São Paulo, sexta, 29 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Programa do Ministério da Saúde fará o mapeamento genético das diferentes "espécies' do vírus em todo o país
Brasil cria rede para "caçar' HIV resistente

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

O Ministério da Saúde está criando um programa para mapear geneticamente as "espécies" de HIV -que causa a Aids- existentes no Brasil e saber qual é a taxa de resistência primária aos remédios que combatem o vírus.
Com esse trabalho, será possível saber se quem é infectado se contamina com um vírus que já não responde a certos remédios e qual é a taxa dessa resistência ao coquetel de drogas anti-Aids no país.
Além de ajudar o médico a escolher o melhor tratamento e prolongar a vida dos portadores, esse mapeamento também poderá nortear o Ministério da Saúde na hora de comprar -ou parar de comprar- os anti-retrovirais (por lei, o governo é obrigado a fornecer todos os remédios contra a Aids). "Seremos o único país do 3º Mundo a ter uma rede como essa", afirma Pedro Chequer, coordenador do programa de Aids.
O projeto já começou a analisar amostras "positivas" de sangue de pessoas que fizeram teste para detecção do vírus na rede pública de São Paulo. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já começou a fazer as análises de identificação do vírus que foi adquirido por essas pessoas. "Já estamos trabalhando nessas amostras e esperamos ter resultados em breve", afirma Ricardo Diaz, responsável pelo trabalho na Unifesp.
O ministério pretende fazer um mapeamento nacional. Em cada Estado, pesquisadores de universidades analisarão amostras de sangue de pessoas testadas na rede pública. Assim, será possível adotar diferentes estratégias médicas regionais de ataque ao vírus.
O mapeamento genético do HIV para checar resistência é hoje considerado a arma do futuro contra o vírus. O governo norte-americano está montando um megalaboratório com esse objetivo.
A explicação para isso é a grande capacidade que o HIV tem de "se esconder" dos remédios. Quando "ataca" uma pessoa, o vírus inicia -se não for controlado por um remédio- um processo intenso de multiplicação.
O coquetel de remédios inibe enzimas (transcriptase reversa e protease) que ajudam o vírus a se reproduzir e, com um exército formado, criar a infecção. A mistura de três ou mais medicamentos -chamada de coquetel- que age nessas enzimas é o melhor tratamento para a doença até hoje encontrado. Cerca de 80% dos pacientes têm a carga viral reduzida a zero na corrente sanguínea.
O problema é que, em algum momento, o vírus começa a se multiplicar e há falência de tratamento. A falência pode ser ainda maior se a terapia já começa errada -é o caso de pessoas que pegam vírus já resistentes a um certo tipo de remédio e se tratam exatamente com essa droga.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.