São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PASQUALE CIPRO NETO

Os "gazes" e o sujeito "fantasma" da Infraero

A mensagem começa assim: "Informa". E não se trata de uma daquelas mensagens publicitárias de antanho...

NUMA DAS VEZES em que foi entrevistado por mim, Caetano Veloso se declarou inconformado com o fato de órgãos públicos confeccionarem e exporem placas, avisos, cartazes etc. com desvios sintáticos ou ortográficos elementares. Não discordo de Caetano, não. É inadmissível que se gaste dinheiro público para propagar bobagens como "Bem-vindo à X" (em que X é nome de cidade), "Desvio à 500 mts", "Pacaembú", "Itú" etc.
Bem, na verdade, se a sinalização urbana e a rodoviária não cumprem nem o seu papel essencial -o de informar e orientar motoristas e pedestres-, é um tanto onírico esperar que as placas sejam escritas de acordo com a norma vigente.
A querida Infraero não fica de fora. Num cartaz em que a estatal informa os itens que os viajantes não podem levar na bagagem, lê-se a palavra "gazes". Cheiram mal esses "gazes". "Gás" e "gases" se grafam com "s", quando se trata do "estado da matéria que tem a característica de se expandir espontaneamente, ocupando a totalidade do recipiente que a contém" ("Houaiss") ou do "fluido infinitamente compressível, cujo volume é o do recipiente que o contém" ("Aurélio").
Alguém talvez pergunte por que afirmei que "gás" e "gases" se grafam com "s" quando... O fato é que existe "gaz" ("medida de extensão, usada na Índia"). A Infraero decerto não terá pensado nesses gazes. Mas o mais interessante (e intrigante) é a origem da palavra "gás".
Se puder, caro leitor, vá a um dicionário (de preferência o "Houaiss", no caso) e veja a surpreendente relação que há entre "gás" e "caos"... Ainda no "território" da nossa aviação, há outro caso inquietante.
Em alguns aeroportos, as informações (de voz) sobre chegadas, partidas etc. começam com um misterioso "informa". Sim, a mensagem começa exatamente assim: "Informa". E não se trata de nenhuma daquelas deliciosas mensagens da publicidade de antanho ("Informa a Sears Roebuck: na praça da Sé, um bonde..."). Não, caro leitor, o sujeito de "informa" não é posposto, não, nem anteposto; é simplesmente um fantasma. Após aquele som que funciona como alerta para a mensagem que vem a seguir, ouve-se simplesmente isto: "Informa: TAM, vôo 3102, com destino a São Paulo, chamada final". Mas quem informa? Sabe Deus!
Um belo dia, aprendemos na escola que o sujeito pode ser determinado ("A vida é a arte do encontro"), indeterminado ("Andam dizendo bobagens a seu respeito") ou inexistente ("Há um incesto e uma regata"), mas sujeito fantasma...
Sabe-se lá por que motivo, foi necessário cortar da mensagem gravada o sujeito original de "informa" e, feita a edição, não se colocou nada de nada em seu lugar. O resultado é uma mensagem anônima, acéfala, apócrifa ou sei lá o quê.
Além de fulminar o "z" dos malcheirosos "gazes" e de ressuscitar o sujeito de "Informa", o pessoal da Infraero poderia chegar a um acordo sobre a grafia do nome de certas cidades (verdadeira babel em alguns casos), melhorar o tamanho da letra e a redação das mensagens expostas nos painéis (muitas vezes mais claras em inglês do que em português) e... Bem, isso é assunto para outros colunistas. É hora de bater a bela plumagem. É isso.


inculta@uol.com.br

Texto Anterior: Promotor defende a polícia e diz que réus ensaiaram versões
Próximo Texto: Trânsito: CET bloqueia via em São Miguel para obras na Ayrton Senna
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.