São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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entrevista

Para professor da USP, ajuda deve ocorrer na escola

DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana passada, a USP aprovou um sistema de inclusão social menos radical que o de cotas: em vez de reservar vaga, o programa dará bônus de 3% no vestibular aos alunos de escola pública. Para o presidente da comissão de pesquisa do Instituto de Matemática e Estatística da universidade, Junior Barrera, 46, esse sistema não deveria ter sido adotado. Ele defende que o aluno precisa ser ajudado antes de entrar na universidade, ainda no ensino médio, sob o risco de queda de qualidade nas instituições superiores de ponta. Leia abaixo entrevista com o docente. (FT)  

FOLHA - Por que o senhor é contrário às cotas ou às bonificações?
JUNIOR BARRERA
- A gente não pode colocar alunos despreparados na universidade. Será ruim para os dois. Os alunos não terão base para o que vai ser ensinado. E isso trará aumento da evasão e baixará a qualidade dos cursos. Não conheço alguém que se surpreenda pelo fato de que apenas meninos bons de bola sejam selecionados para jogar no infantil do Corinthians ou do São Paulo. Então, por que se surpreender que só jovens com muito talento intelectual sejam selecionados para a USP?

FOLHA - Há estudos que mostram que aluno de escola pública pode ter desempenho melhor do que o da privada na universidade.
BARRERA
- Não tenho dúvida de que na escola pública exista muita gente com potencial. Mas isso precisa ser trabalhado para virar qualidade de fato. Deveria haver uma seleção ao término do ensino fundamental para escolhermos os alunos com potencial e dar a eles bolsas em boas escolas de ensino médio, para que possam competir em igualdade de condições no vestibular. O potencial não deve ser trabalhado na universidade, que não pode fazer papel de colégio.

FOLHA - E sobre o projeto de cotas de 50% nas universidades federais?
BARRERA
- Não faz sentido. A motivação da cota é que esses alunos não conseguem disputar com as regras normais no vestibular. Então você aprovará 50% de alunos sem preparação. A universidade vai precisar dar a base que não foi dada no colégio. Respeito a intenção das pessoas que pensam no social. Mas temos de pensar na estratégia para o país. Precisamos ter universidades competitivas internacionalmente. A riqueza da nossa nação depende disso.

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