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Retirada de cérebro é feita durante autópsia; índice de recusa é de 10%
DA REPORTAGEM LOCAL
O processo de doação de cérebros começa no SVO, onde
são autopsiadas as vítimas de
mortes naturais. O familiar responde a um questionário de 14
páginas que traça um perfil do
morto. Entre as perguntas estão dados sobre a funcionalidade, a cognição, as doenças, os
hábitos, a escolaridade e o nível
socioeconômico.
Segundo o geriatra José Marcelo Farfel, o percentual médio
de recusas na doação é baixo,
em torno de 10%. "As famílias
ficam muito sensibilizadas com
a proposta de ajudar a ciência."
Foi o que aconteceu na sexta-feira com as irmãs Mara, 54, e
Elzita, 60, que doaram o cérebro da mãe, Joana, ao banco da
USP. Aos 87 anos, a idosa era
lúcida, fazia comida e cuidava
da casa onde morava na zona
rural de Mundo Novo (MS).
Mãe de nove filhos, Joana
fez, sozinha, alguns dos seus
partos. Há 15 dias, sofreu uma
queda e, como sentia muitas
dores, foi trazida para São Paulo, na casa da filha Elzita. Na
noite de quinta-feira, sofreu
uma parada cardíaca e morreu.
"Doamos porque é uma forma
de ajudar os outros", diz Mara.
Para a pesquisa, são retirados
e congelados o sangue, o líquor
-líquido que circula no cérebro e na medula e que carrega
uma série de proteínas que se
alteram em processo de doenças e do envelhecimento- e
outros fragmentos de tecido
encefálico. O restante fica guardado em formol.
Além do encéfalo, são retiradas amostras das carótidas da
região cervical, do coração e do
rim. O objetivo é estudar o
comprometimento aterosclerótico e sinais de hipertensão
arterial, situações que são fatores de risco para as demências.
Após três semanas, os tecidos
estão liberados para a pesquisa.
Lea Grinberg afirma que, depois disso, novos pedaços são
retirados de áreas específicas,
onde as doenças cerebrais se
manifestam. São feitas então
lâminas com corantes para estudos no microscópio. "Se tiver
alterações, as células ganham
cores diferentes", explica.
Para Grinberg, a meta futura
é que os estudos levem à melhoria da qualidade de vida dos
idosos e ao desenvolvimento de
drogas mais eficazes no tratamento das demências. Hoje
não existe um remédio que cure ou estacione o mal de Alzheimer. O máximo que as drogas
conseguem é deixar mais lenta
a progressão da doença.
(CC)
NA INTERNET - Leia mais sobre o
projeto de envelhecimento cerebral
http://www.fm.usp.br/pec/
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