São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

entrevista

Sistema motiva bom aluno, diz reitor da UFBA

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das propostas mais radicais de cotas até agora é o da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Há dois anos, 45% das vagas ficam com alunos da rede pública. Segundo o reitor da instituição, Naomar Monteiro de Almeida Filho, 54, não houve perda de qualidade. Estudo da universidade mostra que a nota média dos não-cotistas no processo seletivo é de 6,1, e a dos cotistas, 5,5. Leia abaixo entrevista com o reitor, defensor das cotas. (FT)  

FOLHA - Por que a UFBA decidiu implementar as cotas?
NAOMAR M. DE ALMEIDA FILHO
- Um estudo nosso em 2000 mostrou que 18 dos 60 cursos tinham menos de 20% de afro-descendentes. Assim, surgiu a proposta de corrigir a distorção, para promovermos inclusão social. O movimento negro na Bahia, muito organizado, também fez pressão intensa.

FOLHA - Críticos das cotas dizem que pode haver alunos despreparados e perda da qualidade da universidade. O que o sr. acha?
ALMEIDA FILHO
- O experimento da Bahia refuta tal idéia. A universidade não perdeu qualidade, o resultado do vestibular mostra isso. E ganhamos em diversidade cultural, que ajuda na formação.

FOLHA - Se a média da nota não caiu, por que os candidatos de escola pública não entravam antes?
ALMEIDA FILHO
- Agora entram os mais talentosos da rede pública, que não entravam por diferenças mínimas. Em segundo lugar está a motivação. Um bom aluno da escola pública, que poderia entrar em medicina, prestava farmácia porque tinha mais chances de entrar. Agora, sabendo que é competitivo, tenta o curso que quiser.

FOLHA - Outra crítica é que o papel da universidade é ajudar no desenvolvimento do país. Para isso, deve selecionar os melhores.
ALMEIDA FILHO
- Precisamos dar oportunidade aos melhores cérebros. Muita inteligência está sendo perdida, por falta de chances, para a criminalidade, o que gera o PCC [Primeiro Comando da Capital] e o Comando Vermelho. Universidades podem manter a qualidade e optar por ajudar na eqüidade ou pelo isolamento.

FOLHA - O que o senhor acha do projeto do governo federal?
ALMEIDA FILHO
- Um dos problemas é a implantação gradual. Optamos pela plena, com desativação gradual. Em dez anos, não deverá existir cotas. Se fizer gradual, o que deveria ser emergencial acaba virando permanente.


Texto Anterior: 46% dos cotistas zeram em vestibular
Próximo Texto: Para professor da USP, ajuda deve ocorrer na escola
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.