São Paulo, domingo, 29 de maio de 2005

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A VÍTIMA

Letícia adquiriu comprimidos em farmácia e camelôs para abortar e teve infecção grave

"Quase tive que tirar o útero", diz estudante

DA REPORTAGEM LOCAL

No último Carnaval, a estudante Letícia (nome fictício), 18, decidiu parar de tomar pílula anticoncepcional porque supôs que o remédio a deixava gorda. Transou com o namorado sem camisinha e engravidou.
Mãe de um bebê de um ano, não pensou duas vezes antes de decidir pelo aborto. Falou com amigas e tomou uma combinação de 12 comprimidos de cibalena com chá de canela. Além de enjôo, nada ocorreu. Era a sétima semana de gestação.
Novas consultas às amigas e Letícia chegou até uma farmácia, no Jabaquara (zona sul de São Paulo), onde adquiriu cinco comprimidos de Cytotec, a R$ 150. "Fiz uma vaquinha entre as minhas amigas. Era bem mais caro, mas consegui um desconto." Nenhum resultado.
Voltou à farmácia e reclamou a falta de efeito. "Consegui outros cinco de graça", conta. Depois de usar os comprimidos, percebeu apenas um pequeno sangramento cor-de-rosa.
Desesperada, tomou um chá e dez comprimidos para diabetes. "Não me importava o que poderia acontecer comigo. Só queria me livrar daquela gravidez."
Ao começar a sentir dores na região pélvica, recorreu à mãe, que a levou ao ginecologista. Após a realização de um ultra-som, o médico informou que o embrião ainda estava no útero, mas não apresentava batimentos cardíacos.
Auxiliada pela mãe, Letícia foi até um camelô, também no Jabaquara, e comprou mais quatro comprimidos. "O cara garantiu que era "quente", do Paraguai", afirma. Após introduzi-los na vagina, percebeu mais um pouco de sangramento, mas não a expulsão do embrião.
Ao voltar ao ginecologista, soube que estava com uma grave infecção uterina. Após a aspiração do embrião, ficou internada durante quatro dias tomando potentes antibióticos para controlar a infecção. "Quase tive que tirar o útero. Foi um pesadelo."
Mas Letícia não se arrepende de ter provocado o aborto. "Não tinha condições de ter aquele bebê. O pai dele é uma criança e o que ganho mal dá para sustentar minha filha", diz ela, que cursa o último ano do ensino médio e trabalha como atendente em uma lanchonete na zona sul de São Paulo. (CC)

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