigações é justamente o suposto envolvimento de autoridades com
menores de até 14 anos.
Para aprovar o relatório da CPI
da Prostituição realizada em 1997,
o relator, o deputado estadual
Luiz Couto (PT), foi obrigado a
suprimir 33 das 99 páginas originais. O material eliminado identificava nomes de políticos, empresários e juízes que teriam praticado sexo com menores.
As informações da CPI provocaram um inquérito policial que
acabou arquivado após o depoimento das menores, quando elas
identificaram os seus clientes.
O deputado estadual ainda responde a sete processos judiciais
por calúnia e difamação em razão
de ter divulgado na íntegra o relatório na internet.
No último dia 20, o presidente
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
Orlando Fantazini (PT-SP), organizou uma audiência pública em
Patos para que as menores envolvidas na rede formalizassem as
denúncias para uma instituição
federal. Quase todas as meninas,
ouvidas na Câmara Municipal, informaram ter feito programa com
dois vereadores da cidade.
(GABRIELA ATHIAS)
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