São Paulo, quarta, 29 de abril de 1998

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Dom Paulo diz que houve tortura

da Reportagem Local

O arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, disse ontem, ao relatar sua participação como mediador nas negociações para o final da greve de fome, que quando os sequestradores foram presos, em 89, pôde ver que haviam sido "terrivelmente" torturados.
Dom Paulo disse que foi o único a acompanhar os presos no ônibus que os levou até a cadeia.
"Neste ônibus, aconteceu alguma coisa que nunca contei a ninguém a não ser hoje. Fui examinar os presos e vi que cinco deles tinham ferimentos muito graves e haviam sido torturados terrivelmente. Isso para contar onde estava o sequestrado, o que eles aliás não sabiam", disse o cardeal.
Dois anos depois, em 91, uma sindicância feita pela Justiça para apurar as denúncias de tortura e de que os presos tivessem sido forçados a colocar camisetas do PT (Partido dos Trabalhadores) na ocasião da prisão, concluiu que as acusações eram improcedentes.
A afirmação de que houve tortura foi repetida hoje no comunicado dos presos que anuncia a suspensão da greve de fome.
Negociação
Dom Paulo afirmou ter decidido participar da negociação como mediador ao ficar sabendo que o direito ao regime semi-aberto havia sido negado aos presos.
Segundo ele, ao mesmo tempo em que procurou salvar as vidas dos presos, buscando um acordo, tentou convencê-los a evitar a greve de fome.
O cardeal já havia participado do caso como negociador a pedido da família do empresário Abílio Diniz, na época do sequestro, "para garantir que ele não sofreria nenhuma violência", segundo ele.
Dessa vez, ele disse ter sido chamado a intervir pelo secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques. A esta altura, o cardeal já havia recebido dos presos um pedido para atuar como mediador.
Durante o processo de negociações, dom Paulo afirmou ter optado por um caminho "humanitário". Segundo ele, no último fim-de-semana, ele foi procurado inclusive pelo vice-presidente, Marco Maciel, para falar do caso.
Dom Paulo também procurou o juiz da Vara de Execuções Tribunais, Otávio Machado de Barros Filho, para saber em que condições poderia ser feito o acordo.
Depois de conhecer a proposta do juiz, já na terça-feira da semana passada, visitou os presos junto com o secretário Azevedo Marques para tentar uma solução.
Segundo o secretário, durante esse período foram "mantidos entendimentos constantes" com o governo federal. Ontem, o próprio dom Paulo, junto com Azevedo Marques, anunciou o fim da greve. (MALU GASPAR)



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