São Paulo, sábado, 29 de abril de 2006

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URBANISMO

Especialistas temem dano ambiental; projeto prevê transformar Campo de Marte em parque como compensação

Projeto da nova marginal já é alvo de críticas

DA REPORTAGEM LOCAL

Urbanistas consultados pela reportagem reagiram com preocupação em relação ao projeto que prevê a construção de novas faixas na marginal Tietê e a adoção de pedágio urbano.
O advogado Antonio Pinheiro Pedro, consultor ambiental, critica a obra. "Fala-se em preservar áreas permeáveis, mas o discurso não bate com a realidade."
Pelo projeto, uma área de 600 mil m2 deixaria de ser permeável. Uma opção estudada para compensar esse dano ambiental é a utilização de parte do Campo de Marte, na zona norte da capital, como parque municipal.
Segundo Pinheiro Pedro, por interferir na área de preservação permanente ao longo do rio, o projeto sofrerá entraves ambientais para ser aprovado e implantado. "Uma intervenção desse porte na marginal Tietê só deveria ser realizada após um estudo que levasse em conta um replanejamento do trânsito na cidade, incluindo o Rodoanel, e do sistema de drenagem."
Para o engenheiro Aluisio Canholi, responsável pela introdução dos piscinões antienchente no Brasil, a perda de área permeável é insignificante. "Mas será necessário um estudo para evitar que, com mais pistas, a chuva se acumule na marginal", disse.
""O sistema de microdrenagem [bocas de lobo e bueiros] terá de ser trocado com um bom projeto de engenharia. Haverá mais água nas pistas para ser retirada. Isso é importante de ser analisado", afirma Canholi.

Enchentes
O engenheiro Roberto Watanabe, especialista em hidrologia fluvial, afirma que a obra vai fazer com que, no futuro, mais veículos fiquem parados nas enchentes.
Isso ocorrerá, no seu entender, porque as enchentes na marginal não vão acabar com a obra realizada na calha do Tietê. "A obra no Tietê não vai solucionar nada. Foi o que ocorreu na enchente de 2005. Eles diminuíram a velocidade da água, e deveria ter sido feito o contrário", opina Watanabe.
Já Urubatan Helou, presidente do sindicato dos transportadores de carga da capital, elogia as novas pistas, mas quer isenção para seus 6.500 filiados. "Precisamos fazer a marginal andar", diz Helou.
Para Nabil Bonduki, ex-vereador petista que relatou o Plano Diretor da cidade e a lei de zoneamento, essa obra não é prioritária. "O pedágio urbano deve ser debatido pela população. O que me incomoda é novamente o poder público dar prioridade ao transporte individual, em detrimento do coletivo, como os corredores de ônibus. Se continuarmos alargando a marginal nunca vamos reverter esse modelo de crescimento urbano."
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO E FABIO SCHIVARTCHE)

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