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Dom Paulo diz que houve tortura
da Reportagem Local
O arcebispo de São Paulo, dom
Paulo Evaristo Arns, disse ontem,
ao relatar sua participação como
mediador nas negociações para o
final da greve de fome, que quando os sequestradores foram presos, em 89, pôde ver que haviam
sido "terrivelmente" torturados.
Dom Paulo disse que foi o único
a acompanhar os presos no ônibus
que os levou até a cadeia.
"Neste ônibus, aconteceu alguma coisa que nunca contei a ninguém a não ser hoje. Fui examinar
os presos e vi que cinco deles tinham ferimentos muito graves e
haviam sido torturados terrivelmente. Isso para contar onde estava o sequestrado, o que eles aliás
não sabiam", disse o cardeal.
Dois anos depois, em 91, uma
sindicância feita pela Justiça para
apurar as denúncias de tortura e
de que os presos tivessem sido forçados a colocar camisetas do PT
(Partido dos Trabalhadores) na
ocasião da prisão, concluiu que as
acusações eram improcedentes.
A afirmação de que houve tortura foi repetida hoje no comunicado dos presos que anuncia a suspensão da greve de fome.
Negociação
Dom Paulo afirmou ter decidido
participar da negociação como
mediador ao ficar sabendo que o
direito ao regime semi-aberto havia sido negado aos presos.
Segundo ele, ao mesmo tempo
em que procurou salvar as vidas
dos presos, buscando um acordo,
tentou convencê-los a evitar a greve de fome.
O cardeal já havia participado do
caso como negociador a pedido da
família do empresário Abílio Diniz, na época do sequestro, "para
garantir que ele não sofreria nenhuma violência", segundo ele.
Dessa vez, ele disse ter sido chamado a intervir pelo secretário da
Administração Penitenciária,
João Benedicto de Azevedo Marques. A esta altura, o cardeal já havia recebido dos presos um pedido
para atuar como mediador.
Durante o processo de negociações, dom Paulo afirmou ter optado por um caminho "humanitário". Segundo ele, no último
fim-de-semana, ele foi procurado
inclusive pelo vice-presidente,
Marco Maciel, para falar do caso.
Dom Paulo também procurou o
juiz da Vara de Execuções Tribunais, Otávio Machado de Barros
Filho, para saber em que condições poderia ser feito o acordo.
Depois de conhecer a proposta
do juiz, já na terça-feira da semana
passada, visitou os presos junto
com o secretário Azevedo Marques para tentar uma solução.
Segundo o secretário, durante
esse período foram "mantidos
entendimentos constantes" com
o governo federal. Ontem, o próprio dom Paulo, junto com Azevedo Marques, anunciou o fim da
greve.
(MALU GASPAR)
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