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PASQUALE CIPRO NETO
Os "gazes" e o sujeito "fantasma" da Infraero
A mensagem começa assim: "Informa". E não se trata de uma daquelas mensagens publicitárias de antanho...
NUMA DAS VEZES em que foi
entrevistado por mim, Caetano Veloso se declarou inconformado com o fato de órgãos
públicos confeccionarem e exporem
placas, avisos, cartazes etc. com desvios sintáticos ou ortográficos elementares. Não discordo de Caetano,
não. É inadmissível que se gaste dinheiro público para propagar bobagens como "Bem-vindo à X" (em
que X é nome de cidade), "Desvio à
500 mts", "Pacaembú", "Itú" etc.
Bem, na verdade, se a sinalização
urbana e a rodoviária não cumprem nem o seu papel essencial -o
de informar e orientar motoristas e
pedestres-, é um tanto onírico esperar que as placas sejam escritas
de acordo com a norma vigente.
A querida Infraero não fica de fora. Num cartaz em que a estatal informa os itens que os viajantes não
podem levar na bagagem, lê-se a
palavra "gazes". Cheiram mal esses
"gazes". "Gás" e "gases" se grafam
com "s", quando se trata do "estado
da matéria que tem a característica
de se expandir espontaneamente,
ocupando a totalidade do recipiente que a contém" ("Houaiss") ou do
"fluido infinitamente compressível, cujo volume é o do recipiente
que o contém" ("Aurélio").
Alguém talvez pergunte por que
afirmei que "gás" e "gases" se grafam com "s" quando... O fato é que
existe "gaz" ("medida de extensão,
usada na Índia"). A Infraero decerto não terá pensado nesses gazes.
Mas o mais interessante (e intrigante) é a origem da palavra "gás".
Se puder, caro leitor, vá a um dicionário (de preferência o "Houaiss",
no caso) e veja a surpreendente relação que há entre "gás" e "caos"...
Ainda no "território" da nossa
aviação, há outro caso inquietante.
Em alguns aeroportos, as informações (de voz) sobre chegadas, partidas etc. começam com um misterioso "informa". Sim, a mensagem
começa exatamente assim: "Informa". E não se trata de nenhuma
daquelas deliciosas mensagens da
publicidade de antanho ("Informa
a Sears Roebuck: na praça da Sé,
um bonde..."). Não, caro leitor, o
sujeito de "informa" não é posposto, não, nem anteposto; é simplesmente um fantasma. Após aquele
som que funciona como alerta para
a mensagem que vem a seguir, ouve-se simplesmente isto: "Informa:
TAM, vôo 3102, com destino a São
Paulo, chamada final". Mas quem
informa? Sabe Deus!
Um belo dia, aprendemos na escola que o sujeito pode ser determinado ("A vida é a arte do encontro"), indeterminado ("Andam dizendo bobagens a seu respeito") ou
inexistente ("Há um incesto e uma
regata"), mas sujeito fantasma...
Sabe-se lá por que motivo, foi necessário cortar da mensagem gravada o sujeito original de "informa" e, feita a edição, não se colocou
nada de nada em seu lugar. O resultado é uma mensagem anônima,
acéfala, apócrifa ou sei lá o quê.
Além de fulminar o "z" dos malcheirosos "gazes" e de ressuscitar o
sujeito de "Informa", o pessoal da
Infraero poderia chegar a um acordo sobre a grafia do nome de certas
cidades (verdadeira babel em alguns casos), melhorar o tamanho
da letra e a redação das mensagens
expostas nos painéis (muitas vezes
mais claras em inglês do que em
português) e... Bem, isso é assunto
para outros colunistas. É hora de
bater a bela plumagem. É isso.
inculta@uol.com.br
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