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São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Quadrilha ligada a Linho, líder da ADA, aplicou quase R$ 1 milhão em negócios e imóveis, segundo o Denarc

Tráfico do Rio investe dinheiro em São Paulo

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
MÁRIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A quadrilha ligada ao traficante mais procurado hoje no Rio de Janeiro, Paulo César da Silva Santos, o Linho, investiu nos últimos quatro anos cerca de R$ 1 milhão em negócios e imóveis em São Paulo.
A conexão de investimentos, cujo montante pode ser ainda maior, é resultado de quase um ano de investigação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), com a ajuda da polícia do Rio.
A maioria dos bens pertence ao homem que é apontado como o braço-direito de Linho: Ubiratan da Silva Oliveira, o Bira, também desaparecido, que em 99 começou a trazer para a capital paulista parte do dinheiro da venda de drogas da ADA (Amigo dos Amigos) nos morros cariocas.
Em São Paulo, aos finais de semana, frequentavam rodas de pagode, em bares movimentados da zona leste, e guiavam carros importados. Sem serem identificados, administravam farmácias, posto de gasolina, agência de veículos e até um lava-rápido.
Sumiram entre janeiro e fevereiro. Não se sabe se estão vivos. A polícia investiga a possibilidade de um ter matado o outro em uma disputa interna da facção.
Segundo o delegado Pascoal Ditura, do Denarc, os negócios da quadrilha podem ter servido para lavar dinheiro do tráfico. ""Vamos investigar como esses bens foram obtidos e, comprovada a aquisição ilícita, vamos pedir o sequestro do patrimônio", afirma.
Linho, cujo advogado abandonou o caso, é o maior rival de Fernandinho Beira-Mar no fornecimento de drogas e armas para favelas do Rio, diz a polícia. Assim como Beira-Mar, Linho tem contatos no Paraguai e na Bolívia.
Bira levava uma vida discreta com a mulher na Vila Sacadura, em Santo André (Grande SP). Há um ano, comprou uma casa semi-acabada e reformou quase tudo para concluir uma pequena fortaleza com piscina, sauna, sala de ginástica, três quartos -um deles com hidromassagem-, três banheiros e garagem.
Nos fundos, o traficante fez um cômodo subterrâneo, cuja abertura era acionada por controle remoto. Dentro, a polícia não encontrou drogas, mas apreendeu quarenta caixas de munição de pistola calibre .40 -do mesmo tipo que a polícia paulista usa.
""Eles eram só de "bom dia e boa noite"", afirma uma das vizinhas. O casal viajava muito e sempre recebia visitas de amigos. Segundo o Denarc, Bira dizia ser advogado e até juiz. Para isso, tinha cartões, adesivos e documentos falsos.
Com a localização da casa e apreensão de documentos, a polícia rastreou os bens. Bira deixou às pressas o imóvel em setembro de 2002, após seu motorista ser preso com uma Mercedes.
Há um ano, o traficante montou uma farmácia no Paraíso (zona sul), que estava sendo vendida quando a polícia a encontrou. ""Não estamos comprando nada agora, só vendendo o estoque", disse uma das seis funcionárias.
Na lista de investimentos consta ainda um posto de gasolina na avenida Santo Amaro, também na zona sul, comprado em um negócio feito com uma agência de carros que funcionava em São Bernardo.
Linho, com nome falso, era sócio do negócio de Bira. Segundo o Denarc, funcionários reconheceram as fotos dos dois.
O grupo tinha ainda uma casa de praia em Peruíbe -onde a polícia paulista prendeu a mulher do traficante Robson André da Silva, o Robinho Pinga, um dos líderes da facção criminosa Terceiro Comando (TC)- e um apartamento de frente para o mar, com dois quartos, na Praia Grande -o último endereço de Bira, de onde ele sumiu no dia 9 de fevereiro.


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