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VIOLÊNCIA
Em três meses, 122 civis foram mortos em confrontos em São Paulo; para ouvidor, "existe uma política de matança"
Polícia mata 69% a mais no 1º trimestre
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de pessoas mortas
por policiais civis e militares na cidade de São Paulo cresceu, em
média, 69% no primeiro trimestre
de 2003 em relação ao mesmo período do ano passado. A zona sul
da capital paulista registrou o
maior crescimento interno: 175%.
O aumento de casos em todo o Estado foi de 21%.
Os dados da Ouvidoria das Polícias de São Paulo confirmam uma
tendência verificada nas estatísticas oficiais da Secretaria Estadual
da Segurança Pública.
Em 2002, o número de civis
mortos por policiais cresceu 32%
no Estado de São Paulo em relação ao ano anterior e foi recorde
desde 1996, quando a pesquisa começou a ser realizada -em 1995,
foram registrados casos só a partir
do terceiro trimestre. O número
de policiais mortos, porém, ficou
estabilizado.
De acordo com os números da
Ouvidoria, 122 pessoas foram
mortas pela polícia na capital
paulista no primeiro trimestre de
2003, 50 a mais do que no mesmo
período de 2002.
Desse total, 45 mortes de civis
ocorreram na zona leste -a líder
do número de casos- e 33 na zona sul, que registrou o maior aumento percentual entre as regiões
da capital. Em 2002, a polícia matou 29 pessoas na zona leste e 12
na zona sul, segundo a Ouvidoria.
As ações dos policiais que resultaram em mortes de civis -que
costumam ser descritas nos boletins de ocorrência como "resistência seguida de morte"- foram referendadas pela Justiça, segundo o comando da PM, e ninguém foi punido até agora.
Para o coronel Leopoldo Augusto Corrêa Filho, coordenador
operacional da PM no Estado, isso mostra que não houve exagero
e que as mortes foram em "legítima defesa".
Já o ouvidor das polícias, Fermino Fecchio, afirma que a ausência
de punição mostra que falta investigação dos casos. "Existe uma
política da matança. De quem não
sabe trabalhar com prevenção."
Mensagem subliminar
Segundo o ouvidor, a idéia de
"polícia duríssima" pregada pelo
governo funciona como uma
"mensagem subliminar de que
pode sair matando". "Não existe
investimento em prevenção",
afirmou Fecchio.
A maior ocorrência de mortes
de civis por policiais nas zonas
leste e sul são, para o ouvidor,
também resultado da exclusão social. "O maior número de abusos
da polícia ocorre sempre na periferia", afirmou.
Dos dez distritos de São Paulo
com piores índices no Mapa da
Vulnerabilidade Social, realizado
pela CEM-Cebrap (Centro de Estudos de Metrópole do Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento), seis ficam na zona sul e
três na zona leste.
Para a Polícia Militar, a concentração de civis mortos é explicada
pelo maior números de confrontos com a polícia. "E onde estão o
maior número de bandidos?",
disse o coronel, justificando o
crescimento dos números na capital paulista.
A cidade concentrou 54,4% das
mortes por policiais no primeiro
trimestre no Estado. O percentual
do mesmo período do ano passado ficou em 44%, segundo dados
da Ouvidoria.
Para o coordenador operacional da PM, as zonas leste e sul de
São Paulo têm os maiores índices
de criminalidade e, portanto,
apresentam o maior número de
confrontos entre policiais militares e criminosos.
Segundo o PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade), da prefeitura, Grajaú e Jardim Ângela,
na zona sul, lideraram o ranking
dos distritos com maior maior
números de homicídios dolosos
(com intenção) em 2002.
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