São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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AMBIENTE

Com capacidade para servir 4,5 milhões de pessoas, represa abastece só 1 milhão; conclusão é de estudo do ISA

Ocupação leva a subutilização da Billings

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A ocupação rápida e desordenada da bacia da represa Billings, na zona sul de São Paulo, faz com que o reservatório, o maior da região metropolitana, seja subaproveitado numa área que sofre todos os anos com a escassez de água para abastecimento público.
É essa a principal conclusão da publicação "Billings 2000 - Ameaças e Perspectivas para o Maior Reservatório de Água da Região Metropolitana de São Paulo", elaborada e lançada hoje pelo Instituto Socioambiental (ISA).
Com capacidade para servir 4,5 milhões de pessoas, a Billings abastece hoje apenas 1 milhão (22,2%). E abastece mal.
No fim do ano passado, o braço do rio Grande, que atende municípios do ABC como Diadema, Santo André e São Bernardo do Campo, teve de ter sua captação reduzida por causa de uma intensa proliferação de algas, alimentadas pelos esgotos domésticos e lixo jogados in natura na água.
Segundo o estudo, a principal tendência identificada na última década do século passado na região foi a substituição desordenada da cobertura florestal, de mata atlântica nativa, pelas atividades humanas. Um duplo prejuízo, conforme explica Marussia Whately, uma das autoras da pesquisa.
"A vegetação é fundamental para a produção de água em quantidade e de qualidade. Por outro lado, como a área que a represa Billings ocupa na totalidade da bacia é muito significativa, qualquer processo de urbanização ocorre muito perto do reservatório", diz.
De 1989 a 1999, a bacia da Billings, que tem 583 km2, perdeu 6,6% de sua cobertura vegetal (o equivalente a 14,25 km2 ou quase nove parques Ibirapuera). No mesmo período, a estimativa é que a floresta amazônica tenha tido 4% de desmatamento.
A expansão urbana na década, por sua vez, foi da ordem de 31,7%, e as áreas ocupadas somam hoje 21,9 km2 (ou quase 14 principados de Mônaco). Por volta de metade das ocupações (45%) ocorreram em áreas que possuem severas restrições ambientais, como encostas íngremes, regiões inundáveis e várzeas.
Outro perigo é a falta de estrutura de saneamento que caracteriza toda essa suburbanização. Desde 1976, a Lei de Proteção dos Mananciais proíbe qualquer tipo de ocupação em áreas como a da Billings. A ocupação, porém, ocorreu mesmo assim, amparada no empobrecimento da população e na falta de controle público.
A infra-estrutura, entretanto, não chegou a contento: água encanada há, mas coleta e tratamento de esgoto doméstico, não.
A boa notícia é que há solução para a degradação da Billings.
Nem toda a ocupação foi capaz de destruir os cerca de 313 km2 de cobertura florestal nativa remanescente na região, e a represa tem uma grande capacidade de regeneração, afirma Marussia.
"Primeiro é preciso congelar a ocupação. Depois buscar recuperar o que foi degradado e melhorar as condições de quem vive no local, de forma que esses moradores não poluam mais", defende.
Para ela, é essencial ter informações sobre o problema. Por isso o ISA diz querer manter o diagnóstico da Billings sempre atualizado e disponibilizá-lo para o maior número possível de pessoas.
O instituto lança hoje também um site (www.aguavivasp.org.br), onde qualquer um terá acesso ao documento, e a campanha Água Viva para São Paulo.
A idéia é informar, conscientizar e mobilizar a população da Grande São Paulo para a proteção, conservação e recuperação de suas fontes de mananciais.



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