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AMBIENTE
Com capacidade para servir 4,5 milhões de pessoas, represa abastece só 1 milhão; conclusão é de estudo do ISA
Ocupação leva a subutilização da Billings
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
A ocupação rápida e desordenada da bacia da represa Billings, na
zona sul de São Paulo, faz com
que o reservatório, o maior da região metropolitana, seja subaproveitado numa área que sofre todos os anos com a escassez de
água para abastecimento público.
É essa a principal conclusão da
publicação "Billings 2000 - Ameaças e Perspectivas para o Maior
Reservatório de Água da Região
Metropolitana de São Paulo", elaborada e lançada hoje pelo Instituto Socioambiental (ISA).
Com capacidade para servir 4,5
milhões de pessoas, a Billings
abastece hoje apenas 1 milhão
(22,2%). E abastece mal.
No fim do ano passado, o braço
do rio Grande, que atende municípios do ABC como Diadema,
Santo André e São Bernardo do
Campo, teve de ter sua captação
reduzida por causa de uma intensa proliferação de algas, alimentadas pelos esgotos domésticos e lixo jogados in natura na água.
Segundo o estudo, a principal
tendência identificada na última
década do século passado na região foi a substituição desordenada da cobertura florestal, de mata
atlântica nativa, pelas atividades
humanas. Um duplo prejuízo,
conforme explica Marussia Whately, uma das autoras da pesquisa.
"A vegetação é fundamental para a produção de água em quantidade e de qualidade. Por outro lado, como a área que a represa Billings ocupa na totalidade da bacia é muito significativa, qualquer
processo de urbanização ocorre
muito perto do reservatório", diz.
De 1989 a 1999, a bacia da Billings, que tem 583 km2, perdeu
6,6% de sua cobertura vegetal (o
equivalente a 14,25 km2 ou quase
nove parques Ibirapuera). No
mesmo período, a estimativa é
que a floresta amazônica tenha tido 4% de desmatamento.
A expansão urbana na década,
por sua vez, foi da ordem de
31,7%, e as áreas ocupadas somam hoje 21,9 km2 (ou quase 14
principados de Mônaco). Por volta de metade das ocupações
(45%) ocorreram em áreas que
possuem severas restrições ambientais, como encostas íngremes, regiões inundáveis e várzeas.
Outro perigo é a falta de estrutura de saneamento que caracteriza
toda essa suburbanização. Desde
1976, a Lei de Proteção dos Mananciais proíbe qualquer tipo de
ocupação em áreas como a da Billings. A ocupação, porém, ocorreu mesmo assim, amparada no
empobrecimento da população e
na falta de controle público.
A infra-estrutura, entretanto,
não chegou a contento: água encanada há, mas coleta e tratamento de esgoto doméstico, não.
A boa notícia é que há solução
para a degradação da Billings.
Nem toda a ocupação foi capaz
de destruir os cerca de 313 km2 de
cobertura florestal nativa remanescente na região, e a represa
tem uma grande capacidade de
regeneração, afirma Marussia.
"Primeiro é preciso congelar a
ocupação. Depois buscar recuperar o que foi degradado e melhorar as condições de quem vive no
local, de forma que esses moradores não poluam mais", defende.
Para ela, é essencial ter informações sobre o problema. Por isso o
ISA diz querer manter o diagnóstico da Billings sempre atualizado
e disponibilizá-lo para o maior
número possível de pessoas.
O instituto lança hoje também
um site (www.aguavivasp.org.br),
onde qualquer um terá acesso ao
documento, e a campanha Água
Viva para São Paulo.
A idéia é informar, conscientizar e mobilizar a população da
Grande São Paulo para a proteção, conservação e recuperação
de suas fontes de mananciais.
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