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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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VIOLÊNCIA

Em três meses, 122 civis foram mortos em confrontos em São Paulo; para ouvidor, "existe uma política de matança"

Polícia mata 69% a mais no 1º trimestre

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de pessoas mortas por policiais civis e militares na cidade de São Paulo cresceu, em média, 69% no primeiro trimestre de 2003 em relação ao mesmo período do ano passado. A zona sul da capital paulista registrou o maior crescimento interno: 175%. O aumento de casos em todo o Estado foi de 21%.
Os dados da Ouvidoria das Polícias de São Paulo confirmam uma tendência verificada nas estatísticas oficiais da Secretaria Estadual da Segurança Pública.
Em 2002, o número de civis mortos por policiais cresceu 32% no Estado de São Paulo em relação ao ano anterior e foi recorde desde 1996, quando a pesquisa começou a ser realizada -em 1995, foram registrados casos só a partir do terceiro trimestre. O número de policiais mortos, porém, ficou estabilizado.
De acordo com os números da Ouvidoria, 122 pessoas foram mortas pela polícia na capital paulista no primeiro trimestre de 2003, 50 a mais do que no mesmo período de 2002.
Desse total, 45 mortes de civis ocorreram na zona leste -a líder do número de casos- e 33 na zona sul, que registrou o maior aumento percentual entre as regiões da capital. Em 2002, a polícia matou 29 pessoas na zona leste e 12 na zona sul, segundo a Ouvidoria.
As ações dos policiais que resultaram em mortes de civis -que costumam ser descritas nos boletins de ocorrência como "resistência seguida de morte"- foram referendadas pela Justiça, segundo o comando da PM, e ninguém foi punido até agora.
Para o coronel Leopoldo Augusto Corrêa Filho, coordenador operacional da PM no Estado, isso mostra que não houve exagero e que as mortes foram em "legítima defesa".
Já o ouvidor das polícias, Fermino Fecchio, afirma que a ausência de punição mostra que falta investigação dos casos. "Existe uma política da matança. De quem não sabe trabalhar com prevenção."

Mensagem subliminar
Segundo o ouvidor, a idéia de "polícia duríssima" pregada pelo governo funciona como uma "mensagem subliminar de que pode sair matando". "Não existe investimento em prevenção", afirmou Fecchio.
A maior ocorrência de mortes de civis por policiais nas zonas leste e sul são, para o ouvidor, também resultado da exclusão social. "O maior número de abusos da polícia ocorre sempre na periferia", afirmou.
Dos dez distritos de São Paulo com piores índices no Mapa da Vulnerabilidade Social, realizado pela CEM-Cebrap (Centro de Estudos de Metrópole do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), seis ficam na zona sul e três na zona leste.
Para a Polícia Militar, a concentração de civis mortos é explicada pelo maior números de confrontos com a polícia. "E onde estão o maior número de bandidos?", disse o coronel, justificando o crescimento dos números na capital paulista.
A cidade concentrou 54,4% das mortes por policiais no primeiro trimestre no Estado. O percentual do mesmo período do ano passado ficou em 44%, segundo dados da Ouvidoria.
Para o coordenador operacional da PM, as zonas leste e sul de São Paulo têm os maiores índices de criminalidade e, portanto, apresentam o maior número de confrontos entre policiais militares e criminosos.
Segundo o PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade), da prefeitura, Grajaú e Jardim Ângela, na zona sul, lideraram o ranking dos distritos com maior maior números de homicídios dolosos (com intenção) em 2002.


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