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A VÍTIMA
Letícia adquiriu comprimidos em farmácia e camelôs para abortar e teve infecção grave
"Quase tive que tirar o útero", diz estudante
DA REPORTAGEM LOCAL
No último Carnaval, a estudante Letícia (nome fictício), 18,
decidiu parar de tomar pílula
anticoncepcional porque supôs
que o remédio a deixava gorda.
Transou com o namorado sem
camisinha e engravidou.
Mãe de um bebê de um ano,
não pensou duas vezes antes de
decidir pelo aborto. Falou com
amigas e tomou uma combinação de 12 comprimidos de cibalena com chá de canela. Além de
enjôo, nada ocorreu. Era a sétima semana de gestação.
Novas consultas às amigas e
Letícia chegou até uma farmácia,
no Jabaquara (zona sul de São
Paulo), onde adquiriu cinco
comprimidos de Cytotec, a R$
150. "Fiz uma vaquinha entre as
minhas amigas. Era bem mais
caro, mas consegui um desconto." Nenhum resultado.
Voltou à farmácia e reclamou a
falta de efeito. "Consegui outros
cinco de graça", conta. Depois
de usar os comprimidos, percebeu apenas um pequeno sangramento cor-de-rosa.
Desesperada, tomou um chá e
dez comprimidos para diabetes.
"Não me importava o que poderia acontecer comigo. Só queria
me livrar daquela gravidez."
Ao começar a sentir dores na
região pélvica, recorreu à mãe,
que a levou ao ginecologista.
Após a realização de um ultra-som, o médico informou que o
embrião ainda estava no útero,
mas não apresentava batimentos cardíacos.
Auxiliada pela mãe, Letícia foi
até um camelô, também no Jabaquara, e comprou mais quatro
comprimidos. "O cara garantiu
que era "quente", do Paraguai",
afirma. Após introduzi-los na
vagina, percebeu mais um pouco de sangramento, mas não a
expulsão do embrião.
Ao voltar ao ginecologista,
soube que estava com uma grave
infecção uterina. Após a aspiração do embrião, ficou internada
durante quatro dias tomando
potentes antibióticos para controlar a infecção. "Quase tive que
tirar o útero. Foi um pesadelo."
Mas Letícia não se arrepende
de ter provocado o aborto. "Não
tinha condições de ter aquele bebê. O pai dele é uma criança e o
que ganho mal dá para sustentar
minha filha", diz ela, que cursa o
último ano do ensino médio e
trabalha como atendente em
uma lanchonete na zona sul de
São Paulo. (CC)
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