São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2000


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CPI critica estratégia da polícia


SORAYA AGÉGE
DA REPORTAGEM LOCAL

A CPI estadual do narcotráfico concluiu que a estratégia da polícia paulista para combater médios e grandes traficantes, envolvidos em conexões internacionais, é ineficiente. Levantamento feito na última quinta-feira pelos deputados mostrou que mais de 90% dos traficantes presos são envolvidos em pequenos esquemas de distribuição de drogas.
O assassinato do ex-piloto e investigador do Gerco (Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado) Luciano Sturba, 37, dia 20, fez com que os deputados fizessem uma reunião fechada para avaliar a situação, na última semana. Os deputados acreditam que ele foi morto por integrantes da conexão Colômbia-Suriname.
A análise da CPI é de que os policiais e testemunhas de médios e grandes esquemas de tráfico não têm proteção mínima e que a estrutura para as investigações é precária.
A própria CPI vai pedir um orçamento extra para continuar sua ação. No orçamento estão incluídos até o custeio de viagens para policiais que auxiliam as investigações da comissão. O valor não foi divulgado.
Os deputados vão levar sua análise ao secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, na próxima semana. O secretário só pretende comentar o caso quando receber o relatório da Assembléia Legislativa, segundo sua assessoria.

Assassinato
Sturba era um dos policiais mais especializados em tráfico aéreo no Estado. Ele trabalhava em conjunto com a CPI estadual e teria reunido um dossiê com informações inéditas sobre um braço de tráfico aéreo de drogas da conexão no interior paulista.
Ele foi morto por oito homens na madrugada do último dia 20, em sua casa, em São Paulo. Segundo o relator de tráfico aéreo da CPI, deputado Renato Simões (PT), ele tinha identificado a localização de três chefes da conexão no Brasil e montara um esquema para prendê-los no dia seguinte.
Os familiares de Sturba mostraram dossiês que o policial tinha levado para sua casa um dia antes do assassinato, com o objetivo de prender os três suspeitos.
De acordo com o relator de tráfico aéreo, o Gerco funciona como o "serviço de inteligência" da polícia, mas possui apenas um delegado, dois escrivães e quatro investigadores.
"Seria um embrião da polícia para combater médios e grandes traficantes, mas os próprios policiais estão desprotegidos", disse.
Segundo o relator, os deputados vão pedir um maior aparelhamento do Gerco. "Inclusive para a proteção dos próprios policiais, que planejam operações de vulto, mas não têm segurança própria, como ocorreu com Sturba", disse.

Conexão Suriname
O esquema de tráfico investigado por Sturba envolve a distribuição de armas do Suriname para as Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que seriam as responsáveis pelo envio de cocaína. Um dos canais de distribuição seria Belém do Pará e a cidade de Itaituba, no sul do Pará. A droga chegaria ao eixo Rio-São Paulo pelos aeroportos de Atibaia (65 km de São Paulo) e Campo de Marte, na capital.
Sturba concentrava a maior parte das informações sobre a conexão entre os aeroportos de Atibaia, Campo de Marte, em São Paulo, e outros em Mato Grosso, que serviria para a distribuição de maconha do Paraguai.
Estão foragidos três suspeitos de integrar a quadrilha que agiria em Atibaia e São Paulo: os donos de hangar Odarício Quirino Ribeiro Neto e José Gomes Filho e o empresário de Barueri José Ferreira da Silva, que comandaria a operação.


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