São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2000 |
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INVESTIGAÇÃO Processados por lavagem de dinheiro nos EUA, ex-doleiro e empresários teriam tentado enganar o cartel colombiano FBI rastreia ação de brasileiros no tráfico
MARCIO AITH de Washington Eles tentaram enganar o cartel das drogas colombiano, fizeram ameaças recíprocas, acertaram a venda de armas e de aviões durante a guerra civil na Angola e negociaram a importação de toneladas de cocaína para os EUA. Esses são os destaques de um detalhado relatório do FBI (a polícia federal dos EUA), ao qual a Folha teve acesso, sobre uma das mais longas e amplas investigações antidrogas já feitas pelo governo norte-americano contra um grupo de brasileiros. Desde julho de 1998, uma ação conjunta do FBI, da DEA (agência antidrogas dos EUA), da imigração norte-americana e de uma força-tarefa criada especialmente para o caso gravou mais de 400 telefonemas, vinte vídeos e monitorou 24 horas por dia o ex-doleiro de Curitiba Jamil Degan e os empresários paulistas Oscar de Barros e José Maria Ferraz. Como resultado da investigação, os três estão sendo processados juntos, em Miami, por lavagem de dinheiro do narcotráfico. Degan pagou fiança e está sob liberdade vigiada em Nova York, cidade onde começaram as investigações. Barros e Ferraz, donos da empresa Overland Advisory Services, estão presos em Miami. O resultado dessa "caçada" revelou que, atuando pelo celular e por meio de encontros com emissários do cartel colombiano dentro de restaurantes na "Little Brazil", a rua dos brasileiros em Nova York, Degan montou um esquema de importação de cocaína para os EUA via Brasil, a mando de um traficante colombiano de nome "El Negro", cujo nome real já foi identificado, mas ainda não divulgado pelo governo dos EUA. Como centro dessa negociação, Degan contratou o escritório de Barros e de Ferraz para, segundo o FBI, esconder cocaína dentro de latas de azeite de oliva no Brasil e providenciar avião e piloto para seu transporte aos EUA. Num dos encontros, coincidentemente realizado no restaurante "Via Brasil", Degan explicou parte do negócio. Segundo o relatório, "Degan avisou que tem US$ 175 mil reservados para o avião e que receberia US$ 1,2 milhão para pagar os pilotos. O informante perguntou a Degan quanto a carga pesaria. Degan respondeu que o azeite de oliva pesava duas toneladas e que o outro produto pesava 10 toneladas. Degan afirmou que Ferraz recebera US$ 30 mil e que ele próprio recebera US$ 30 mil de um total de US$ 90 mil". Mais tarde, segundo o FBI, Degan ficou sabendo que Ferraz teria embolsado os US$ 30 mil restantes e que não havia tomado as providências combinadas. A partir daí, o relacionamento entre Degan, Ferraz e o cartel colombiano se deteriorou. Incapaz de montar o esquema de importação de cocaína naquele momento, Degan ameaçou Ferraz, a quem havia adiantado dinheiro e a quem culpava pelos problemas que estava enfrentando. "No dia 8 de fevereiro, um telefonema foi interceptado no qual um homem não identificado falou em português com James Degan. O número de origem do telefonema é da Overland Advisory Services em Miami. Degan observou que estava em dívida com o banco e mandou avisar José (Ferraz) que sua (a de Degan) vida estava em jogo". Ameaça Num telefonema de janeiro de 1999 com um informante do FBI, Degan mandou uma ameaça a Ferraz: "Degan alertou que havia tido uma briga com Ferraz com relação a uma dívida. Degan alertou que, se mandasse alguém para cobrá-la, eles destruiriam seu lugar ("place") e Ferraz teria de pagar em dobro". Incapaz de realizar o negócio e já tendo recebido o dinheiro da Colômbia, Degan, então, inventou desculpas para justificar a demora para El Negro. No dia 15 de fevereiro de 1999, um homem apenas identificado como Carlos perguntou em espanhol a Degan o que ele faria para ganhar tempo com El Negro. "Degan declarou estar pensando em dizer que o "material" havia sido descarregado em Houston por engano e que ele não poderia buscá-lo porque não tinha um contato...Carlos pediu que Degan ligasse para El Negro e mandasse acalmá-lo. Baseado em minha experiência, há motivos suficientes para entender que Deegan e Carlos estão inventando desculpas para o atraso no esquema de importação de cocaína", relata o documento do FBI. Insatisfeito com o resultado do negócio, Degan teria usado o avião que havia comprado para vender armas para Angola. "Degan afirmou que o negócio com armas de Angola sairia antes do outro. Disse que, como o ponto de origem do vôo seria o norte do Brasil, um (avião) 727 seria suficiente. Disse que o avião poderia ser vendido junto com a mercadoria." Próximo Texto: Acusados são alvo de 2 outras investigações Índice |
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