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POLÊMICA
No RS, polícia irá investigar se houve ou não indução no caso de garota de 14 anos que alegava ter sido estuprada
Jovem tem aborto espontâneo após proibição
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A menina de 14 anos que tentava interromper sua gravidez, alegando ter sido vítima de estupro,
sofreu um aborto espontâneo
-anunciou ontem sua família,
que mora em Bagé (RS).
Primeiro, hospitais e médicos
da cidade se recusaram a fazer o
procedimento, apesar da ocorrência policial e da decisão judicial que autorizava o aborto. Depois, o Tribunal de Justiça gaúcho
proibiu a cirurgia.
A delegada Lisandra de Castro
de Carvalho já abriu apuração para saber se o aborto foi espontâneo ou induzido. ""Se a menina
provocou o aborto, pode ser considerada adolescente infratora. Se
a mãe estiver envolvida, responderá a processo criminal."
Segundo a Santa Casa de Misericórdia de Bagé -onde a garota
foi internada-, não foram identificados indícios de indução ao
aborto. A Santa Casa é um dos
hospitais que se recusaram a realizar o aborto. Quando a menina
voltou ao local, na noite de terça, o
aborto já havia ocorrido. A diretora-clínica da instituição, Terezinha Ricaldone, diz que não foram
encontrados resíduos de medicamentos ou marcas de pinça, o que
indicaria o aborto provocado.
A mãe da garota, que se diz aliviada, conta que sua filha estava
abalada e se alimentava mal. No
dia anterior ao aborto, havia comido só uma tangerina e uma
maçã. Para o advogado da família,
Décio Lahorgue, o aborto foi causado ""pela rejeição ao feto".
A investigação a respeito do estupro continuará, apesar da adolescente ter sofrido o aborto.
Cartas
O caso envolvendo a jovem, que
tinha dez semanas de gestação,
tornou-se uma polêmica judicial.
Recurso do Ministério Público foi
entregue ao TJ, que acolheu tese
da promotora Maria Cougo Oliveira, que apresentou cartas da
menina para o capataz de 33 anos
acusado de estupro. As cartas,
afirma Oliveira, são de amor, e a
garota estava sendo pressionada
para abortar. Ela diz acreditar que
""não houve violência".
O caso se tornou público quando a família, com decisão judicial
em mãos permitindo a interrupção da gravidez em razão de estupro, teve o pedido negado em Bagé por médicos e pela Santa Casa
de Misericórdia. A menina tentou
fazer a cirurgia duas vezes na Santa Casa: uma após o registro da
ocorrência policial e outra quando a Justiça deu a autorização.
A garota disse ter sido violentada pelo capataz, que trabalhava na
fazenda da família dela. Quando
ocorreu o ato sexual, ela tinha ainda 13 anos. De acordo com o artigo 224 do Código Penal, há o ""estupro presumido". ""Presume-se a
violência se a vítima não é maior
de 14 anos", diz a lei.
Casado e com filhos, o capataz
se manifestou contrário ao aborto. Ele disse em depoimento que
teve relações sexuais com a menina, mas sem violência.
A mãe da jovem chegou a falar
que estava arrependida de não ter
recorrido ao aborto clandestino.
A garota, segundo laudo psicológico particular entregue ao TJ, entrou em estado de depressão que
poderia levá-la ao suicídio.
Legislação
Relações sexuais entre adultos e
adolescentes ou crianças devem
virar outro tipo de crime, segundo um projeto de lei aprovado no
Senado e em tramitação na Câmara: estupro de vulneráveis"
-violência contra menores de 14
anos ou quem não tenha discernimento do ato. Proposto pela CPI
da Exploração Sexual, ele inclui a
instituição de ação penal pública
para crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Hoje, a investigação exige queixa privada.
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